Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
Da mesma maneira que existem bandas intocáveis – aquelas que lançam discos que o fã compra sem pensar duas vezes –, há o músico que é sinônimo de qualidade. Seja qual for o trabalho em que ele estiver envolvido, a satisfação é garantida. O guitarrista Michael Amott se encaixa perfeitamente no perfil, conquistado com Heartwork, lançado pelo Carcass em 1994, álbum que fez coro ao saudoso Chuck Schuldiner – ex-guitarrista e vocalista do Death, que um ano antes lançara o marco chamado Individual Thought Patterns – para ajudar a mudar a cara do death metal.
Depois do Carcass, Amott passou a dividir seu tempo entre o stoner rock do Spiritual Beggars (já com quatro discos lançados) e o aclamado Arch Enemy, que acaba de lançar seu quinto trabalho de estúdio, Anthems of Rebellion. Formada em 1996 por Michael e seu irmão e também guitarrista Christopher Amott, Johan Liiva (baixo e vocal) e Daniel Erlandsson (bateria), a banda sueca lançou o primeiro álbum, Black Earth, no mesmo ano e em 1998 – com Martin Bengtsson no baixo e Peter Wildoer na bateria, ambos do Armageddon – gravou Stigmata, trabalhos que fizeram o nome da banda no país natal.
Com o retorno de Erlandsson às baquetas e as quatro cordas a cargo de Sharlee D’Angelo (Mercyful Fate), estava dado o primeiro passo rumo ao posto de um dos melhores grupos de metal. Burning Bridges chegou às lojas em 1999, mas foi em 2001 que aconteceu a cartada definitiva, com a saída de Liiva e a entrada de Angela Gossow, ex-repórter de uma revista alemã que, depois de uma entrevista com a banda, resolveu deixar uma fita demo com os integrantes. A loura causou dúvidas nos fãs, mas Wages of Sin (2002) sepultou todas elas: botando muito marmanjo no bolso, Angela mostrou-se capaz, e seus vocais agressivos e guturais contribuíram para que o disco ganhasse o selo “obra-prima”.
Para a felicidade dos fãs, em Anthems of Rebellion o quinteto fez mais um trabalho perfeito. A vinheta Tear Down the Walls prepara para o massacre que vem a seguir, com Silent Wars – destaque para os magníficos duelos dos irmãos Amott – e o primeiro single, We Will Rise, em que Erlandsson realiza um trabalho espetacular com dois bumbos – o batera, diga-se de passagem, brilha em todo o CD. Uma década depois de o death metal ter deixado de ser uma “massa sonora disforme” (um eufemismo para “barulho”, termo infelizmente ainda usado por muita gente, que um dia ouvi), o Arch Enemy volta a apresentar um instrumental pesado, criativo e construído tendo como base estruturas melódicas irretocáveis.
Dead Eyes See No Future, Leader of the Rats, Dehumanization e Saints and Sinners (esta com backing vocals limpos) convivem muito bem com Anthem e Marching on a Dead Road, temas instrumentais que comprovam aos radicais a existência de feeling na música extrema. Apesar de Anthems of Rebellion ser um trabalho uniforme, é impossível não apontar destaques, a começar por Instinct e Despicable Heroes. A primeira apresenta riffs fantásticos e uma ótima linha vocal, e a segunda, resquícios diretos do death metal, ambas com uma atuação ímpar de Angela Gossow.
End of the Line (mais riffs maravilhosos e novamente backings limpos) e Exist to Exit (que nos remete ao Slayer da fase Seasons in the Abyss) mostram a facilidade do Arch Enemy em renovar o heavy metal – principalmente o death e o thrash – para fazer algo único nos dias de hoje. Para completar, o disco – que tem um belíssimo trabalho gráfico – chega ao Brasil acompanhado de um CD bônus com três músicas gravadas durante a Wages of Sin Campaign 2002: Lament of a Mortal Soul, Behind the Smile e Diva Satanica. Obrigatório a todos que gostam de rock pesado.
Resenha publicada na edição 99 do International Magazine, em dezembro de 2003.