Robert Plant

Citibank Hall – Rio de Janeiro/RJ – 24/03/2012

Foto: Daniel Croce

Robert Plant

Por Daniel Dutra | Fotos: Daniel Croce

Não tem jeito. Enquanto estiver produzindo, em estúdio ou num palco, Robert Plant vai carregar o estigma de ser o vocalista do Led Zeppelin. Não chega a ser uma maldição, obviamente, pois estamos tratando da maior banda de rock de todos os tempos… Bom, eu falo a mesma coisa quando escuto qualquer disco dos Beatles, então digamos que há um empate técnico. Mas a visão no Citibank Hall naquela noite de terça-feira foi a mesma de qualquer show de Paul McCartney: muitas camisas do grupo que o alçou ao estrelato e uma óbvia expectativa por músicas que o fizeram ícones. No entanto, enquanto Sir Paul ainda mantém os clássicos dos Fab Four em versões muito próximas ou iguais às originais – ajudado por um material de reprodução mais fácil, é bem verdade –, Plant teve de reinventar os seus ao longo dos anos.

É com este pensamento que o fã precisa encarar seu ídolo, porque foi exatamente assim que o vocalista se apresentou para cerca de cinco mil fãs no Rio de Janeiro antes de rumar para o Lollapalooza. Na abertura, a cantora/guitarrista St. Vicent teve o privilégio de pisar no mesmo palco que Plant. Apenas e tão somente isso, porque a americana – cujo nome verdadeiro é Anne Clark – e sua banda fizeram um show simplesmente horroroso. Há quem chame aquilo de art rock, mas que arte mal feita, meus caros coleguinhas antenados e modernos. Melhor sorte da próxima vez.

Uma espiadinha nos set lists recentes mostrou que Plant abria os serviços com Babe I’m Gonna Leave You, e coube aí a primeira e única surpresa da noite. A plateia explodiu ao primeiro verso de No Quarter. Agradável surpresa, diga-se, e o vocalista e sua turma – o Sensational Space Shifters formado por Justin Adams e Liam “Skin” Tyson (guitarras), Billy Fuller (baixo), John Baggott (teclados), Dave Smith (bateria) e Juldeh Camara (kologo e ritti, instrumentos de corda) – passaram a alternar canções da carreira solo com o que os fãs realmente queriam ouvir. Ou seja, qualquer coisa do Led Zeppelin.

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Plant começou a privilegiar o bom Lullaby and… The Ceaseless Roar (2014) logo de cara, com a bela Rainbow, que deu sequência a uma Black Dog bem mais arrastada, com uma lacuna no antológico riff de Jimmy Page que dividiu opiniões. Uma vez mais, é a maneira como o vocalista se sente confortável para cantar músicas que gravou quando estava na faixa dos 20 anos. E é desta maneira que ele mostra o grande cantor que ainda é, a despeito do efeito do tempo na garganta. A introspectiva e viajante Embrace Another Fall antecedeu a espetacular Going to California, por razões óbvias em sua versão original, digamos assim. Por isso mesmo capaz de arrancar lágrimas dos olhos de vários dos marmanjos lá presentes.

Little Maggie, com seu acento sulista, bem country mesmo, teve como destaque Juldeh Camara e seu ritti, um violino artesanal africano de apenas uma corda. Interessante, principalmente antes de o show entrar na sua metade rock’n’roll com The Lemon Song e a excelente (e com momentos realmente pesados) Tin Pan Valley, de Mighty ReArranger (2005) – foi a única música própria de Plant que não saiu de seu mais recente trabalho solo. What is and What Should Never Be manteve o esquema (New) Led Zeppelin, enquanto Fixin’ to Die, cover de Bukka White registrado em Dreamland (2002), pavimentou o caminho até o blues de Hoochie Coochie Man, o clássico de Willie Dixon que introduziu o segundo momento mais aguardado da noite. E foi interessante notar que Plant começou a cantar os primeiros versos de Whole Lotta Love na própria Hoochie Coochie Man sem que grande parte da plateia notasse. Foi o preciso que o riff a anunciasse para que houvesse o previsível frenesi.

Who Do You Love, de Bo Diddley, foi inserida no clássico do Led ao mesmo tempo em que Plant fez todo o Citibank Hall levantar as mãos para ficar acenando, numa coreografia funcional. O vocalista, aliás, arriscou algumas palavras em português – “E aí, galera?”, por exemplo –, mas não perdeu tempo jogando conversa fora. Foi econômico ao apresentar a banda e também ao reclamar do trânsito carioca com uma ponta de bom humor – “É muito bom voltar a sua bela cidade e a seu trânsito maravilhoso.” Depois do segundo momento mais aguardado, o bis reservou o que todos esperavam, queriam, ansiavam – tanto que Nobody’s Fault But Mine, que seria a segunda e igualmente agradável surpresa da noite, acabou limada: Rock nd Roll, a música, o hino, o clássico dos clássicos numa versão irreconhecível em seu início, mas que ainda assim levantaria até defunto com seu “lonely, lonely, lonely, lonely time” cantado pelo público com derradeira animação. No resumo da ópera, não tivemos um espetáculo inesquecível, mas o show de um ídolo que sabe viver do passado.

Set list
1. No Quarter
2. Rainbow
3. Black Dog/Arbaden (Maggie’s Baby)
4. Embrace Another Fall
5. Going to California
6. Little Maggie
7. The Lemon Song
8. Tin Pan Valley
9. What is and What Should Never Be
10. Fixin’ to Die
11. Hoochie Coochie Man/Whole Lotta Love/Who Do You Love
Bis
12. Rock and Roll