Por Daniel Dutra | Fotos Divulgação
Quando o assunto é death metal melódico, não raro o primeiro nome que vem à mente é a do In Flames. Mais do que um dos grandes do estilo, o quinteto sueco atualmente é um dos mais bem-sucedidos grupos do rock pesado, tendo caído no gosto dos fãs graças principalmente aos excelentes Colony (1999) e Clayman (2000). Apesar de algumas injustas críticas a Reroute to Remain (2002), a banda formada por Anders Fridén (vocais), Jesper Strömblad (guitarra), Björn Gelotte (guitarra), Peter Iwers (baixo) e Daniel Svensson (bateria) ratificou ser um dos melhores surgidos nos últimos anos. Agora, lançar seu novo álbum, Soundtrack to Your Escape, que chega às lojas brasileiras via Nuclear Blast, para ao menos manter o prestígio conquistado. Para falar do trabalho e alguma coisa a mais, no dia 12 de março batemos um papo por telefone com Svensson. Confira o que rolou.
À exceção de Borders and Shading, não tive a oportunidade de ouvir o novo álbum. Assim, a faixa em questão representa o que está em Soundtrack to Your Escape ou há alguma diferença em relação a Reroute to Remain?
Daniel Svensson: É realmente difícil imaginar um álbum tendo escutado apenas uma música, por isso posso dizer a você que Borders and Shading não representa Soundtrack to Your Escape. Nele há também músicas mais rápidas e uma canção que é uma power ballad, digamos assim. Na verdade, nós não mudamos tanto, apenas demos um passo à frente em nossa evolução desde Reroute to Remain.
Você concorda que o In Flames construiu um som único ao longo dos anos, algo que ficou ainda mais evidente desde Colony?
Daniel: Bom, acredito que toda banda tem alguma coisa única. O In Flames é um grupo muito melódico, apesar de as melodias terem sido mais orientadas pelas guitarras nos primeiros álbuns. Agora, tentamos experimentar um pouco mais, e essas melodias aparecem nos vocais ou em sons eletrônicos. Elas sempre foram uma marca registrada da banda, e certamente continuaremos assim.
Quais são suas músicas prediletas de Soundtrack to Your Escape ou mesmo aquelas que você ache que irão funcionar melhor ao vivo?
Daniel: Nós ainda não começamos a ensaiar para a turnê, mas compusemos o novo álbum imaginando como ele soaria ao vivo. Todas as músicas foram escritas para estarem em nossos shows, que são a coisa mais importante para o In Flames. Por isso nos preocupamos em ter essa vibração.
E como rolou todo o processo de composição e gravação? Houve alguma mudança em relação à bateria, por exemplo?
Daniel: Sim, nós realmente fizemos as coisas de maneira diferente desta vez. A bateria foi gravada no estúdio do Daniel Bergstrand, que produziu alguns trabalhos do Meshuggah, e todas as músicas foram gravadas numa casa enorme que alugamos na Dinamarca. Construímos dois estúdios no local e certamente criamos um som único, que não pode ser reproduzido por nenhuma outra banda. Foi uma situação de trabalho bem diferente. Também realizamos uma pré-produção mais longa em maio, quando tivemos duas semanas para fazer uma demo com dez ou 11 músicas. Isso foi importante porque nos deu a liberdade de ouvir as canções e fazer algumas mudanças antes de realmente gravar o disco.
Quando Reroute to Remain foi lançado, muitas pessoas disseram que a banda estava se aproximando do new metal. Particularmente, não concordo, e músicas como Drifter, Egonomic, Dawn of a New Day, Metaphor e a faixa-título representam o In Flames de sempre. O que você acha disso?
Daniel: (N.R.: rindo) Sinceramente, eu não dou a mínima para o que essas pessoas pensam (risos). Seja qual for o disco que lancemos, elas irão falar mal porque alcançamos um grande sucesso para uma banda de death metal. Isso é o que as incomoda. Podemos gravar um álbum bem extremo e ainda assim dirão que nos vendemos (risos). O problema não é como as músicas soam, mas o sucesso que conquistamos.
Fiz a pergunta porque a única resenha do novo trabalho que li dizia que vocês foram ainda mais fundo no new metal. Ela foi publicada numa revista brasileira, e aqui o estilo é adorado por alguns e odiados por muitos.
Daniel: Eu ainda não li muitas resenhas, mas a maioria que chegou para mim era realmente favorável. As críticas negativas vêm dos fãs mais hardcore, que dizem muita coisa ruim a nosso respeito (risos). No entanto, não posso considerar Soundtrack to Your Escape um disco de new metal. Está tão longe disso quanto Reroute to Remain está de ser mainstream. Há uma música na velha escola do death metal no novo disco, e não dá para entender como podem chamá-lo de new metal. Como disse antes, vão nos acusar de falsos não importa que tipo de música o In Flames faça hoje, como se tivéssemos vendido um milhão de discos (risos). Esse é o problema.
O new metal é bem popular nos Estados Unidos e ganhou o mundo nos últimos anos. A comparação chega a incomodá-lo?
Daniel: Infelizmente, as pessoas têm de rotular tudo. Eu não posso dizer que me recuso a ouvir new metal ou country music. Vejo a música como música, não importa o estilo. Quero saber apenas se é boa música. Há boas bandas de new metal, da mesma maneira que há algumas bem ruins. Eu não vou a uma loja atrás da seção de new metal, mas vou procurar boa música. O metal que o In Flames toca não era muito comum nos EUA, ao menos em 1999, quando começamos a fazer turnês por lá. Curiosamente, a maioria que tem falado mal é formada por fãs americanos. Não dá para entender. Nós escrevemos as músicas que queremos tocar e não podemos satisfazer cinco milhões de pessoas. Não dá para sair perguntando como cada um quer o próximo álbum do In Flames apenas para tentar agradar aos fãs. A coisa não funciona assim. Se você não gosta de um disco, não precisa comprá-lo (risos).
No meio dos anos 90, o metal melódico e estava em alta, e hoje o que vale é som mais agressivo, ainda que melódico. Isso se deve muito ao “Som de Gotemburgo”, algo que muitos atribuem ao In Flames. Você concorda?
Daniel: Sinceramente, você pode dizer que sim (risos). Mas inclua também Dark Tranquility, At the Gates e algumas outras bandas que estavam ao nosso lado quando começamos a tocar death metal no início dos anos 90. Gotemburgo é uma cidade pequena, onde todos se conhecem, onde todos já tocaram uns com os outros, como se fosse uma grande árvore genealógica (risos). Por isso os grupos têm o mesmo estilo. Foi assim que começou o “Som de Gotemburgo” que tem influenciado tanta gente. Isso realmente me deixa lisonjeado.
Voltando a Soundtrack to Your Escape, ele será lançado em versão digipack com capa diferente. Além disso, há faixas bônus ou material multimídia, por exemplo?
Daniel: Realmente serão duas capas diferentes, mas feitas pelo mesmo artista. O digipack terá uma música extra, gravada na mesma sessão do álbum e que, na verdade, é o bônus da edição japonesa. Apenas isso.
Recentemente, Anders Fridén gravou o primeiro disco do Passenger. Além disso, ele usualmente produz trabalhos de outras bandas. Você tem, atualmente, alguma atividade paralela ao In Flames?
Daniel: Bom, eu toquei numa banda chamada Sacrilege, que gravou dois discos (N.R.: Lost in the Beauty You Slay, de 1996, e The Fifth Season, 1997) por um pequeno selo em Gotemburgo. Mas nos separamos quando entrei no In Flames (N.R.: em 1998), pois eu não conseguiria me concentrar cem por cento nos dois grupos. Atualmente, estou compondo para um projeto que deve ser lançado no próximo ano. É difícil descrever como é a música, mas posso garantir que é interessante (risos). À exceção da guitarra, irei gravar todos os instrumentos.
E você já tem em mente alguns nomes de guitarristas para ajudá-lo?
Daniel: Como irei escrever tudo sozinho, provavelmente chamarei Jesper (Strömblad) e Björn (Gelotte) para gravar. É mais fácil assim, e sei que ficará bom (risos).
Já que não dá descrever o tipo de som do projeto, o que você costuma ouvir ou está ouvindo atualmente? Aliás, que bateristas e bandas serviram de inspiração para você começar a tocar?
Daniel: No início eu ouvia muito death metal extremo, basicamente a cena da Flórida (N.R.: de onde saíram grupos como Death, Deicide, Malevolent Creation, Morbid Angel e Obituary). Também costumava tocar covers do Sepultura com minha antiga banda. Músicas do Arise e do Chaos A.D., discos que estão entre os 20 melhores para mim. Sempre acompanhei o antigo Sepultura. Não tive um baterista que tenha me influenciado a esse ponto, um ídolo específico. Sempre fui inspirado por todos os músicos que considero bons.
Você citou o “antigo Sepultura”. O que acha da banda com Derrick Green (N.R.: vocalista que substituiu Max Cavalera em 1998)?
Daniel: Eu não tenho os discos com ele, apenas ouvi algumas músicas. Na verdade, não gostei tanto. Não é ruim, mas a banda não tem a vibração de antes.
O In Flames já lançou um álbum ao vivo (N.R.: Tokyo Showdown, em 2001). Há algum plano de fazer um DVD, já que o formato se tornou bastante popular?
Daniel: Sim, e há alguns anos temos falado que devemos lançar um DVD (risos). Como os fãs têm de pagar cara por um, queremos fazer algo especial. Não apenas com um show, mas também com cenas de bastidores, o que acontece no backstage e outras coisas. Muitas pessoas assistem aos nossos shows, mas não sabem o que acontece quando estamos fora do palco. O In Flames está na estrada há mais de dez anos, então realmente está na hora de termos um DVD. Não temos uma data planejada, mas posso dizer a você que no máximo em dois anos iremos lançar um, definitivamente.
A turnê começa em abril, e alguns festivais já estão agendados para junho. Como estão os preparativos?
Daniel: À exceção de um único show na Suécia, não tocamos ao vivo desde agosto de 2003 e estamos loucos para voltar às turnês! Como seremos headliners na Europa, faremos uma grande produção de palco e provavelmente teremos efeitos pirotécnicos. Tocaremos as músicas novas da melhor maneira possível, já que os fãs sempre esperam um grande show do In Flames. Eles pagam por isso, e nós damos tudo que temos para satisfazê-los. Hoje em dia é muito caro ir a shows, por isso não podemos decepcionar ninguém.
O In Flames deveria tocar no Brasil no fim de 2002. A turnê acabou sendo adiada para março do ano seguinte e depois foi cancelada. O que aconteceu?
Daniel: Sempre recebemos ofertas para ir à América do Sul, mas eu realmente não sei por que ainda tocamos no Brasil. Acredito que o adiamento foi por causa de um outro compromisso nosso, mas não lembro qual. Como são os empresários e a agência de shows que cuidam dessa parte, infelizmente nem sempre sabemos o que está acontecendo. Sentimos muito por isso, ainda mais que tocamos no México e foi muito bom. Sei que aí seria ainda melhor, mas vamos ver o que acontece no futuro.
Além do Sepultura, você conhece mais alguma coisa do Brasil?
Daniel: Apenas o Krisiun, mas sei que o público brasileiro é louco (risos). Há bandas que tocam em vários países e sempre mencionam a América do Sul como o local com os fãs mais insanos. Sempre leio isso nos jornais. Se nós damos o máximo nos shows mesmo que o público se mostre desinteressado, imagino a energia entre a plateia daí e a banda. Seria algo louco, e todos teriam uma ótima noite. Ah, sim: e também sou um grande fã de futebol! (risos)
O In Flames entrou na trilha sonora do filme “Freddy Vs, Jason” (N.R.: com a música Trigger, de Reroute to Remain), mesmo não sendo do cast da Roadrunner. Como aconteceu?
Daniel: Para ser honesto, não tenho a menor ideia! Foi na internet que descobri que estaríamos no disco! (risos) De qualquer maneira, foi bom para a banda. É legal que eles tenham gostado de nossa música, já que a nossa gravadora é bem pequena nos Estados Unidos.
No release de Soundtrack to Your Escape está escrito “Isso é In Flames. Isso é o futuro”. O novo álbum é realmente o futuro para a banda?
Daniel: Sem dúvida. Gostamos de experimentar bastante quando estamos compondo, pois não queremos nos repetir. Muitas pessoas gostariam que gravássemos um novo The Jester Race (N.R.: terceiro trabalho do In Flames, de 1996), mas não estamos interessados nisso. A cada álbum fazemos algo novo e interessante para nós mesmos. Independentemente de ser moderno ou de nunca ter sido feito antes, o processo é natural para nós, é como trabalhamos. Tentamos fazer algo diferente o tempo todo.
Obrigado pela entrevista, Daniel. O espaço final é seu.
Daniel: Sinto muito que não tenhamos ido ao Brasil em 2002 ou 2003. Tentaremos incluir o país na turnê do Soundtrack to Your Escape. Não neste ano, mas no próximo. Queremos realmente conhecê-los e tocar para vocês. Obrigado.
Entrevista publicada na edição 102 do International Magazine, em maio de 2004.