Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
Cinco anos separaram These Days (1996) de Crush (2001), um passado que se torna distante quando nos deparamos com o novo trabalhado do Bon Jovi, Bounce. E olha que o grupo lançou ano passado seu primeiro álbum ao vivo, One Wild Night. Assim, não parece que faz pouco tempo que Jon Bon Jovi aproveitou o tal hiato para lançar Destination Anywhere (1997), fazer nascer o filme tendo o CD como tema e ainda passar um tempo em Hollywood atuando em filmes que, sinceramente, não merecem muita atenção.
O guitarrista Richie Sambora foi menos ambicioso e soltou apenas seu segundo disco longe da banda, o ótimo Undiscovered Soul (1998). Os outros integrantes… Bom, fiquemos apenas com quem assina as composições. Mas e daí? Para alegria dos fãs – principalmente das fãs – o Bon Jovi está de volta… E dessa vez nem demorou muito. Décimo disco da carreira – incluindo também a coletânea Crossroads –, Bounce não decepciona, mas sua chegada às lojas pode encontrar razão nos atentados terroristas de 11 de setembro.
O conteúdo não é tão explícito como The Rising, recente trabalho de Bruce Springsteen que, segundo o próprio, não existiria não fossem as vítimas do World Trade Center, do Pentágono e do avião que (teoricamente) teria a Casa Branca como alvo. As coincidências ficam mesmo nas referências e no fato de ambos os artistas residirem em Nova Jersey, estado-subúrbio de Nova York. Em Bounce, o dia de horror é lembrado com mensagens positivas em músicas como The Distance, a faixa-título e Undivided, canção que abre o CD.
No impacto inicial não há lugar para meio termo. Da primeira estrofe (“Aquele era meu irmão perdido nos escombros / Aquela era minha irmã perdida no choque / Aquelas eram nossas mães, nossas crianças / Eram nossos pais, eram cada um de nós”) ao refrão (“Um pelo amor / Um pela verdade / Um por mim / Um por você / Onde antes estávamos divididos / Agora nos erguemos unidos / Como um só…”), respira-se uma ode ao sentimento americano. O discurso objetivo para aí, e o que encontramos no restante do álbum é aquilo que a banda faz de maneira absolutamente eficiente: rock de arena com qualidade da primeira à última nota.
Claro, se o ouvinte se despir de preconceitos terá em mãos um ótimo disco de rock. Everyday, primeiro single, mostra o talento de Jon Bon Jovi, inegavelmente um bom vocalista, e Sambora, um guitarrista de mão cheia. A fórmula é enxuta, com refrão grudento e peso na medida certa. Mas nem comemore muito, pois as baladas não foram esquecidas, e são quatro em 12 músicas. À exceção de You Had Me from Hello, intimista e realmente bonita, não fariam falta. Mas quem o grupo – que ainda tem Tico Torres (bateria), David Bryan (teclado) e Hugh McDonald (o baixista que grava, faz os shows e nunca aparece nas fotos promocionais) – tentaria enganar depois de quase 20 anos de estrada? Enfim, as meninas vão adorar.
Por outro lado, Joey, Misunderstood e Hook Me Up (lembrando o The Cult da fase Sonic Temple no refrão) se juntam às já citadas Undivided, Everyday e Bounce para fazer a balança pender a favor da banda. Na verdade, nem é necessário muito esforço. O showcase realizado em outubro, para o Fantástico, da Rede Globo, é a prova concreta. Cinco músicas – You Give Love a Bad Name, Misunderstood, Everyday, Bounce e It’s My Life, as três últimas em dose dupla – e muita, muita histeria.
Em tempo: a Universal coloca o disco no mercado com um atrativo a mais na luta contra a pirataria. Antes mesmo de adotar a proteção contra cópias, a gravadora achou uma boa estratégia para fazer com que o público compre o CD original. Cada unidade de Bounce vem com um número diferente que possibilita ao fã associar-se gratuitamente ao American XS, clube que traz uma série de benefícios exclusivos. Pois é, quem disse que numerar é inviável? A ideia é ótima, e Lobão deve estar rindo.
Resenha publicada na edição 89 do International Magazine, em novembro de 2002.