DIO e Fates Warning em formato audiovisual

A força ao vivo do maior dos vocalistas e 20 anos de história de uma força do progressive metal

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DIO e Fates Warning em formato audiovisual

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Abençoado seja o DVD. Não faz muito tempo que o fã esperava pelo anúncio do lançamento do home video de seu grupo ou artista favorito… Em VHS. O video laser nem chegou a empolgar tanta gente assim, pois seu tamanho não era lá muito prático – e, por isso mesmo, não deixava de ser um retrocesso depois da mudança do vinil para o CD. O DVD veio para resolver o problema, afinal, não bastasse possuir a qualidade de áudio e vídeo que todos conhecemos, ainda virou febre: transformou o consumidor comum em colecionador até mesmo de filmes. Mas como nosso assunto é música, fiquemos com dois ótimos lançamentos do formato no rock: The View from Here, do Fates Warning, e Evil or Divine – Live in New York City, do DIO.

Em The View from Here, a banda mais legal do progressive metal na atualidade aparece em retrospectiva, num apanhado de seus videoclipes e imagens de algumas apresentações. São 20 anos de estrada registrados em grandes momentos, principalmente do fim da década de 80 até os dias atuais. Os vídeos Silent Cries e Anarchy Divine, de 1988, são os últimos resquícios dos dias de pastiche do Iron Maiden, já que a partir do ano seguinte, com o álbum Perfect Symmetry, a coisa mudaria de figura. De Through Different Eyes a Nothing Left to Say, o som do Fates Warning passou a ser uma aula bom gosto muito mais técnica – a saber, Jim Matheos é um brilhante guitarrista e compositor; Ray Alder, um vocalista exemplar; e Mark Zonder, um dos melhores bateristas do mundo. Não é pouca coisa, não.


O DVD já valeria a pena por causa de Point of View (digamos que seja uma homenagem ao Queensrÿche, e é só ouvir Breaking the Silence para atestar), Eye to Eye e Monument (uma das mais belas e complexas composições do metal), mas há material de altíssimo nível ao vivo, como as partes X, XI e XI da obra-prima A Pleasant Shade of Gray (1997) – os fãs de rock progressivo deveriam ouvir este disco. Fora isso e mais um pouco, os making of de Parallels (1990) e Disconnected (2000) são bastante interessantes, e a entrevista com os ex-integrantes Frank Aresti (guitarra) e Joe DiBiase (baixo), reveladora. Grande lançamento, grande pedida.

Já Ronnie James Dio e banda estão impecáveis em Evil or Divine – Live in New York City, que traz a íntegra da apresentação realizada no Roseland Ballroom, no dia 13 de dezembro de 2002. De material bônus, temos galeria de fotos, entrevista, cenas de backstage e o ótimo clipe de Push, com direito à participação do ator Jack Black, de “Alta Fidelidade” (2000), de Stephen Frears, e “O amor é Cego” (2001), dos irmãos Farrelly. No entanto, o que interessa mesmo é o show… E que show! Não há nada mais a falar de Dio que não já tenha sido dito um sem-número de vezes, mas é mesmo impressionante o que o Baixinho canta no alto de seus 61 anos (ou seriam 63?). Só pode beber um litro de formol por dia, porque não há outra explicação para conservar a voz que o tornou o maior vocalista do rock pesado em todos os tempos.


Impossível não ser ofuscado por Dio, mas o baterista Simon Wright, que no AC/DC tocava com uma perna e um braço atados, e o excelente guitarrista Doug Aldrich, que saiu para o reformulado Whitesnake e abriu brecha para a volta de Craig Goldy, têm ótimos momentos – Scott Warren (teclados) e Jimmy Bain (baixo) completam o time. O repertório privilegia o material do DIO, como sempre, aliando músicas de várias fases da passagem do vocalista por Black Sabbath (Heaven and Hell e Children of the Sea) e Rainbow (Man of the Silver Mountain e Long Live Rock and Roll).

Temos material dos álbuns mais recentes – Lord of the Last Day e Fever Dream, de Magica (2000); Push, Rock and Roll e a faixa-título de Killing the Dragon (2002) – e pérolas que nunca perdem a força: da surpresa Egypt (The Chains Are on) aos clássicos Stand Up and Shout, Don’t Talk to Strangers, Holy Diver, The Last in Line, Rainbow in the Dark e We Rock. É assistir ao DVD e ter certeza de que os anos 80 foram infinitamente mais ricos…

Artigo publicado na edição 96 do International Magazine, em setembro de 2003.