Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
Não é necessário ser um daqueles fãs que diariamente visitam os melhores sites brasileiros de heavy metal ou que mensalmente compram ao menos uma das principais revistas especializadas. Nos últimos cinco meses, o nome Thalion esteve em banners na internet e na contracapa das edições da sua publicação predileta. Assim, foi impossível ficar indiferente ao grupo paulista, que lançou seu primeiro CD, o conceitual Another Sun. Se não deu para vencer a curiosidade, se o disco não frequentou seu aparelho de som uma vez sequer, então também não houve como esconder a surpresa. Por trás de todo o forte marketing e de convidados especiais, encontra-se uma banda em busca de maturidade sob a produção impecável de Philip Colodetti (Rhapsody e Shaman), os arranjos de Miro (Aina) e os teclados de Fábio Laguna (Angra). Além disso, a soberba participação de Michael Kiske (SupaRed, ex-Helloween) também foi um achado para cinco músicos com média de idade de 19 anos.
Alexandra Liambos (vocal, 18 anos), Rodrigo Vinhas (guitarra, 19), Fábio Russo (guitarra, 21), David Shalom (baixo, 19) e Giancarlo Scairato (bateria, 20) são mais uma surpresa no cenário brasileiro, que vem mesmo dando ao mundo bandas de rock pesado de talento. No caso do Thalion, principalmente por todo o profissionalismo que o cerca, certamente uma das maiores revelações do metal nacional nos últimos três anos. No fim das contas, os elogios têm chegado com muita facilidade à banda e, claro, são muito bem-recebidos. “Ficamos felizes com esse tipo de comentário, pois sempre nos esforçamos muito e trabalhamos de maneira profissional. É gratificante poder mostrar nosso trabalho e saber que tantas pessoas acreditam em nós”, diz o principal compositor do grupo, Rodrigo Vinhas, que ressalta o papel da gravadora, da assessora de imprensa e da empresária. “Somos bem assessorados, e isso nos permite uma preocupação exclusiva com a música.”
Alexandra Liambos, que entrou no Thalion quando tinha apenas 15 anos, em 2001, ressalta que a hora é de colher os frutos, mas que apenas o primeiro passo foi dado. “A repercussão foi uma grande surpresa para nós, mas também uma recompensa a um trabalho de quase dois anos e meio. Estamos curtindo esse reconhecimento, apesar de ainda estarmos no começo.” E o resultado em Another Sun é dividido com todos aqueles, como bem lembra Rodrigo. “Foi difícil chegar a esse resultado, pois exigiu muito empenho de todos os profissionais envolvidos. O time que trabalhou no disco estava em sintonia e empenhado para que tudo desse certo.”
O álbum conta a história da menina Liv, que perde a mãe aos 6 anos. A ausência da principal referência durante sua formação acaba sendo uma metáfora, segundo Rodrigo. “Há vários paralelos com a história da minha vida e, na minha opinião, com a vida de qualquer adolescente. A perda é uma mudança muito brusca na vida da Liv, e as letras vão contando tudo de uma forma subjetiva, como ela reage à mudança, desde o momento em que perde a esperança no primeiro capítulo da história, que é Life is Poetry, e o longo caminho até recuperar seus sonhos.”
O guitarrista, aliás, explica por que a ordem das faixas não bate com a cronologia da história. “O começo é triste, e não queríamos começar o disco com uma balada. Assim, colocamos as músicas na ordem que desejávamos ouvir, mas as pessoas que quiserem acompanhar a história podem seguir a cronologia que está na contracapa do álbum.” Rodrigo compôs o disco praticamente sozinho, contando com a ajuda de Fábio Russo e de Alexandra na música e na letra de The Journey, respectivamente, e a vocalista conta como foi sua participação. “Como a história já estava pronta, e cada música é um capítulo, não entramos tanto na composição das letras. Mas acho que consegui passar para o público exatamente o que o Rodrigo tinha imaginado para The Journey. Foi uma grande experiência, e espero que no próximo disco eu tenha a oportunidade de escrever mais”, diz ela, que teve maior presença também em Follow the Way, Show Me the Answers e Life is Poetry. “Foi um pouco trabalhoso, mas bem divertido. Na verdade, eu, o Rodrigo e o Fábio Laguna escrevemos os backings e os coros das três. As melodias foram compostas mesmo pelo Rodrigo, mas na pré-produção eu e o Philip mudamos algumas partes. No geral, acho que elas se encaixaram muito bem à minha voz.”
Como nem tudo são flores, o aspecto negativo em Another Sun atende pela influência do saturado metal melódico, principalmente nas músicas mais rápidas, em que os incansáveis dois bumbos costumam roubar a inspiração das guitarras para produzir riffs. Ainda assim, Rodrigo lembra que não se preocupou em seguir determinado padrão na hora de compor. “Apenas escrevo as músicas de acordo com o que sinto, passei ou presenciei. Claro que temos de fazer algo coerente, mas acredito que não ficamos muito limitados a músicas típicas desse rótulo. É um disco de heavy metal aberto a influências diversas.”
“Não vejo o Thalion preso a algum estilo específico. Acho que em nossa música existem influências de diversos estilos, entre eles metal melódico, hard rock, metal tradicional e também muito progressivo, principalmente na cozinha”, diz Alexandra, referindo-se às partes quebradas típicas do prog metal. Ao lado da preocupação com o peso, é um dos pontos positivos de Another Sun. Rodrigo, inclusive, revela ser fã de bandas mais pesadas e extremas, como Arch Enemy, In Flames, Soilwork e Children of Bodom. “Acredito que o heavy metal esteja se misturando novamente, e esse lance de rótulos logo vai cair, porque o estilo ganhará mais força como uma unidade. Essas bandas mais pesadas estão usando coisas mais melódicas, e as bandas mais melódicas, como nós, por exemplo, estão ficando cada vez mais pesadas”, diz o guitarrista. “Nos últimos anos, as bandas de metal melódico e as bandas de metal em geral têm se tornado mais agressivas. É uma evolução natural, e vejo isso de forma positiva”, completa Alexandra.
Falando do próprio trabalho, os dois músicos revelam suas favoritas. “Another Sun, Follow the Way e The Encounter”, afirma o guitarrista. “Eu gosto muito de Wait for Tomorrow, porque que se encaixa perfeitamente à minha voz; The Journey, que tem um estilo mais parecido com meu gosto pessoal; e The Encounter, por ser um pouco mais complexa, além de eu ter tido a chance de cantar com o Michael Kiske”, diz a vocalista. E chegamos assim a um dos pontos altos de Another Sun, o dueto de Alexandra com Kiske. “Foi muito legal o Kiske ter gostado da música e aceitado nosso convite. Além disso, o Andre (Matos, vocalista do Shaman) também vai participar, cantando a faixa bônus que será lançada na versão japonesa do álbum. Eu tinha outras pessoas em mente, mas as primeiras opções sempre foram os dois”, conta Rodrigo. Já Alexandra não esconde a felicidade por ter feito um trabalho com um dos melhores vocalistas de todos os tempos, e ainda revela alguns desejos. “Foi uma honra poder cantar com o Kiske, que sempre foi um grande ídolo. Se eu tivesse a chance, gostaria também de cantar uma música com Jørn Lande (Masterplan), David Coverdale (Whitesnake) ou Bruce Dickinson (Iron Maiden).”
Já fazendo shows pelo Brasil – o Thalion abriu para o Primal Fear em São Paulo e Belo Horizonte, fez algumas apresentações com o Shaman e toca no Rio de Janeiro no dia 20 de agosto, no Ballroom –, os dois dão o recado final. “Gostaria de agradecer a todos que acompanharam esta entrevista. Um abraço! Nos vemos na turnê!”, diz Rodrigo. “Muito obrigada pelo convite e pelo espaço. Espero ver todos os fãs do Thalion nos shows! Um grande beijo”, finaliza Alexandra.
Entrevista publicada na edição 104 do International Magazine, em juho de 2004.