Affront – World in Collapse

Rotthenness | Nacional | 2018

Foto: Divulgação

Affront – World in Collapse

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Apesar de mais thrash e menos death metal do que a estreia com Angry Voices (2016), o novo trabalho do Affront é uma nova aula de violência sonora, que vai do instrumental agressivo e bem e trabalhado às letras que fazem de World in Collapse – título bem sugestivo, diga-se – um necessário soco no estômago. Os 30 segundos do bonito início acústico de Dirty Front servem de preparativo para a pancadaria de uma das melhores canções do disco, um thrash empolgante que não esconde a influência de Kreator, mas que apresenta resquícios death em riffs e uma ótima seção instrumental de metal mais tradicional durante o curto e eficiente solo de guitarra.

Um início empolgante para mostrar o poderio de M. Mictian (baixo e vocal), R. Rassan (guitarra) e R. Lobato (bateria), que a seguir promovem uma sinfonia de machucar pescoços em Your Lies Your Fall, canção com forte interpretação de Mictian e algo que o trio faz muito, mas muito bem: melodias vocais em cima dos riffs de guitarra. O recurso é utilizado com excelência em outras faixas, como Monument to Hate, que tem uma levada e um refrão com coro matadores; Ancestral, com um belo trabalho de Lobato; e Forgotten By God, que empolga mesmo quando mete o pé no freio e tem mais um daqueles refrãos caprichados para fazer o público maltratar os pulmões.


Por falar em particularidades, há outra muito interessante: começar a música com o refrão, exemplo da espetacular Favelas, Senzalas (e que refrão!) e, mais uma vez, de Ancestral. E se você reparou bem, o Affront abriu o baú de ótimos refrãos, em sua maioria simples e extremamente eficientes. O de There’s No Tomorrow é de tirar o chapéu em meio a mudanças de clima muito boas; e o de Violence complementa uma canção que tem tudo para ser um massacre ao vivo. Tente escutá-los e não sair imediatamente cantando. E por falar em massacre, a faixa-título é uma agressão em forma de música, sendo de fato a trilha sonora para o contexto do álbum.

Com um ótimo trabalho percussivo de Lobato, bem tribal mesmo, em cima de uma melodia de frevo, Sowed By Lies tem ótimas nuances da guitarra de Rassan e é, até mesmo por trazer algo diferente e enriquecer a obra, forte candidata a melhor canção de World in Collapse. A bela Mazurka, peça acústica baseada em Chorinho, de Villa Lobos, encerra o disco como ele começou: com o violão trazendo calma e reflexão que vão de encontro a força e agressividade do som e das letras, estas a cargo de Mictian.


Veterano da cena carioca, fundador da banda de black metal Unearthly, o baixista e vocalista do Affront explora em Favelas, Senzalas sua experiência como morador da Favela Nova Holanda, onde nasceu e foi criado; expõe o perigo da ascensão do fascismo em diversos cantos do mundo, Brasil incluindo, em Monument to Hate; conta em Ancestral os ataques sofridos pelos índios da Aldeia Maracanã; e lembra em Forgotten By God qual é a parcela da população que costuma ser esquecida pelo estado, numa abordagem muito atual do cenário brasileiro. Sim, o Affront faz bem ao lembrar que o heavy metal não costuma andar de mãos dadas com governos opressores e ditatoriais como os de extrema-direita. Fica a lição.

CLIQUE AQUI PARA CONFERIR O CANAL DO RESENHANDO NO YOUTUBE!

Faixas
1. Dirty Blood
2. Your Lies Your Fall
3. Favelas, Senzalas
4. Monument to Hate
5. There’s No Tomorrow
6. Violence
7. Ancestral
8. Forgotten By God
9. Sowed By Lies
10. World in Collapse
11. Mazurka


Banda
M. Mictian – baixo e vocal
R. Rassan – guitarra
R. Lobato – bateria

Lançamento: 2018
Produção: M. Mictian & R. Rassan
Mixagem: Ciero