Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
O Primal Fear estava a caminho do Brasil para a sua segunda turnê no país – em dezembro de 2002, passando por Porto Alegre, Blumenau, Curitiba e São Paulo –, então rolou a chance de bater um papo com o vocalista Ralf Scheepers, que á época tinha, além do fiel escudeiro Mat Sinner (baixo), a companhia dos guitarristas Stefan Leibing e Henny Wolter e do baterista Klaus Sperling. Com um quarto álbum, Black Sun, na rua há oito meses, a rápida conversa (20 minutos) ganhou rumos diferentes, e aqui você encontra a versão editada que foi publicada à época.
Qual a principal diferença da banda do primeiro álbum (N.R.: homônimo, de 1998) para o mais recente trabalho, Black Sun?
Nós passamos por muita coisa, experiências de turnês e gravações, coisas que se refletem no modo de compor. No primeiro disco estava tudo muito fresco, apenas nos juntamos e fizemos as músicas. Com o tempo, aprendemos o estilo um do outro e começamos a soar melhor como conjunto. O que você ouve com a sequência do trabalho é sempre uma evolução.
E você concorda que o Primal Fear foge do estilo adotado por bandas como o Stratovarius? Quero dizer, as raízes são mais dos anos 80, o grupo faz um som mais direto…
Cada integrante do grupo tem um background diferente. Nós crescemos ouvindo metal na década de 80, bandas como Saxon, Iron Maiden e Judas Priest. Nós ainda amamos o som daquela época, mas o que fazemos sai de nossos corações. É difícil dizer que fazemos esse ou aquele tipo de música.
Ainda assim, o que eu considero importante é que o Primal Fear tem um estilo diferente de sua ex-banda, o Gamma Ray. Isso não significa que suas raízes são realmente mais distantes do metal melódico?
Para mim é muito complicado comparar. Tive grandes momentos com o Gamma Ray, mas hoje o melhor que posso fazer é compor com quem tem o mesmo sentimento que eu a respeito da música. Não há dúvida de que eu era feliz com o Gamma Ray, mas sou muito mais feliz agora com o Primal Fear, que não tem nada ou quase nada a ver com o que fiz no passado. Gosto do que estou fazendo agora. Isso é o mais importante.
É interessante você falar isso, levando em consideração o tipo de som pesado que faz sucesso nos EUA e que os americanos acabam exportando para o mundo inteiro.
Você está falando do new metal (risos). As pessoas têm o hábito de dizer que é heavy metal apenas porque a música tem uma guitarra distorcida, mas eu não vou julgá-las por isso. Todos fazem o que gostam, é apenas uma questão de gosto a pessoa comprar um disco de determinada banda.
Isso pode fazer com que ela queira descobrir a fonte de tudo, quais são as bandas que deram origem ao rock pesado, não?
O fã é muito bem informado hoje em dia, então sempre terá oportunidade de descobrir as raízes do metal. Basta querer.
O Primal Fear é uma das poucas bandas do metal contemporâneo que ainda não lançou um CD ou um DVD ao vivo. Está nos planos algo desse tipo?
Gravamos muitos dos nossos shows da turnê europeia. Como tocamos em festivais, registramos muitas cenas com uma câmera profissional e lançaremos um DVD ainda este ano. Não pensamos num álbum ao vivo, pois o DVD trará nosso show. O próximo disco será mesmo de estúdio.
Alguma coisa que você possa adiantar sobre o novo álbum?
Iremos nos juntar depois do Natal para dar sequência ao processo de composição, às idéias que já temos. Black Sun é o disco mais pesado que gravamos, mas acredito que haverá mudanças, algo mais na linha de nosso primeiro trabalho. O que posso prometer aos fãs é que será um álbum puramente Primal Fear, puramente metal. É algo que não mudamos.
Para terminar, gostaria de sua opinião a respeito de alguns vocalistas. Podemos fazer um pingue-pongue?
Sim, claro!
Ronnie James Dio.
Conheci o Ronnie quando tocamos na Espanha em 2002. É uma pessoa adorável, além de ser um dos melhores do mundo.
David Coverdale (Whitesnake).
Um grande vocalista, com uma veia mais blues rock. De acordo com as mulheres, tem uma voz sexy (risos).
Ian Gillan (Deep Purple).
Ele é fundador de uma escola no heavy metal!
Geoff Tate (Queensrÿche).
Tem uma voz muito forte, é ótimo. Gosto bastante dele.
Glenn Hughes.
Esse cara me assusta! (risos) Ele é impressionante!
Kai Hansen (Gamma Ray).
(Rindo) Eu sabia! (risos) Ele se aprimorou bastante, teve aulas de canto e mostrou que pode tomar a frente da banda também nos vocais.
OK, Ralf. Obrigado pela entrevista.
O prazer foi meu, foram perguntas bem interessantes (risos). (N.R.: falando em bom português) Muito obrigado!
Entrevista publicada na edição 90 do International Magazine, em janeiro de 2003.