Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
O Living Louder está entrando no seu terceiro ano de vida, mas se tem algo que o power trio paulista quer mostrar é que não há tempo a perder. Um ano depois do lançamento do autointitulado trabalho de estreia, Ricardo Cagliari (guitarra e vocal), Eduardo Assef (baixo) e Gustavo Gomes (bateria) soltaram Corsair, que apresenta uma evolução impressionante. Não que Living Louder não fosse um bom disco, pelo contrário, mas o segundo capítulo dessa história é, de fato, muito melhor. A começar pela ótima produção, mais orgânica, grave e até mesmo agradavelmente suja. A sensação é de escutar um daqueles vinis muito bem gravados quatro ou cinco décadas atrás – diga-se: a arte da capa, com uma imagem envelhecida, apresentando sinais de desgaste, passa essa mensagem.
Musicalmente, o trio acrescentou groove, muito groove ao seu som. Elemento fundamental às grandes bandas dos anos 60 e 70, ele é escancarado logo na faixa-título, que abre o CD. Entra a bateria, depois o baixo, vêm os riffs e até um toque de slide numa música que tem bastante de Led Zeppelin. Ponto para o Living Louder. O suingue tem forte presença também na ótima An Ace Up My Sleeve, cujo destaque fica para um belo duelo old school entre guitarra e baixo; ou no hard rock de Raw Meat, na qual Caglieri capricha nos solos (com slide, inclusive) por cima de uma cozinha caprichada com a linha melódica de Assef e a levada de Gomes. E cabe mais um adendo em relação à produção: o baixo e do bumbo ganharam um som bonitão, daqueles deliciosamente gordurosos.
São baixo e bateria, aliás, que se destacam no rockão Shoot to Kill Me, mas novamente com a companhia luxuosa de solos matadores (Caglieri larga os dedos sem dó). O disco apresenta heavy rock saído da década de 70 em Life Row; e uma interessante mistura de andamentos em Sweet Spot, que tem estrutura mais reta como base para duas passagens instrumentais bem legais: a primeira entre a ponte e o refrão, e a segunda no solo. E está aí, também, a evolução entre os dois trabalhos, porque essa maior dinâmica aparece em Deliver Us from Evil, que vai do começo hipnótico até o heavy metal, algo meio doom à la Black Sabbath; e em Half a Mind, cujo violão com slide no início entrega algo mais blues antes de a música se transformar num hard rock com melodia vocal caprichada.
E numa banda cujas referências são claras, é interessante notar que a identidade própria vai se moldando ao redor delas. Dá para sacar um pouco de Na Na Hey Hey Kiss Him Goodbye (Steam) e Layla (Derek and the Dominos) nas melodias iniciais de My Private Wallontown – muito de leve, como as sete notas que trazem à mente o antológico tema escrito por Eric Clapton, mas não é coincidência que os dois clássicos sejam de 1969 e 1970, respectivamente. Mas as coincidências pegam um DeLorean e vão para os anos 80 em Running Errands With Mr. D, que tem uns vocais com trejeitos de James Hetfield – e para aqui qualquer semelhança com o Metallica – e, guardadas as devidas proporções, algo de Primus. Não apenas no título, porque há umas convenções aqui e ali no instrumental, mas principalmente na ótima e funkeada melodia vocal que encerra a música. Uma das melhores de Corsair, um álbum sob medida para quem curte rock’n’roll.
Faixas
1. Corsair
2. Deliver Us from Evil
3. An Ace Up My Sleeve
4. Sweet Spot
5. My Private Wallowtown
6. Half a Mind
7. Life Row
8. Raw Meat
9. Shoot to Kill Me
10. Running Errands With Mr. D
Banda
Ricardo Cagliari – guitarra e vocal
Eduardo Assef – baixo
Gustavo Gomes – bateria
Lançamento: 19/10/2018
Produção: Gustavo Gomes