Pestilence

La Esquina – Rio de Janeiro/RJ – 08/04/2018

Foto: Gustavo Maiato

Pestilence

Por Daniel Dutra | Fotos: Gustavo Maiato

Uma semana depois de o La Esquina ser tomado por rock’n’roll e psicodelia, o domingo na intimista casa de shows foi de metal extremo, com a primeira passagem do Pestilence por nossas bandas – nada menos que 11 shows em território brasileiro, entre 5 e 22 de abril, como parte da turnê Consuming Latin America, que também abrangeu México, Guatemala, El Salvador, Costa Rica, Honduras, Colômbia, Peru, Chile e Argentina. Muito trabalho depois de o quarteto holandês ter voltado à ativa em 2016, dando fim ao segundo hiato numa carreira iniciada em 1986.

Por motivos de força maior – a velha freguesia confirmada numa decisão por pênaltis depois de um gol aos 49 minutos do segundo tempo –, perdi o set dos cariocas do Dark Tower e cheguei a tempo de ouvir apenas os acordes finais de Fathomless Dephts, última música tocada pelo Carnation, da Bélgica. Mas a verdade é uma só: quem se dirigiu à Lapa naquele fim de tarde/início de noite tinha como objetivo assistir a Patrick Mameli (guitarra e vocal) e companhia – a nova formação é completada por Calin Paraschiv (guitarra), Tilen Hudrap (baixo) e Septimiu Hărşan (bateria).

E quem compareceu não se decepcionou, uma vez que a banda entregou exatamente aquilo que dela se esperava. Na verdade, não foi apenas o death metal técnico e muito bem executado, porque rolou um show de simpatia de Mameli, único integrante da formação original – nem mesmo a postura estou-torcendo-para-que-isso-acabe-logo de Hudrap estragou. O petardo Non Physical Existent abriu os serviços como a única amostra do novo álbum, Hadeon (2018), uma vez que o grupo optou por privilegiar material dos três primeiros discos, principalmente de Testimony of the Ancients (1991), que cedeu cinco músicas – Malleus Maleficarum (1988) e Consuming Impulse (1989) compareceram com três canções cada.

“Este é um dos menores palcos que já tocamos, mas o clima aqui é muito bom. Estou adorando”, disse o guitarrista e vocalista antes de o Pestilence emendar a ótima Malleus Maleficarum/Antropomorphia, primeira faixa do primeiro trabalho, lançado 30 anos atrás. E a mistura de thrash e death com trechos mais cadenciados mexeu com a cabeça dos fãs. Literalmente. “Cuidado com o microfone, pois ele está batendo nos meus dentes enquanto canto”, pediu Mameli, educadamente. Explica-se: o palco da casa é baixo, mas baixo mesmo, e obviamente não havia grade, então o bater de cabeça de quem estava no gargarejo poderia resultar numa consulta ao dentista.

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Commandments veio a seguir e, apesar de ser um convite ao mosh pit, já contou com um ‘headbanging’ mais comportado daqueles que estavam na primeira fila. Para a alegria ainda maior de Mameli, que aproveitou para brincar: “Este é o meu look death metal especial, e não é visual para criança. É coisa de gente grande”, disse ele, arrancando gargalhadas dos presentes. E não bastasse ter um corte de cabelo peculiar, o líder do Pestilence passou todo o show bebendo Leite Ninho e tocando uma Steinberger. Só faltou usar uma camisa do Paul Stanley fase meados dos anos 80.

E se você acha que isso é uma crítica negativa, então deveria estar lá para machucar o pescoço na trinca Subordinate to the Domination (impressiona como Hărşan toca sem fazer o menor esforço), Dehydrated e Chronic Infection, esta com solos matadores tanto de Mameli quanto de Paraschiv. “Vocês são foda, mesmo”, elogiou o mestre de cerimônias, mas sem perder a piada. “Mas aqui não dá para fazer stage diving.”

The Secrecies of Horror e Twisted Truth mantiveram o bom nível da apresentação, mas foi em Land of Tears que os fãs resolveram soltar de vez a voz… Para cantar o riff de guitarra no meio da canção, que tem uma parte melódica e técnica, incluindo um belíssimo solo de Mameli, de cair o queixo. Depois da ótima Prophetic Revelations – difícil deixar de imaginar que o Pantera, naquele comecinho da década de 90, não tenha mexido com a cabeça do mentor do Pestilence –, mais um afago.

“Muito obrigado por terem vindo nos ver esta noite”, e a resposta veio com o nome da banda sendo gritado em coro, o que fez Mameli abrir um enorme sorriso. “Eu nunca havia escutado o nome desse jeito”, disse ele, mostrando ao público como estava acostumado ao cantar “Pes-ti-len-ce” de maneira mais cadenciada. Sério, o cara era uma simpatia só… Com os integrantes protocolarmente apresentados, Presence of the Dead e a sensacional Mind Reflections prepararam a casa para o desfecho que todos esperavam. “Eu sei que vocês conhecem essa”, avisou Mameli, antes de soltar um “eu também te amo, cara” para um fã que berrou a admiração por ele.

Out of the Body completou a alegria de quem esperou 32 anos para assistir ao Pestilence ao vivo. E pouco importou se foi numa casa pequena e modesta, porque público e banda não estavam nem aí. Ainda bem, porque só assim para, ao fim do show, os músicos deixarem o palco passando pelo meio do público, cumprimentando basicamente um a um dos que estendiam a mão. Para este que vos escreve, uma maneira mais do que interessante de comemorar aquele título que ninguém acreditava – e meu sincero agradecimento ao Metal Na Lata pela ajuda com as fotos que ilustram esta resenha.

Set list
1. Non Physical Existent
2. Malleus Maleficarum/Antropomorphia
3. Commandments
4. Subordinate to the Domination
5. Dehydrated
6. Chronic Infection
7. The Secrecies of Horror
8. Twisted Truth
9. Land of Tears
10. Prophetic Revelations
11. Presence of the Dead
12. Mind Reflections
13. Out of the Body

Clique aqui para acessar a resenha no site da Roadie Crew.