Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
Sejamos sinceros: a não ser você tenha 15 anos e esteja descobrindo o heavy metal agora, não há o que esperar de um estilo que há anos vem se mostrando estagnado, cuja qualidade das bandas é inversamente proporcional à quantidade delas, principalmente porque a cada dia brotam dezenas, principalmente na Europa. Não é raro que os grupos relevantes já estejam no quarto ou quinto disco, ou seja, que tenham pelo menos uns seis anos de estrada a contar do lançamento do álbum de estreia.
Assim sendo, estas linhas não estão reservadas para falar de uma exceção à regra. Temos, sim, o exemplo da banda que não é um medalhão ou dinossauro, mas que subiu um degrau de cada vez até conquistar o respeito do público: liderado pelo genial Daniel Gildenlöw, o Pain of Salvation construiu a sua personalidade musical sem fazer concessões, ou seja, com discos cuja sonoridade e conceito não são de fácil digestão. Enfiado no pacote do prog metal, o grupo sueco ainda assim pouco ou nada tem a ver com nomes como Dream Theater, Fates Warning ou Queensrÿche.
Scarsick, seu sétimo disco, chega às lojas três anos depois de Be, que ainda não foi totalmente assimilado por boa parte dos fãs – nele, o guitarrista e vocalista colocou no papel anos de estudo sobre a criação do Universo e o desenvolvimento do homem, e obviamente estou sendo vago ao definir o trabalho, complicado também na parte musical. Mas o público adorou, assim como vai rasgar seda para o novo trabalho, ainda mais por se tratar da continuação do aclamado The Perfect Element (2000). Ou seja, definitivamente um retorno às raízes do quinteto sueco – completado por Johan Hallgren (guitarra), Simon Andersson (baixista que entrou na banda depois do lançamento do CD, em substituição a Kristoffer Gildenlöw – Daniel gravou todos os baixos), Fredrik Hermansson (teclados) e Johan Langell (baterista que estará fazendo os últimos shows com o grupo no momento em que você estiver lendo esta resenha).
Mas o novo álbum é mesmo brilhante. Mais pesado, porém não menos complexo, o que fica evidente logo nas duas primeiras faixas, Scarsick e Spitfall, que reúnem todos os elementos característicos do Pain of Salvation: mudanças abruptas de andamento, letras políticas bem fortes e um trabalho vocal de primeira linha, das melodias às interpretações (Daniel canta que é uma barbaridade!). A leveza fica por canta da espetacular Cribcaged e de Kingdom of Loss, enquanto os (perfeitos) dez minutos e três segundos de Enter Rain juntam tudo isso e mais um pouco.
Ainda assim, não há como escapar dos dois grandes destaques de Scarsick: America e Disco Queen. Eterno crítico da administração George W. Bush, Daniel não poupa críticas à política dos EUA, mas o seu sarcasmo atinge também o “american way of life” – as ironias passam por Diet Coke e programas de apresentadores como Jay Leno e David Letterman, metendo dedo na ferida de que o americano não enxerga além do próprio umbigo… E quanto a Disco Queen, imagine I Was Made for Lovin’ You, do KISS com uma dose bem maior de peso, instrumental mais rebuscado e uma letra séria. Não deu? Ouça Scarsick.
Resenha publicada na edição 133 do International Magazine, em junho de 2007