Dream Evil e Soilwork largam na frente

Novos CDs das bandas suecas são os grandes destaques do primeiro quarto de 2003

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Dream Evil e Soilwork largam na frente

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Fim do primeiro trimestre, então está encerrado o período de lançamentos que infestam as lojas no início do ano. Sempre há várias opções no mundo do rock pesado, e os destaques acabam pipocando por todos os lados. De praias diferentes, Dream Evil e Soilwork colocaram seus novos trabalhos na praça, e aqui você fica sabendo por que eles dispararam na frente entre os melhores.

O fenômeno Dream Evil

Muita coisa mudou no cenário heavy metal nos últimos dez anos. Os Estados Unidos abraçavam com cumplicidade o estilo, gerando inúmeras bandas e dando aval para o sucesso comercial em todo o mundo. O início dos anos 90 marcou a volta ao underground, por assim dizer, e a Europa tornou-se o berço. Os números, salvo raras exceções, não atingiam mais atingiam a casa dos milhões de álbuns vendidos, mas curiosamente houve uma profusão de bandas surgindo ao mesmo tempo em que o preconceito – sem fundamentos, diga-se de passagem – diminuiu.

Hoje, é praticamente impossível conhecer tudo que é lançado, a não ser que você tenha muita grana ou contatos com gravadoras, lojistas e imprensa especializada. Há muita coisa que não merece atenção, realmente, mas vez ou outra aparece uma banda que deixa todo mundo na cena de queixo caído. É o caso do Dream Evil, banda sueca que começou despertando interesse por causa das presenças do guitarrista Fredrik Nordström – proprietário do Studio Fredman e produtor de grupos como Arch Enemy, HammerFall e In Flames – e do exímio baterista Snowy Shaw – mais conhecido por substituir o insubstituível Mikkey Dee na banda de King Diamond, ponte que o levou também para a primeira formação da volta do Mercyful Fate.

A espera pelo primeiro disco, DragonSlayer, foi pequena e transformou a curiosidade em rasgados elogios. Apesar da capa e das letras sobre espadas e dragões, o trabalho é simplesmente primoroso e revelou dois novos talentos: o excelente vocalista Niklas Isfeldt e guitarrista-prodígio Gus G., natural da Grécia e um verdadeiro ás das seis cordas. O resultado foi assistir à escalada do Dream Evil com menos de um ano de vida: DragonSlayer marcou presença nas listas de melhores CDs de 2002, e o grupo foi eleito a revelação do ano nas principais revistas especializadas.


Sem descanso, a banda voltou ao estúdio, e em janeiro de 2003 chegou às lojas europeias Evilized, que a Century Media lançou recentemente no Brasil (assim como fez com o trabalho de estreia no ano que passou). Se alguém falou em “prova do segundo disco”, esqueça. O novo álbum já nasceu obrigatório. Mais madura, com letras menos fantasiosas e um instrumental mais pesado, a banda coloca-se definitivamente entre as melhores surgidas no metal nos últimos tempos. Shaw continua dando aula, Gus G. continua impressionando com riffs e solos fantásticos, e Isfeldt… Bom, o que dizer de um vocalista de timbre agradável e bonito e que ignora totalmente o artifício dos pavorosos agudos? Resta apenas dar os parabéns.

O mais legal de Evilized é que toda a banda – incluindo o baixista Peter Stålfors – participou do processo de composição, já que DragonSlayer estava praticamente pronto por Nordström e Isfeldt quando o line up foi fechado. Assim, o que encontramos no álbum é um trabalho coeso e maduro, apoiado na dobradinha qualidade/experiência dos músicos. Para completar, os poucos resquícios de metal melódico presentes no trabalho anterior são coisa do passado, pois as 12 músicas são sinônimo da energia e refrãos empolgantes do metal da década de 80 com uma sonoridade atual – leia-se a excelente produção de Nordström. Break the Chains, By My Side e Fight You ‘Till the End são a trinca de abertura, não deixando pedra sobre pedra e fazendo você assobiar as melodias logo na primeira audição. A faixa-título mostra que o Queensrÿche fez escola, trazendo todos os elementos presentes nos primeiros discos do grupo precursor do prog metal: belas linhas vocais, um grande trabalho de guitarra e um andamento contagiante.

Além de ser um dos melhores bateras do atual cenário, Shaw revela-se um compositor de primeira linha com Invisible e a maravilhosa Bad Dreams, a melhor música do disco e que ao vivo promete ser um arrasa-quarteirão. Em Forevermore temos a indefectível balada (lembra-se da citada veia anos 80?), sem exageros e longe do esquema meloso das escritas por Jon Bon Jovi, por exemplo. Uma das influências da banda vem à tona na excelente Children of the Night, que muito bem poderia ter sido composta pelo Scorpions e estar no mesmo patamar da clássica Big City Nights.

As oito faixas já valeriam o investimento, mas Live a Lie e Fear the Night, ambas com riffs simples e eficientes, e The End, que lembra os bons momentos do finado Europe, são ótimas. E se não está suficiente para você, Made of Metal traz aquele sentimento bacana do Manowar de músicas como Kings of Metal e Metal Warriors (bons tempos…). Assim como DragonSlayer, Evilized é essencial para quem gosta de heavy metal tradicional de qualidade, para quem quer o que de melhor o estilo produz.


Soilwork: metal como o metal deve ser

Felizmente, bandas como o Dream Evil não são o único oásis encontrado no rock pesado, que tem produzido um sem-número de bandas inexpressivas ou que soam da mesma maneira – invariavelmente tentando copiar (sem sucesso) o que foi iniciado (com maestria) pelo Helloween em 1987. Uma alternativa a quem não aguenta tanto marasmo está no que vem sendo chamado de death metal melódico. A melodia adicionada ao rótulo pode assustar, mas as bandas do “novo” estilo têm mostrado criatividade para não realizar um trabalho repetitivo, resgatando a simplicidade e empolgação do heavy metal.

Grupos como Arch Enemy, preparando o sucessor da obra-prima Wages of Sin; In Flames, em turnê para divulgar o excelente Reroute to Remains; e Chlidren of Bodom, que acaba de lançar o ótimo Hate Crew Deathroll, são três dos melhores nomes da atualidade. O Soilwork já garantira seu lugar na lista com os álbuns A Pedrator’s Portrait (2001) e Natural Born Chaos (2002), mas agora ratifica de vez sua posição com a pérola Figure Number Five, lançado pela Nuclear Blast com distribuição da Century Media em terras tupiniquins.


Muito peso, técnica apurada a serviço do feeling e músicas que fazem com que você não consiga ficar quieto. Rejection Role abre o CD de maneira espetacular e mostra de cara o grande destaque do disco: Björn “Speed” Strid, dosando com perfeição vocais agressivos – no melhor estilo Phil Anselmo (Pantera) e Burton C. Bell (ex-Fear Factory) – e limpos – de característica própria, dando vida aos excepcionais refrãos encontrados em todas as músicas.

Henry Ranta (bateria), Ola Flink (baixo), Sven Karlsson (teclados) e a excelente dupla de guitarristas formada por Peter Wichers e Ola Frenning não ficam atrás. São responsáveis por um instrumental poderoso, que deixa irresistíveis músicas como Overload (que riff sensacional!), Figure Number Five, Stangler, Light the Torch, Cranking the Sirens, Brickwalker e The Mindmaker (impressionante como Wichers e Frenning são uma usina de grandes riffs). Mais cadenciada, Departure Plan dá o tempo necessário para retomar o fôlego, enquanto Distortion Sleep e Downfall 24 pisam no freio, mas mantêm o peso (mas não, você não encontrará nenhum compasso 1/1 à velocidade da luz no disco). Não apenas um excelente disco de metal, Figure Number Five é mais uma obra para trazer de volta a velha força do estilo.

Artigo publicado na edição 92 do International Magazine, em abril de 2003.