James LaBrie: vida além do Dream Theater

Com erros e acertos, vocalista empresta o nome de peso aos discos de Frameshift e Tim Donahue

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James LaBrie: vida além do Dream Theater

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação e Reprodução

O vocalista do Dream Theater, James LaBrie, é tão incansável quanto seus companheiros e, assim como eles, apesar de tecnicamente ser o nome menos expressivo da banda, tem feito trabalhos paralelos melhores que os últimos discos do quinteto – vide o fraco Train of Thought (clique aqui para ler a resenha). Enquanto não lança o terceiro CD do Mullmuzzzler, LaBrie vem participando de álbuns de outros artistas e, assim, faz com que eles chamem atenção justamente por isso. Como o primeiro disco do Frameshift, Unweaving the Rainbow, e o terceiro do guitarrista Tim Donahue, Madmen and Sinners.

Pontos fracos expostos no Frameshift

Ao mesmo tempo em que é o principal atrativo de Unweaving the Rainbow, LaBrie consegue despejar todos os aspectos negativos de sua voz e interpretação no projeto capitaneado pelo multi-instrumentista Henning Pauly, que assumiu quase todas as guitarras, baixos e teclados – Nick Guadagnoli (guitarra e baixo) e Shawn Gordon (teclados) aparecem vez ou outra – e também contou com a ajuda do eficiente batera Eddie Marvin. O Frameshift aposta na fusão entre o heavy metal e o rock progressivo, mas é menos pesado que a maioria dos grupos de prog metal, apesar de não escapar da linha conceitual – as letras são baseadas nos livros de Richard Dawkins, que segue os passos do cientista inglês Charles Darwin (1809-1882) e sua Teoria da Evolução pela seleção natural.


Tudo muito legal, mas pena que quase vai por água abaixo com o vocalista. Above the Grass – Part 1 abre o CD a violão e voz, mas LaBrie irrita ao soar como o ex-RPM Paulo Ricardo. Claro, isso não é um elogio. Como não é toda hora que isso acontece, vale escutar Nice Guys Finish First, que tem numa levada contagiante e backing vocals à la Queen; Off the Ground, com ótima linha de baixo e um quê de Marillion; e a excelente Arms Races, canção menos acessível do CD: instrumental perfeito e muitas mudanças de tempo.

Peso de Madmen and Sinners leva vantagem

Tim Donahue, por sua vez, só precisou mesmo de LaBrie e do extraordinário baterista Mike Mangini (ex-Extreme, Steve Vai e Annihilator). Ou seja, tomou conta de todo o restante, puxou mais para o lado heavy metal das coisa e fez um excelente disco. Não poderia ser diferente com uma música de abertura como a pesada Million Miles, com um ótimo trabalho de Mangini nos dois bumbos e a prova de que, apesar de virtuoso, Donahue não fez um disco para guitarristas.


Os solos em My Heart Bleeds (ótimos riffs, é bom ressaltar) e Feel My Pain são muito bons, porém curtos. Donahue só foi mesmo mostrar mais trabalho na excelente faixa-título, mas ainda assim abusando dos efeitos em detrimento das muitas notas por segundo. Ponto para ele, mas há outros detalhes relevantes em Madmen and Sinners, incluindo a balada Master of the Mind. Simples, com violão, teclados e a voz de LaBrie, enfim, passando ao largo da baba.

Além disso, o disco inclui até mesmo canto gregoriano em Morte et Dabo (a saber, “The Gift of Death”), que dá passagem a uma das melhores músicas do álbum. Arrastada e com um clima de gothic rock no início, Children of the Flame é um momento de grande inspiração de Donahue como compositor. Mas é claro que não estamos diante de um disco simples – ou reto, como queiram. As já citadas Million Miles, Feel My Pain e Madmen and Sinners trazem um instrumental muitas vezes intrincado, apesar de a guitarra não ficar em primeiro plano. Madmen and Sinners seria outro disco sem Mangini, responsável por momentos de polirritmia de tirar o fôlego.


Artigo publicado na edição 104 do International Magazine, em julho de 2004.