Marillion

Vivo Rio – Rio de Janeiro/RJ – 13/10/2012

Foto: Daniel Croce

Marillion

Por Daniel Dutra | Fotos: Daniel Croce

“Nós demoramos muito para voltar. Por favor, nos desculpem.” As primeiras palavras de Steve Hogarth ao público carioca numa fria e chuvosa noite de sábado, no meio de um feriadão, nem precisavam soar sinceras. O bom público que compareceu ao Vivo Rio – cerca de duas mil pessoas – já havia sido conquistado com as notas iniciais de Splintering Heart. Na verdade, bastou ver o vocalista em cima de uma caixa de som. Pouco para quem escalou a estrutura de palco no longínquo Hollywood Rock de 1990, estreia do Marillion no Brasil, mas ainda assim bastante eficiente.

O Marillion tinha em mãos um novo álbum para promover, o ótimo Sounds That Can’t Be Made, e outros seis trabalhos da era Hogarth desde This Strange Engine (1997). Há 15 anos sem dar as caras por aqui, havia também a necessidade de lembrar hits (sim, teve Beautiful) e a primeira fase, ainda com Fish. Slainte Mhath abriu os serviços, mas sobraram exemplos de material mais recente. Ninguém reclamou. You’re Gone, Fantastic Place e as épicas Neverland e The Invisible Man mostraram a força da voz de Hogarth, em atuação memorável.

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Em todos os cantos havia quem o acompanhasse cantando letra por letra. Eram os mesmos fãs que passaram a financiar os CDs do quinteto, adquirindo-os em pré-venda quando nem sequer tinham sido escritos ou gravados – sim, o tal crowdfunding que começou a pegar faz pouco tempo no Brasil. Isso explica a boa recepção às novas Sounds That Can Be Made e Power, o que provavelmente aconteceria com The Sky Above the Rain não fossem os problemas com o equipamento do baixista Pete Trewavas – Mark Kelly também sofreu em alguns momentos com seus teclados.

The Great Escape acabou sendo uma surpresa, mas o set list já havia sido rasgado minutos antes, no momento mais emocionante da noite. Todo mundo esperava por Kayleigh, mas o grupo não contava com os fãs levando Lavender a capela na sequência. Entrou no jogo e não parou por aí, atendendo aos insistentes pedidos por Easter antes do fim com a belíssima Sugar Mice, uma dobradinha que rendeu merecida ovação a Steve Rothery. Com habituais bom gosto nos timbres e elegância nos solos, o guitarrista mostrou como se faz para dobrar os masturbadores das seis cordas e colocá-los no bolso. E, depois de uma espera de 15 anos, o Marillion provou em quase duas horas que soube envelhecer com dignidade, mantendo-se relevante e mostrando prazer no que faz.

Resenha publicada na edição 36 da Billboard Brasil, em novembro de 2012.