Alice Cooper – The Eyes of Alice Cooper

Spitfire Records | Importado | 2003

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Alice Cooper – The Eyes of Alice Cooper

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Talvez você não tenha a menor ideia de quem seja Vincent Damon Furnier, mas certamente conhece Alice Cooper. Aos 55 anos, quase 40 de carreira, o pai do “rock horror show” não perde tempo desde que reencontrou o caminho do bom e velho rock’n’roll no meio dos anos 90. Sim, porque Tia Alice não escapou de alguns trabalhos mais comerciais nos anos 80 – Raise Your Fist and Yell (1987) e Trash (1989) –, mas o responsável por clássicos como Killer (1971), School’s Out (1972) e Billion Dollar Babies (1973) não poderia ter esquecido como ser old school.

The Last Temptation (1994) foi uma tentativa tímida, mas ainda assim preparou o terreno para que Alice Cooper voltasse a encher os olhos de quem curte aquela fase da década de 70. O primeiro capítulo atende pelo nome de Brutal Planet (2000), que rendeu no mesmo ano o excelente DVD Brutally Live, registro de uma apresentação no Hammersmith Apollo, em Londres, Inglaterra (em tempo: o vídeo foi relançado em novembro, numa edição especial que inclui também o CD duplo do show).


No ano seguinte, DragonTown chegou às lojas, e com ele Alice finalizou a trilogia iniciada com a bela Only Women Bleed, de Welcome to My Nightmare (1975) – outro clássico, diga-se de passagem. Every Woman Has a Name encerra a ode à força das mulheres cuja segunda parte, em Brutal Planet, ganhou o nome de Take it Like a Woman. Prestígio reconquistado e som renovado, o passo mais recente foi dado com The Eyes of Alice Cooper, um dos melhores discos de rock de 2003.

O novo álbum – “gravado praticamente ao vivo”, segundo o press release – é espontâneo do início ao fim, com 13 músicas simplesmente irresistíveis. A receita não é complicada: riffs muito bem construídos, refrãos empolgantes, solos de guitarra esbanjando feeling – para a felicidade quase geral, nenhum com milhões de notas por segundo – e uma banda de primeira linha, garantindo o resultado orgânico das canções: Eric Singer (bateria), Chuck Garric (baixo) e os guitarristas Eric Dover e Ryan Roxie, além do tecladista convidado Teddy “ZigZag” Andreadis.

What Do You Want from Me? abre o CD em clima de festa, deixando espaço para o vigor de Between High School & Old School e Man of the Year, esta última com uma saudável dose de punk rock. A trinca é arrasadora e já faz valer cada centavo gasto, mas seria injustiça não mencionar Spirit Rebellius, as nervosas I’m So Angry e Backyard Brawl e a participação de Wayne Kramer, guitarrista do legendário MC5, em Detroit City.


Menos pesado e agressivo que os dois discos anteriores, principalmente Brutal Planet, The Eyes of Alice Cooper tem espaço para Novocaine e Love Should Never Feel Like This, deliciosamente comerciais e uma amostra de como o hard rock pode ser acessível sem abrir mão da qualidade (fazendo ou não uso do laquê e das calças de oncinha). Méritos para Dover e Roxie, que compuseram todas as músicas com Alice (Detroit City ainda tem Garric como coautor) e, apesar de mais novos que o chefe, não fugiram à proposta de fazer um disco de rock puro e simples.

The Eyes of Alice Cooper é um resgate ao som dos anos 70 ao mesmo tempo em que soa absolutamente atual, seja na balada Be With You Awhile (enriquecida com um esperto Fender Rhodes) ou no arranjo de metais de Scott Gilman em Bye Bye, Baby. Talvez seja um choque para quem acha que o rock recomeçou com The Strokes, mas é uma bênção para aqueles que, com a paciência necessária às novidades, não deixam de enxergar o óbvio: não se faz mais rock como antigamente. Saudosismo alimentado por This House is Haunted e a excelente The Song That Didn’t Rhyme. Ouvir The Eyes of Alice Cooper traz aquela vontade de tocar guitarra imaginária, sabe como é?


Resenha publicada na edição 99 do International Magazine, em dezembro de 2003.