Megadeth

Vivo Rio – Rio de Janeiro/RJ – 1º/11/2017

Foto: Alessandra Tolc

Megadeth

Por Daniel Dutra | Fotos: Alessandra Tolc

Lembra-se da última vez que o Megadeth fez um show completo no Rio de Janeiro? Não, não foi em 2013, quando Dave Mustaine e companhia tiveram a honra de abrir para o Black Sabbath na Praça da Apoteose. Era para ter sido em 2008, mas a apresentação no Citibank Hall não chegou ao fim – puto com os problemas de som, Mustaine encurtou o set e saiu do palco sem nem mesmo dar um até logo. As duas apresentações anteriores, na mesma casa de shows, então chamada Metropolitan, foram em 1997 e 1995. Na primeira, a banda tocou entre Queensrÿche e Whitesnake; na segunda, se apresentou antes de Alice Cooper.

Não se assuste, porque é isso mesmo: havia mais de 20 anos que o Megadeth não fazia, de fato, um show para chamar de seu na cidade. A última vez foi em 1994, quando Mustaine, Marty Friedman, Dave Ellefson e Nick Menza arregaçaram o Imperator numa noite memorável, durante a turnê de “Youthnasia” (1994). Compreensível, então, a euforia dos fãs que lotaram o Vivo Rio numa quarta-feira véspera de feriado. Mas não foi apenas isso, e vamos chegar lá.

Antes teve o VIMIC, banda liderada pelo ex-Slipknot Joey Jordison e escolhida a dedo pelo chefão do Megadeth. E apesar de todo o esforço da banda – completada por Kalen Chase Musmecci (vocal), Jed Simon e Steve Marshall (guitarras), Kyle Konkiel (baixo) e Matt Tarach (teclados) –, a sensação foi que teremos mais do mesmo no álbum de estreia, “Open Your Omen”, a ser lançado em 2018. Se a primeira impressão é a que fica, o grupo atira para vários lados, mas não consegue realmente acertar os alvos.

O pesadíssimo começo com Marionetta logo deu lugar a acentos mais pop dentro da maçaroca sonora do sexteto, como em Simple Skeletons (juro que tem até uma parte mais dançante) e In Your Shadow, na qual a voz limpa de Musmecci enfim funcinou – bom frontman, com direito até mesmo a crowd surfing no fim do show, ele se sai melhor quando vai do vocal gritado ao gutural. E Jordison, exímio baterista, infelizmente acabou prejudicado pelo som embolado que praticamente soterrou suas viradas precisas e a impressionante velocidade que impõe nos dois bumbos.

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E como as pessoas foram para ver o Megadeth, a espera foi recompensada. Não como os fãs argentinos foram alguns dias depois, com quatro músicas a mais no set list – Dawn Patrol, Poison Was the Cure, She-Wolf e Poisonous Shadows –, mas ainda assim com uma apresentação arrebatadora que, felizmente, teve uma participação atualmente acima da média em se tratando dos fãs cariocas. Depois da tradicional introdução com o início de Prince of Darkness, Hangar 18 abriu os serviços com direito a riff cantado pelo público e coro de “Megadeth” na quebra instrumental que divide os solos no fim da música. E por falar em solos…

The Threat is Real, faixa de abertura de Dystopia (2016), mostrou aquilo que o público local basicamente só tinha visto em vídeos: o entrosamento e a interação de Mustaine com Kiko Loureiro. E sejamos sinceros duas vezes: primeiro porque a empolgação do brasileiro no palco nem de longe se compara à de seus anos no Angra. Depois porque estamos mesmo diante da melhor formação da banda desde aquela (insuperável, claro) com Friedman e Menza. Desnecessário descrever os predicados de Kiko, por razões óbvias, então só tinha dúvida a respeito de Dirk Verbeuren quem nunca havia escutado Soilwork. Ou quem não acreditou quando Chris Adler disse que Verbeuren é provavelmente um dos três melhores bateras do estilo atualmente.

O cartão de visitas havia sido distribuído em dez minutos, então Wake Up Dead e In My Darkest Hour nem precisaram fazer muita força. Na verdade, a o fim da primeira com o início da segunda nasceram um para o outro. Quase um mashup que, nas palavras de Mustaine, antecedeu “uma canção que não tocamos na última vez em que estivemos aqui”. E Take No Prisoners foi efusivamente recebida como seria qualquer outra faixa de Rust in Peace (1990). Os ânimos acalmaram, e a euforia de lugar à contemplação com a inclusão das novas Conquer or Die! e Lying in State no repertório, nos lugares de She-Wolf e Skin O’ My Teeth, tocadas em São Paulo na noite anterior.

Instrumental, Conquer or Die! é nada menos do que uma plataforma para Kiko mostrar (ao mundo, não aos brasileiros) por que está no posto, mas recebe no palco uma versão futurista de Vic Rattlehead, mascote da banda. O suficiente para fazer o público não dispersar e repor as energias para a sequência de clássicos que viria a seguir. Sweating Bullets, Trust e A Tout Le Monde surgiram em versões impecáveis, e a casa terminou de vir abaixo na mais que aguardada Tornado of Souls, que fez aparecer a primeira roda (estava difícil com a casa tão cheia) e obviamente teve uma tremenda ovação a Kiko depois de ele fazer bonito no antológico solo escrito por Friedman.

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Mechanix veio a seguir e sem muitas delongas (alguém não conhece a história?), e Dystopia foi agradavelmente muito bem recebida, muito pelo espetacular instrumental e, de novo, pela interação de Mustaine com Kiko. O efeito Tornado of Souls se repetiu em Symphony of Destruction – sim, todo mundo “cantando” o nome da banda ao acompanhar a música – e foi estendido em Peace Sells, a prova de que Ellefson é o cara e também a cara do Megadeth. Que graça tem o clássico ser puxado por outro baixista que não seja ele? Ah, sim: de paletó, terna e gravata (pretos), como na capa de Peace Sells… But Who’s Buying? (1986), Vic reapareceu.

E quando disse, parágrafos acima, que a participação do público estava acima da média, não me lembro de um coro tão bacana em ‘If there’s a new way, I’ll be the first in line’ como aquele. Providencial, porque os sinais de cansaço na voz de Mustaine já eram claros, mas nada que atrapalhasse também o bis, porque a catarse em Holy Wars… The Punishment Due era tão previsível quanto o encerramento com uma das maiores obras-primas do thrash metal. E foi, de fato, um espetáculo para comprovar que não basta continuar lançando ótimos discos. É preciso colocar tesão também nos shows. E neste ponto, Mustaine deixa aquele sorrisinho de canto boca para uns antigos companheiros…

Clique aqui para acessar a resenha no site da Roadie Crew.

Set list Megadeth
1. Hangar 18
2. The Threat is Real
3. Wake Up Dead
4. In My Darkest Hour
5. Take No Prisoners
6. Conquer or Die!
7. Lying in State
8. Sweating Bullets
9. Trust
10. A Tout Le Monde
11. Tornado of Souls
12. Mechanix
13. Dystopia
14. Symphony of Destruction
15. Peace Sells
Bis
16. Holy Wars… The Punishment Due