Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
Você tem algum DVD do Black Sabbath? Olha que há boas opções. Pode começar com Last Supper, dedicado à volta da banda com sua formação original, em 1997, para a turnê batizada de Reunion (que infelizmente não passou pelo Brasil). Lá fora foram lançados no formado digital os dois volumes de History of Black Sabbath, divididos nos períodos 1970-1978 e 1978-1992. No entanto, com um pouquinho de sorte, você pode encontrar ambos em alguma banca de jornal perto de sua casa – desde que não tenham sido recolhidos, afinal, trata-se de pirataria. Caso ache que vale correr atrás – e também o risco – antes que acabe a mamata…
Agora, se três títulos não são suficientes para saciar sua fome de Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward – e Ronnie James Dio, Vinnie Appice… –, saiu do forno, pela primeira vez em DVD, o antológico e essencial Never Say Die, gravado em 1978. Claro, estamos falando da formação clássica da banda mais importante e influente da História do heavy metal, mas o vídeo vale por muito mais que isso. Trata-se de um registro de uma fase conturbada do grupo, que desencadearia na saída definitiva de Ozzy e, pouco tempo depois, na entrada de Ronnie James Dio.
Alegando problemas pessoais, o vocalista abandonou o barco em 1977, sendo substituído por Dave Walker (ex-Fleetwood Mac). A segunda formação do Sabbath não chegou a gravar, mas deu início ao processo de composição do álbum Never Say Die! nos cinco meses em que contou com Walker – outubro de 77 a janeiro de 1978. Depois de uma única apresentação, no programa Look Here!, da BBC em Midlands, no qual tocaram Junior’s Eye, o grupo se restabeleceu com a volta de Ozzy e começou as gravações do novo disco. Os problemas, no entanto, estavam longe de terminar.
Ozzy se recusou a cantar algumas músicas que já estavam prontas. Assim, Iommi e Butler incluíram a instrumental Breakout, e Ward assumiu os vocais em Swinging the Chain (algo que ele já havia feito no álbum anterior, Technical Ecstasy, de 1976, com a belíssima It’s Alright). Disco na praça, turnê a caminho e nova despedida. O último show aconteceu no dia 11 de dezembro de 1978, e Ozzy foi despedido no início do ano seguinte – ou pediu demissão, dependendo do ponto de vista. Em março, Dio assumiu o microfone, e a mudança atingiu também o tecladista que acompanhava o grupo: Don Airey (hoje no Deep Purple) deu lugar a Geoff Nichols (até hoje fazendo o pano de fundo musical).
Independentemente de tudo isso, e vamos ao que interessa, Never Say Die mostra o Black Sabbath como as pessoas estavam acostumadas a ver… Bom, apesar de ser muito esquisito ver Ozzy à direita e Iommi no centro do palco. Como os fãs não tinham nada a ver com o mau clima interno, a banda mandava ver no que sabia fazer melhor: tocar clássicos inesquecíveis como Sympton of the Universe (que abre o show), War Pigs, Snow Blind, Black Sabbath, Children of the Grave e Paranoid. Claro, tem o solo de Ward depois de Dirty Woman; tem Never Say Die, uma das melhores composições do grupo; tem a climática introdução de Iommi para Electric Funeral; e tem a ótima Rock and Roll Doctor, um aula do que o próprio nome anuncia.
Musicalmente, é um bálsamo, mesmo admitindo as históricas desafinadas de Ozzy, compensadas pelo mestre Tony Iommi, o maior guitarrista base do rock pesado em todos os tempos (e isso é um elogio). Uma pena que os recursos do DVD não tenham sido explorados. Não há extras, e o ganho de qualidade de imagem e som nem é tão grande. Para os padrões da época, Never Say Die já estava um passo à frente. Se levarmos em consideração que o DVD tem apenas o show em sua duração original (uma hora), é pouco. Mas se levarmos em conta a importância do Black Sabbath para a história do rock, é um item com lugar garantido na coleção.
Resenha publicada na edição 92 do International Magazine, em abril de 2003.