Whitesnake – Flesh & Blood

Frontiers/Hellion | Nacional | 2019

Foto: Katarina Benzova/Divulgação

Whitesnake – Flesh & Blood

Por Daniel Dutra | Fotos: Katarina Benzova/Divulgação

Não faltam motivos para considerar Flesh & Blood um dos lançamentos mais esperados do ano. “Claro, é o novo do Whitesnake!”, você pode ter pensado, mas acontece que o 13º álbum de estúdio da banda de David Coverdale vem depois do excelente Forevermore (2011) – na prática, o último trabalho de inéditas até então – e do desnecessário The Purple Album (2015). E na comparação entre estes dois discos ressalta a principal questão: até que ponto a ausência de Doug Aldrich seria sentida? Reb Beach, que assumiu o posto de braço-direito de Coverdale, e Joel Hoekstra, o novato na turma, são tecnicamente inquestionáveis, mas é inegável que as composições sofreram um impacto. Para o bem ou para mal, fica a gosto do freguês.

O ‘press release’ diz que Beach criou cinco músicas com o vocalista, e Hoekstra, seis, sendo que não especifica quais, assim como não faz menção às canções restantes, incluindo as duas bônus da edição especial. E diga-se: estas não fizeram parte da audição para a imprensa num streaming que deixou a dúvida se a produção do álbum era realmente decepcionante, prejudicando principalmente o som da bateria de Tommy Aldridge – Michael Devin (baixo) e Michele Luppi (teclados) completam a formação. Felizmente, a versão física de Flesh & Blood apagou a má impressão sonora, e os créditos no encarte foram elucidativos: Beach é coautor de Shut Up & Kiss Me, Get Up, Sands of Time e Can’t Do Right for Doing Wrong; Hoekstra, de Gonna Be Alright, Trouble is Your Middle Name, Well I Never, After All e If I Can’t Have You; Coverdale compôs sozinho Always & Forever, When I Think of You (Color Me Blue), Flesh & Blood e Heart of Stone; e os três fizeram juntos Good to See You Again e Hey You (You Make Me Rock).


Enfim, esse impacto representou uma volta ao passado do grupo, escancarado logo de cara com Good to See You Again, com um riff mais bluesy, uso de slide e uma pegada heavy rock dos anos 70. Em seguida, o sexteto avança para a década de 80, já que Gonna Be Alright tem um pouco de Slide it in (1984) e um tantinho de Whitesnake (1987). Completando a trinca inicial, Shut Up & Kiss Me já nasceu rock de arena e cresce a cada audição, apesar de confirmar que o melhor mesmo começa a vir a seguir. Mais pesada, Hey You (You Make Me Rock) tem um baita refrão e Coverdale cantando numa região mais grave algumas partes da ótima melodia vocal. É a partir daí que Flesh & Blood engrena. Sabe aquela veia rock’n’roll arrasa-quarteirão da Cobra Branca? Está presente em Trouble is Your Middle Name e Get Up, esta com Beach e Hoekstra debulhando alternadamente e também em conjunto.

Quer mais heavy rock? Tome Well I Never, com um refrão repetitivo que é para você passar a semana inteira cantando. Baladas? Temos. When I Think of You (Color Me Blue) é a primeira. É baba, então fique com o toque bluesy que Coverdale levou também para o seu lado mais sensível. Escute a acústica After All e Heart of Stone, na qual o vocalista tem bela performance, não à toa novamente numa região mais grave da sua voz. Até aí, Flesh & Blood é mais um bom disco do Whitesnake, mas três canções asseguram mais alguns décimos na nota final: a empolgante faixa-título, que tem um instrumental de primeira na parte dos solos (e que solos!); a ótima Always & Forever (pode gritar Thin Lizzy ao escutá-la); e a maravilhosa Sands of Time, com uma melodia oriental enriquecida pela orquestração, remetendo ao Led Zeppelin de Physical Graffiti (alguma surpresa?), e mais um show da dupla de guitarristas.


Em tempo: a versão deluxe, apenas importada , vem com um DVD e, entre os mimos para os fãs do Whitesnake, duas faixas inéditas. E são duas das melhores deste Flesh & Blood como um todo. Can’t Do Right for Doing Wrong é uma bluesy ballad deliciosa, com um grande trabalho de guitarra de Beach, que deixa para fritar lá no fim, quando a canção já está em ‘fade out’, e mostra ao longo de cinco minutos um tremendo bom gosto nas notas econômicas que despeja . Sem contar a belíssima interpretação mais grave e rasgada (e sexy, vá lá) de Coverdale. If I Can’t Have You, por sua vez, passeia até pelo gospel, graças à melodia vocal que inicia a música, mas agarra firme o hard blues – como se fosse mais um resgate do passado, diga-se – e traz Coverdale apresentando um vocal mais agudo e atual. Valem muito a pena.

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Faixas
1. Good to See You Again
2. Gonna Be Alright
3. Shut Up & Kiss Me
4. Hey You (You Make Me Rock)
5. Always & Forever
6. When I Think of You (Color Me Blue)
7. Trouble is Your Middle Name
8. Flesh & Blood
9. Well I Never
10. Heart of Stone
11. Get Up
12. After All
13. Sands of Time
14. Can’t Do Right for Doing Wrong (faixa bônus)
15. If I Can’t Have You (faixa bônus)


Banda
David Coverdale – vocal
Reb Beach – guitarra
Joel Hoekstra – guitarra
Michael Devin – baixo
Tommy Aldridge – bateria
Michele Luppi – teclados

Lançamento: 10/05/2019
Produção: David Coverdale, Reb Beach, Joel Hoekstra e Michael McIntyre
Mixagem: Christopher “Muffin Man” Collier