Hannibal

Mudança em busca do merecido sucesso: com músicos de renome no cenário brasileiro, banda deixa de ser Infierno para alçar voos mais altos

Foto: Divulgação

Hannibal

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

O Infierno não existe mais. Depois de lançar seu primeiro e ótimo CD homônimo, abrir a turnê brasileira do Sepultura e ser um dos destaques do Abril Pro Rock em 2001, a banda formada por Henrique Zumpichiatti (vocal), Denner Campolina (baixo), André Moraes (guitarra) e Alex Fonseca (bateria) entra numa nova fase. Sob o nome Hannibal, o som perdeu peso, mas manteve a qualidade, e consequentemente o momento é ideal para que venha o sucesso e o reconhecimento. Uma resposta ao preconceito que cercou o grupo, começando com o contrato assinado com a Seven Music, distribuído pela Sony, para o lançamento de duas músicas, Contato e a nova Estrangeiro, numa coletânea.

“O nome era um problema à parte, mas nós mesmos já queríamos a mudança. Gente muito importante no cenário havia falado que não chegaríamos a lugar algum se continuássemos como Infierno, ficaríamos sempre no underground”, disse André em entrevista no início de julho, quando a banda estava quase adotando o nome Insomnia. “Quando começamos, a ideia era ter algo associado a tecnologia e modernidade do nosso som. Pensávamos que a música seria o mais importante, mas aconteceu o contrário. Todos os paradigmas referentes a inferno ganharam mais destaque. Teve gente que pensou que a banda era de black metal”, completou Henrique.

Além do nome, outra polêmica que envolvia o grupo era a constante associação ao new metal, estilo adorado e detestado com a mesma intensidade pelos fãs de heavy metal. “Isso só incomodava a partir do momento em que rolava preconceito, porque existe mesmo, principalmente em São Paulo”, diz Denner, referindo-se ao estado que mais consome rock pesado no Brasil. “Eu fiquei surpreso quando soube que não tínhamos entrada lá, pois sempre fomos bem recebidos quando tocamos na cidade”.

André mostra que também não se preocupava com o rótulo. “Nós não somos uma banda de metal. Temos uma bagagem musical não apenas de música pesada. Todos têm experiência em outras frentes, por isso há uma união de estilos”, diz o músico responsável por trilhas sonoras como as dos filmes “Avassaladores” e “No Coração dos Deuses”, este com a participação de Andreas Kisser e Igor Cavalera, do Sepultura, e Mike Patton, ex-Faith No More. Além disso, Denner é contrabaixista do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, além de já ter gravado com Legião Urbana e o próprio Sepultura, entre outros; e o exímio e respeitado batera Alex já acompanhou Pepeu Gomes e Lobão, por exemplo, além de ter feito parte do excelente Cheiro de Vida.


A justificada segurança que a banda tem em seu trabalho é mostrada quando o assunto é a aliviada no som. “Nós somos músicos, queremos ganhar a vida fazendo música, atingir o maior número possível de pessoas. Mas isso não significa que vamos nos vender na intenção de ficarmos milionários da noite para o dia“, diz Henrique. “Se vender é tocar pagode. Nada contra o estilo, mas é o caminho mais fácil para o sucesso”, provoca André, entre risos e aprovação de todos.

“Imagine se o Los Hermanos tivesse sempre de gravar uma nova Ana Júlia. As pessoas criam expectativas, mas o músico precisa de liberdade para criar”, Denner dá o exemplo. “O que nós fizemos antes saiu naturalmente, assim como agora. Há músicas que lembram o Infierno (N.R.: Gol e Rumba), assim como outras são mais acessíveis (N.R.: Estrangeiro e a excelente Eu Não Sei)”.

As mudanças, no entanto, foram mesmo por causa do mercado. “A pior nota que recebemos foi o 7,5 da Rock Brigade, que é uma revista conservadora. O jornal O Globo nos deus quatro dos cinco quadradinhos, e fomos eleitos pelo GloboNews.com (N.R.: na editoria Diversão & Arte) como banda revelação do ano passado”, lembra André. “Tanto que faremos uma versão em inglês do primeiro disco. Foi uma ideia que eu passei ao Carlos Trilha e ao Fernando Morello, nossos produtores, porque eles têm um caminho para mandar o trabalho para o exterior”, finaliza Denner, comprovando que qualidade não faltava ao Infierno. Qualidade esta que agora está a serviço do Hannibal.

Entrevista originalmente publicada na edição 86 do International Magazine, em agosto de 2002.