Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
A primeira coisa a fazer depois de ouvir Hunters and Prey é lamentar o fato de o novo trabalho do Angra ser um miniálbum. Sim, porque o gosto de quero mais é inevitável. No entanto, é um prazer ratificar de vez que Edu Falaschi (vocal), Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt (guitarras), Felipe Andreoli (baixo) e Aquiles Priester (bateria) mantêm o alto nível de Rebirth, o ponto de partida da “nova” formação da banda. Melhor ainda que as surpresas se fazem presente de forma mais do que convincente.
O disco abre com Live and Learn, a tradicional faixa mais rápida e que tem tudo para virar um clássico instantâneo entre os fãs, com um trabalho impecável de guitarras. Traz a qualidade de sempre, mas até aí nada de novo. É a partir de Bleeding Heart que as coisas começam a ficar muito interessantes. A música, apesar de ter saído com bônus de Rebirth no Japão, é uma balada como o Angra há muito não faz. Na verdade, desde Reaching Horizons, que saiu no EP Freedom Call, de 1996, mas é do início dos anos 90 e deu nome à primeira demo tape do grupo.
Com a excelente faixa-título o jogo já está ganho. Hunters and Prey conta com arranjos elaborados e várias doses de música regional do Brasil – principalmente do Nordeste, como o baião –, enaltecendo ainda mais o excepcional trabalho de Priester e as belas linhas de baixo de Andreoli. A música ainda ganhou uma versão em português, Caça e Caçador, que surpreende pela boa adaptação da letra ao ritmo. Eyes of Christ vem logo em seguida e mostra uma faceta inédita do Angra, um som mais hard e que remete aos dois primeiros discos de Ronnie James Dio, Holy Diver e The Last in Line. E dá-lhe mais uma excelente performance de Edu.
Rebirth e Heroes of Sand (por que não também Millennium Sun?) aparecem em belíssimas versões acústicas. Mama, cover do Genesis, completa o disco apresentando uma versão bem fiel à original. Como bônus, uma faixa interativa com screensaver, wallpapers, muitas fotos e o videoclipe da música Rebirth. Enfim, desde já Hunters and Prey é candidato a um dos melhores CDs de 2002, provando o porquê de o Angra ser considerado por muitos a melhor banda de metal melódico do mundo, por mais que existam várias do estilo em cada esquina dos países europeus.
Um show para o Rio de Janeiro ver e aplaudir
Dando sequência aos shows que já foram parar na Europa e na Ásia, o Angra chegou ao Rio de Janeiro pela segunda vez desde o lançamento de Rebirth – sétimo show na cidade desde 1992. No dia 20 de julho, mais de 2.500 fãs – recorde da banda em palcos cariocas – compareceram ao Clube Aliados Campestre, em Campo Grande, Zona Oeste da cidade, e assistiram a um show com poucas mudanças em relação ao de dezembro do ano passado, no falecido Garden Hall.
De novidade, a esperada inclusão de Hunters and Prey e as belas versões de Reaching Horizons, apenas com Rafael Bittencourt no violão e voz, e Bleeding Heart, com Edu Falaschi cantando acompanhado por Kiko Loureiro nos teclados. Fora isso, o de sempre. O público com as músicas novas na ponta da língua, a desnecessária Metal Icarus (do erro chamado Fireworks) e o fim apoteótico com Nothing to Say e Carry on, além de The Number of the Beast, o cover da vez do Iron Maiden.
Mais do que o show corretíssimo e empolgante, as constatações de sempre. É uma pena que Loureiro, guitarrista de extremo bom gosto e técnica invejável, não acompanhe o pique dos outros membros da banda (foi constrangedora sua falta de ânimo ao apresentar Falaschi). Enquanto isso, Rafael Bittencourt, corretamente apresentado como maestro; Aquiles Priester, mais uma vez inacreditável; Felipe Andreoli, matando a pau com o baixo de seis cordas; e Falaschi, cantando muito e bem mais à vontade, mostraram como se faz.
No mais, que o sucesso do show faça com que a Hora Alternativa, produtora do evento, traga mais bandas para tocar no Rio, que está à beira da falência no que diz respeito ao heavy metal. Ironicamente, ficou provado que há e sempre houve público na cidade, mas que os bangers cariocas colaborem e façam da elogiável iniciativa dos novos promotores algo frequente.
Resenha publicada na edição 86 do International Magazine, em agosto de 2002. Aqui, a análise do disco veio acompanhada de um relato sobre o show de lançamento. Breve e sem fotos.