Queensrÿche – The Art of Live

Sanctuary | Importado | 2004

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Queensrÿche – The Art of Live

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Com a formação original, o Queensrÿche lançou apenas um registro ao vivo. Operation: LIVEcrime (1991) chegou às lojas no formato box set, com VHS e CD ou K7 acompanhados de um livro de 44 páginas contando a história da obra-prima Operation: Mindcrime (1988), álbum conceitual que foi reproduzido na íntegra na turnê do multiplatinado Empire (1990) – dez anos depois a caixa, já fora de catálogo, foi dividida na versão em DVD e no relançamento do CD remasterizado.

O guitarrista Chris DeGarmo pulou fora no início de 1998, e o grupo de Seattle começou uma segunda fase. Com Kelly Gray no posto, gravou Q2k (1999) e resolveu encerrar os mais de 16 meses de excursões com dois shows em sua cidade natal. Assim fora gravados o álbum duplo e o DVD Live Evolution. Mas Gray foi colocado para fora, e o Queensrÿche começava a entrar em sua MK III. Tribe (2003) até contou com a volta de DeGarmo, que resolveu não sair em turnê, e a banda acabou deixando a quinta vaga aberta a convidados.

Quem vem ocupando a posição é Mike Stone, e é com ele que o grupo lançou recentemente The Art of Live – o DVD saiu no dia 22 de abril, e o CD, no dia 8 de junho. O disquinho de áudio, aliás, nem estava programado, mas foi uma nova e agradável surpresa da Sanctuary Records, que já havia lançado Tribe também em DVD-Audio, incluindo um clipe ao vivo de Desert Dance. Apesar de não trazer o show completo, The Art of Live inteligentemente privilegia músicas do mais recente trabalho de estúdio e clássicos que não haviam entrado nos outros títulos.


Outro detalhe que acabou sendo positivo foi a opção pelo preto e branco. Na verdade, as imagens são em sépia – “envelhecidas”, ou seja, com aquele visual marrom e de película com anos de uso. Mais uma prova de que o Queensrÿche sempre procurou fugir do lugar-comum, o que é facilmente percebido na própria discografia. Tribe dá início ao show de maneira peculiar, com os integrantes entrando no palco um de cada vez – na sequência, Scott Rockenfield (bateria), Eddie Jackson (baixo), Stone, Michael Wilton (guitarra) e Geoff Tate (vocal).

Funcionou muito bem, assim como o resgate da ótima Sign of the Times, que em 1997 já versava sobre crianças indo armadas para o colégio e alertava para a delinquência juvenil. Em seguida, mais canções novas: Open, Losing Myself (a única mais ou menos de Tribe) e as excelentes Desert Dance e The Great Divide. Esta última bem representativa da temática lírica do álbum, que não poupa críticas ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e a maneira como ele vem agindo desde os atentados terroristas de 11 de setembro – “Então estamos diante de uma grande divisão? / Há esperança para a América? / Pegue a bandeira que balançamos e a liberdade que cantamos / Sem respeito uns pelos outros / Elas não significam nada”.


Um dos melhores momentos vem a seguir, com o set acústico formado pela maravilhosa Rhythm of Hope, My Global Mind e Roads to Madness. Além da aula de Rockenfield na segunda, o formato ressalta mais uma vez o óbvio: Tate canta demais. A sensacional Della Brown é uma grata surpresa e mostra Stone em um belo solo, acompanhando o sempre inspirado Wilton. Breaking the Silence e The Needle Lies são as únicas representantes de Operation: Mindcrime, sendo que a reação da platéia não deixa enganar: é o disco favorito dos fãs. Best I Can encerra o show sendo mais um belíssimo resgate feito pela banda.

As músicas, a bem da verdade, foram tiradas das diversas apresentações realizadas durante a turnê com o Dream Theater, de junho a agosto de 2003. Assim, não poderia faltar algo da jam que os dois grupos faziam ao fim dos shows. Comfortably Numb (Pink Floyd) e Won’t Get Fooled Again (The Who) – perfeitamente substituídas no CD por Anybody Listening? – são realmente um deleite. Para finalizar, a resposta a uma provável pergunta: sim, James LaBrie some perto de Geoff Tate.


Resenha publicada na edição 103 do International Magazine, em junho de 2004.