Epica

A ascensão continua: Simone Simons relembra primeiros shows do Epica no Brasil e fala da expectativa para a maior turnê da banda no país

Foto: Tim Tronckoe/Divulgação

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Por Daniel Dutra | Fotos: Tim Tronckoe/Divulgação

É tão certo quanto os arranjos orquestrais em suas músicas: desde a turnê de Consign to Oblivion que o Epica bate ponto no Brasil para promover todo e qualquer álbum de estúdio que lance. Da primeira vez, em dezembro de 2005, até o giro que começa no início de março, o currículo terá nada menos que sete passagens pelo país – incluindo até mesmo uma edição do Epica Metal Fest, em 2016. Desta vez, a relação de amor com os fãs brasileiros resultou na maior turnê da banda holandesa por aqui, com nada menos do que oito shows: Belo Horizonte (09/03), São Paulo (10/03), Rio de Janeiro (11/03), Porto Alegre (13/03), Curitiba (14/03), Manaus (16/03), Fortaleza (17/03) e Recife (18/03). Simone Simons (vocal), Mark Jansen (guitarra e vocais), Isaac Delahaye (guitarra), Rob van der Loo (baixo), Coen Janssen (teclados) e Ariën van Weesenbeek (bateria) levam para mais fãs a The Ultimate Principle Tour – baseada em seu trabalho mais recente, The Holographic Principle (2016), que rendeu o EP The Solace System (2017) –, e nós levamos até você algumas palavras de Simone sobre isso e mais um pouco. Boa leitura.

A relação do Epica com o Brasil começou a ser construída em 2005, e a banda nunca mais parou de vir aqui. Há uma conexão, obviamente, mas o que a torna especial para você?
Simone Simons: Vamos ao Brasil praticamente desde o começo da banda, e o mais legal é que os fãs sempre foram loucos pelo Epica. Posso dizer que foi um choque cultural para nós quando fomos pela primeira vez, porque os brasileiros são muito apaixonados, gostam do contato com os ídolos, e os holandeses são um pouco diferentes (risos). Havia fãs nos esperando em aeroportos, o que foi surreal para nós. Os brasileiros nos amam, e nós também os amamos, por isso fico feliz por poder voltar sempre. Fico ainda mais feliz porque desta vez vamos fazer uma turnê ainda maior.

Sobre essa paixão, lembro-me da primeira vez que o Epica tocou no Rio de Janeiro. Acompanhei a banda como assessor de imprensa do produtor local e, apesar de o Kamelot ser o headliner, o público foi insano no show. Vocês estavam nas nuvens depois da apresentação…
Simone: (rindo) Sim, é verdade! Foi em 2005, mas acredito que tocamos no Brasil antes disso, não?

Na verdade, não. Foi a primeira turnê do Epica no país, e não dá para esquecer o público cantando Cry for the Moon de maneira ensurdecedora…
Simone: Você tem razão, porque fomos com o Kamelot para uma turnê conjunta. Faz muito tempo, mas lembro-me bem. Meu marido toca no Kamelot (N.R.: o tecladista Oliver Palotai), então foi uma viagem especial para mim. Cantei The Haunting (Somewhere in Time) com o Roy Khan no show do Kamelot, que era tipo a minha segunda banda à época. E foi exatamente nesta primeira vez que vimos como os fãs brasileiros são devotados ao Epica, porque a recepção que tivemos foi inacreditável. Como você bem lembrou, Cry for the Moon foi um momento impressionante do show. Definitivamente, o Brasil é um belo país com pessoas bonitas, e somos afortunados por ter uma base de fãs tão sólida aí. Não tem como não ser feliz ao ter esse carinho dos brasileiros (risos).

Mas o Epica fez por onde, também. Foram quatro cidades logo na primeira turnê de uma banda que tinha apenas três anos de idade. Antes, você e Coen ainda se apresentaram num programa de TV para promover os shows.
Simone: É verdade! Lembro-me disso! Programa do Jô, certo?

Exatamente. Foram duas músicas, Solitary Ground e Linger.
Simone: E também lembro que estávamos bem nervosos (risos). Não gostamos muito de tocar em programas de TV, porque saber que milhares de pessoas estão assistindo só ajuda a aumentar o nervosismo (risos).


Você mesma lembrou que esta turnê em 2018 será a maior no Brasil, e ela inclui três cidades onde o Epica nunca esteve, Manaus, Fortaleza e Recife. Ou seja, a banda continua crescendo no país.
Simone: Isso é incrível. Costumamos ir para Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba, e posso dizer que as minhas cidades favoritas são Rio, porque tem praias e eu adoro praia (risos), e São Paulo, porque sempre vamos para lá. Manaus, Fortaleza e Recife são territórios desconhecidos para nós, então estou curiosa para ver como serão os shows. Uma coisa é certa: depois dessa turnê talvez eu seja capaz de falar um pouco de português (risos).

Como a banda levou o Epica Metal Fest para São Paulo em 2016, haverá alguma mudança nos shows desta vez?
Simone: Creio que não, mas serão os melhores shows do Epica, porque será uma turnê de headliner. A energia da banda no palco é sempre no nível máximo, mas tocaremos por uma hora e meia, então o setlist será maior. Além disso, haverá pacotes VIP de ‘meet and greet’, ou seja, poderemos interagir com alguns fãs antes dos shows. Ah, e vamos beber muitas caipirinhas! (risos)

Um mês depois da turnê no Brasil, o Epica fará uma apresentação especial em casa (N.R.: dia 14 de abril, em Tilburg) para celebrar a marca de mil shows na carreira. Vocês vão gravar para lançar em DVD, como Retrospect (N.R.: ao vivo da noite comemorativa de dez anos de banda)?
Simone: Não vamos gravar todo o show, talvez apenas partes dele. O planejamento para gravar um show e lançá-lo em DVD não pode incluir um festival, porque será um dia longo e, honestamente, o público estará cansado quando subirmos ao palco. Lembro-me das vezes que tocamos no Metal Female Voices Fest (N.R.: festival na Bélgica que teve edições de 2003 a 2016, e o Epica participou em 2003, 2004, 2005, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2012), porque começava às onze horas da manhã. Quando o headliner começava o seu show, os fãs já estavam fisicamente esgotados. Mas o evento em Tilburg será especial, porque Lacuna Coil, Myrkur, Mayan, Oceans of Slumber e Nightmare serão nossos convidados, e o mais interessante é que antes o Myrkur abrirá nossos shows na turnê pelo Reino Unido (N.R.: seis datas, entre 6 e 13 de abril). Nunca havia ouvido falar dela (N.R.: Simone refere-se à vocalista Amalie Bruun, mentora do Myrkur), mas todos dizem que é muito talentosa, uma revelação, então estou curiosa para vê-la ao vivo. Bom, preciso pesquisar um pouco mais, pois tudo que sei é que ela é dinamarquesa (risos). Enfim, será um minifestival no qual seremos a atração principal e teremos alguns convidados especiais, e fico particularmente feliz porque o Lacuna Coil vai participar.

Ah, sim. As redes sociais mostram que você e Cristina Scabbia têm um bom relacionamento.
Simone: (rindo). É verdade. Cristina e eu somos grandes amigas.


O Epica mal lançou The Solace System e já soltou um novo EP, Epica vs. Attack on Titan Songs, mas este é algo completamente diferente para a banda (N.R.: A banda fez versões heavy metal das músicas de abertura do anime Attack on Titan – no original, Shingeki no Kyojin). O que você pode falar sobre ele?
Simone: O compositor do tema principal do desenho, não os criadores da série, é um grande fã do Epica, então entrou em contato conosco há algum tempo para fazer o convite. Devo admitir que não sou muito fã de animes ou mangás, mas lembro-me que nossa primeira ida ao Japão foi como se estivéssemos realizando um sonho (N.R.: em 2003). Achamos que seria legal fazer o EP porque sairíamos da nossa zona de conforto, então sentamos para assistir à série e fazer algumas pesquisas, depois adaptamos as letras para o inglês e fomos gravar com o Joost van den Broek, que produziu nossos álbuns mais recentes (N.R. The Quantum Enigma, de 2014, e The Holographic Principle). E foi muito divertido. Aquelas músicas são rápidas demais, então tivemos de desacelerá-las um pouco porque, caso contrário, não conseguiríamos tocá-las (risos). Particularmente, fiquei muito feliz porque minhas performances naquelas canções estão entre as melhores que já fiz. Aliás, hoje é o dia oficial do lançamento do EP (N.R.: a entrevista foi realizada em 20 de dezembro).

Sim, e tentei escutá-lo antes desta entrevista, mas ainda não está disponível no Spotify.
Simone: Eu sei, porque fui checar pela manhã e também não encontrei (risos). Mas pelo menos eu tenho as músicas no meu computador (risos).

Falando em internet, você é bem ativa nas redes sociais, e o interessante é que o foco são dicas de maquiagem e fotografia, por exemplo. Até a minha esposa segue você, e fico imaginando quantas pessoas não sabem que se trata de uma vocalista numa banda de heavy metal…
Simone: (rindo) Ah, é verdade que sou ‘heavy user’ de Instagram e Twitter, meus canais principais. Não gosto do Facebook, que é linkado ao meu Instagram. Ou seja, o que entra são as fotos que posto no Instagram, porque não costumo abrir o Facebook para ficar lendo o que está lá. A razão de eu gostar mais de Instagram e Twitter não é apenas porque são compactos, mas porque nas duas há mais coisas positivas do que negativas. Claro, eu curto mensagens mais curtas e adoro fotos, então sempre que estou com vontade escrevo alguma coisa e promovo meu trabalho como fotógrafa. Como não sou de falar ou ler muito, então é legal fazer um Q&A (N.R.: perguntas e respostas) no Twitter ou um Live no Instagram. Faço quando tenho vontade, e os fãs dizem que gostam. Apenas tenho que estar no clima, porque ser for planejado acaba não funcionando direito. Tem que ser espontâneo, mas é uma boa maneira de interagir com os fãs. Conheci muitos que me seguem nas redes sociais e depois vão aos shows, então vira uma família Epica (risos). Apesar de eu vestir muitas roupas pretas, vários não sabem que sou uma cantora de heavy metal (risos). Tem a história de um fã que, por causa das minhas postagens, achou que eu cantava música country (risos). No fim das contas, considero-me uma artista mais do que uma musicista, porque gosto bastante de arte. Moda, maquiagens, fotografia e coisas bem visuais.


A jornada do Epica já dura 16 anos, e no início você era uma adolescente à frente de uma banda de heavy metal. Hoje o Epica é uma referência no estilo, e você, uma das vocalistas mais respeitadas do estilo e também mãe. Já se pegou pensando em como a sua vida mudou?
Simone: Na verdade, não, e agora que você falou… É incrível, realmente. O Epica é muito bem-sucedido, e as pessoas adoram o que fazemos, mas no fim do dia eu sou mãe, como você bem lembrou, e também esposa (risos). Tenho uma casa para cuidar, então preciso cozinhar, fazer limpeza e todas as coisas comuns que todo mundo faz. A diferença é que quando estou no palco todos estão olhando para mim, então é um contraste muito forte. Desde que me tornei mãe o mundo ficou diferente para mim. Levo o meu filho (N.R.: Vincent Palotai, de quatro anos) para a escola e para praticar esportes, depois vou pegá-lo, à noite o coloco para dormir… É o lado contrário do rock’n’roll (risos). Tenho dois mundos, amo ambos da mesma maneira e sinto-me afortunada pelo Epica continuar crescendo e indo tão bem. Nós trabalhamos muito duro, mas temos fãs realmente leais, e é mesmo incrível perceber que já são quase 17 anos de banda. O tempo passa rápido demais.

Mas você e o Epica ainda têm muito pela frente, então o que você ainda sonha alcançar?
Simone: Como artista, há algumas pessoas com as quais eu gostaria de trabalhar, mas num material solo. Talvez cantar num filme, fazendo a trilha sonora dele. No lado pessoal, gostaria de ter uma casa algum dia (risos). Tenho um apartamento, mas a cidade onde moramos (N.R.: Stuttgart, na Alemanha) é muito cara. Temos família, amigos e escola em nossa região, mas não quero morar aqui por muito tempo, só que gostaria de ficar próxima de Stuttgart também pela facilidade de ir ao aeroporto ou à estação de trem. Porque não dá para ir morar no meio do nada (risos). Resumindo, trabalhar com alguns artistas fora do Epica, gravar a trilha sonora de um filme e ter a minha própria casa (risos).

Clique aqui para acessar a entrevista original no site da Roadie Crew.