Megadeth e o show dos argentinos

Além do novo disco, banda de Dave Mustaine lança DVD ao vivo em que o público é o protagonista

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Megadeth e o show dos argentinos

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Desde que resolveu voltar à ativa com o Megadeth, em 2004, Dave Mustaine saciou a sede dos fãs com todo tipo de lançamento. Do disco de inéditas, The System Has Failed, lançado no mesmo ano, à coletânea Greatest Hits: Back to the Start (2005), ainda deu para desembolsar mais uma grana para adquirir o DVD duplo Arsenal of Megadeth (2006). Ou seja, depois de um hiato de dois anos para se recuperar de uma grave lesão no braço esquerdo, Mustaine não ficou parado. E 2007 começou com o DVD That One Night: Live in Buenos Aires, registro de um show na Argentina que a banda ficou devendo em 2001, já que os atentados terroristas de 11 de setembro impediram a turnê pela América do Sul – o lançamento, então, se deu com Rude Awakening, gravado no Arizona.

Apesar da pobreza em relação aos extras (apenas Symphony of Destruction numa versão alternativa que não acrescenta absolutamente nada), o DVD impressiona pelo alucinado público argentino. Mais de 25 mil pessoas tomaram o estádio Obras Sanitarias apenas e tão somente para assistir a uma apresentação do Megadeth. Pouco importava se no palco as coisas não eram como antes, já que James MacDonough (baixo) não é David Ellefson, assim como Shawn Drover (bateria) fica devendo a Nick Menza e Jimmy DeGrasso – Glen Drover (guitarra), por sua vez, se sai um pouco melhor ao substituir Marty Friedman e Al Pitrelli.


Mas não, isso não importava. No desfile de clássicos, com uma surpresa (Set the World Afire) e um equívoco (I’ll Be There), os hermanos são um show à parte em Symphony of Destruction e Trust, duas das músicas em que a pista se transforma numa única massa cantando e pulando. É mesmo impressionante, e não à toa Mustaine dedicou Coming Home especialmente aos argentinos. O CD ainda está para sair, mas vai servir mesmo apenas para completar coleção. Impossível separar uma coisa da outra quando o público se transforma no espetáculo.

O melhor do Megadeth no novo álbum

Com o ótimo James LoMenzo (ex-White Lion, Pride & Glory e Black Label Society) no lugar de MacDonough, o Megadeth soltou seu mais novo disco, o político United Abominations, e cumpriu a promessa de fazer um trabalho para o fã não esquecer. Tendo um grupo em estúdio, e novamente compartilhando o brilho de um colega de seis cordas, já que Glen faz bonito com material próprio nas mãos, Mustaine acerta a mão em excelentes músicas, como Sleepwalker, Never Walk Alone… A Call to Arms, Washington is Next!, Pray for Blood e Amerikhastan, num trabalho muito acima da média.


E mais do que arriscar a regravação de A Tout Le Monde – agora com a adição de (Set Me Free) ao nome – ao lado da talentosa Cristina Scabbia (Lacuna Coil), Mustaine continua sem controlar a língua. Critica as Nações Unidas (repare no trocadilho do título do álbum) por não apoiar a decisão dos Estados Unidos de invadir o Iraque, alegando que o momento era de pensar nos soldados que estavam sendo enviados à guerra, ao mesmo tempo em que mete o dedo na ferida ao criticar as reais intenções do governo George W. Bush, dizendo que os EUA se tornaram uma subsidiária da empresa de serviços petrolíferos Halliburton. Mais Mustaine, impossível.


Resenha publicada na edição 133 do International Magazine, em junho de 2007