Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
Uma das bandas de heavy metal mais bem-sucedidas dos anos 90, o Pantera virou mesmo história. O hiato depois da turnê do álbum Reiventing the Steel, lançado em 2000, fez com que os integrantes se interessassem muito mais por seus projetos (antes apenas) paralelos. Os irmãos Vinnie Paul (bateria) e Dimebag Darrell (guitarra) estão envolvidos com o Damageplan, Rex Brown (baixo) vem trabalhando com o Crowbar, e Phil Anselmo resolveu colocar também um ponto final no quarteto texano. Líder do Superjoint Ritual – cujo segundo álbum, A Lethal Dose of American Hatred, chegou recentemente às lojas –, o vocalista afirmou categoricamente que o “Pantera é coisa do passado”. No dia 27 de agosto, conversamos por telefone com Anselmo, que parecia, digamos assim, ter acabado de acordar para conceder a entrevista. Tido como uma pessoa difícil, o vocalista não faz mesmo o tipo brincalhão, mas mostrou-se educado e sincero, ou seja, sem papas na língua e disparando sua metralhadora verbal sem o menor pudor. Do som mais direto e objetivo do Superjoint Ritual – que conta ainda com os guitarristas Jimmy Bower (Eyehategod) e Kevin Bond (Christ Inversion e Body and Blood), o baixista Hank III e o baterista Joe Fazzio – ao novo disco do Metallica, confira aqui os melhores momentos da conversa.
O som do Superjoint Ritual é bem mais old school, nada parecido com o que você fazia no Pantera. Quais são as principais influências?
Sim, é absolutamente diferente do Pantera! É algo na linha de bandas como Discharge, Agnostic Front, Black Flag e do som dos anos 80. Realmente algo bem old school, como você disse, mas gostaria de deixar claro que não há nada de punk rock. Eu gosto de hardcore e metal, não de rock alegre (risos).
Apesar da mudança radical, existe a possibilidade de um dia você voltar a fazer thrash metal?
Não, estou com o Superjoint Ritual e ponto final. E eu não voltarei para o Pantera. Não olho para o passado, e o Pantera é coisa do passado.
Isso significa que você está em casa, ou seja, é o que você sempre quis fazer?
Sem dúvida alguma, apesar de eu sempre ter feito tudo honestamente na minha carreira. Pior seria estar tocando essa merda de new metal ou fazendo pop para as rádios.
Interessante você mencionar o new metal, já que atualmente sempre está na pauta das entrevistas que faço. Você acredita que bandas como o Superjoint Ritual nos Estados Unidos e a geração de bandas suecas como Soilwork, Arch Enemy e In Flames são o que faltava para mostrar o que realmente é o heavy metal?
Ótima pergunta. No nosso caso, o objetivo e dar às pessoas o que, para mim, é a verdadeira essência do metal, algo que você encontrava no Venom, Destruction, Slayer, Celtic Frost e mais um monte de bandas que poderia citar aqui. Queremos não apenas oferecer isso aos fãs antigos, mas também mostrar aos mais novos que o new metal é um lixo (risos). Nos EUA, os mais jovens têm sido enganados por essa por essa porcaria, por bandas maquiadas e com fantasias, em vez de aprenderem de onde vem a verdadeira música. Hoje os shows se resumem a explosões, laser e todo o tipo de efeitos especiais, isso porque esses grupos precisam disfarçar sua música, que é ruim. Para tocar, o Superjoint Ritual apenas desce de ônibus e vai para o palco, usamos as mesmas roupas que vestimos no dia a dia, algumas luzes e temos uma plateia alucinada. É assim que deve ser. A música deve falar mais alto que os negócios.
Mas e o quanto ao KISS? Não é segredo que você gosta da banda, que usa todos esses artifícios e gravou pelo menos uns quatro discos obrigatórios para qualquer fã de rock?
(N.R.: rindo) Mas eles fazem isso há 30 anos! Bom, no início também não tinha nada a ver com negócios (risos).
Em uma entrevista quer fiz com o Dan Lilker ano passado, ele disse que uma das razões da volta do Nuclear Assault era justamente para acabar com o new metal. Há muitas bandas dos anos 80 ressurgindo com força, mas algumas sempre estiveram no topo e parece que estão virando as costas para os próprios fãs, caso do Metallica. Você concorda com isso?
Honestamente, o Metallica esqueceu que é Metallica há muito tempo. De qualquer maneira, Dan Lilker deveria olhar para o próprio rabo antes de falar dos outros. Eu posso tocar thrash, death ou qualquer outro estilo do metal, mas nunca vou usar maquiagem como ele em sua banda de black metal (N.R.: The Ravenous). Por mais que o Nuclear Assault tenha voltado para acabar com alguém, é melhor medir as palavras. O Superjoint Ritual é a arma para acabar com essa bosta de new metal, não o Nuclear Assault.
Mudando de assunto, como a anda a House Core Records (N.R.: gravadora independente fundada por Anselmo)?
Cara, obrigado por perguntar! (risos) Na verdade, os últimos lançamentos foram os dois CDs do Superjoint Ritual (N.R.: o primeiro, de 2002, chama-se Use Once and Destroy), numa parceria com a Sanctuary Records. A gravadora é 100% minha, mas não há tempo para mais nada que não seja dedicação total à banda, já que A Lethal Dose of American Hatred vem tendo um ótimo desempenho. O disco estreou na 55ª posição na Billboard e continua no Top 200, sendo que chegou ao segundo lugar no ranking de independentes e permanece entre os cinco primeiros.
E como estão sendo os shows (N.R.: a turnê começou em julho, e em novembro a banda faz um giro pelos EUA com Sepultura e Morbid Angel)?
Fizemos uma pequena apresentação de aquecimento e, na sequência, dez shows no Texas, além de termos tocado no Novo México. Posso dizer a você que tivemos plateias alucinadas. Você sabe que o Texas é a casa do Pantera, por isso os fãs estão do meu lado.
Falando nisso, o assunto está mesmo encerrado para você, ou seja, o Pantera acabou?
Definitivamente! Vinnie Paul e Dimebag Darrell andaram dizendo muita merda a respeito do Superjoint Ritual, mas eu não desço ao nível deles e não devolvo as palavras… (N.R.: Anselmo faz uma pausa) Você quer saber? A reação deles foi de medo do Superjoint Ritual, que sempre os assustou porque, de certa maneira, é muito melhor que o Pantera. Eles temiam que os fãs do Pantera gostassem mais da minha banda, e foi isso que aconteceu! O que nós fizemos no Texas foi inédito. O Superjoint Ritual destruiu a porra da cidade! (risos) Todos os shows foram devastadores e memoráveis para os fãs, e sei que posso falar por eles.
Você consegue imaginar uma volta do Pantera com outro vocalista?
Não. Fazer algo assim seria estupidez.
Em relação à letra de The Destruction of a Person, ela é destinada a alguém especificamente?
Bem, sei o que você quer dizer (N.R.: Anselmo descreve a reação de alguns daqueles que o chamavam de “amigo” antes de uma overdose de heroína que deixou o vocalista clinicamente morto por seis minutos em meados dos anos 90). Em geral, todas as letras são bem pessoais, mas estão abertas a interpretações. Você me entende, certo?
Sem dúvida. E quando veremos o Superjoint Ritual no Brasil?
Eu espero que em janeiro de 2004. Talvez até antes, mas quero tocar aí no começo do ano que vem, em quantas cidades eu puder.
Obrigado pela entrevista, Phil, e o espaço é seu.
Obrigado a você, e sinto muito pelos problemas. Não sei o que aconteceu (N.R.: Anselmo refere-se às duas vezes que a linha caiu e ele levou alguns minutos para conseguir ligar novamente). Os fãs brasileiros sempre foram extremamente leais e insanos! Eu respeito isso. Nunca farei nada que decepcione vocês, que desaponte a mim e ao metal também. Sempre tento fazer o melhor e dou aos fãs 100% de mim.
Entrevista publicada na edição 98 do International Magazine, em novembro de 2003.