Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
Formado no início dos anos 90, em Estocolmo, na Suécia, o Opeth surpreendeu logo com seu disco de estréia, Orchid (1995). Mais do que o death metal melódico que hoje está em voga graças a grupos com Arch Enemy, In Flames, Children of Bodom e Soilwork, o quarteto mostrava um tendência progressiva que o diferenciava no cenário. Morningrise (1996), My Arms Your Hearse (1998) e Still Life (1999) ajudaram a consolidar a banda, mas foi com o excelente Blackwater Park (2001) que surgiram os primeiros sinais de que o melhor ainda estava por vir.
À época, o grupo passou a trabalhar com Steven Wilson (Porcupine Tree), e a parceria – mais nas ideias e produção do que no processo de composição – resultou em mais duas obras-primas: Deliverance (2002) e Damnation (2003). Os álbuns foram gravados simultaneamente, mas a gravadora optou por lançá-los com um intervalo de seis meses, não porque um CD duplo seria comercialmente inviável, mas porque Damnation era um trabalho de rock progressivo! E apesar de a banda afirmar que foi o primeiro e último desvio em sua trajetória, trata-se de um dos melhores discos do gênero nos últimos anos.
Para comprovar que, uma década depois do primeiro álbum, o Opeth certamente é um dos grupos mais criativos do heavy metal, recentemente chegou às lojas o DVD Lamentations: Live at Sheperd’s Bush Empire 2003, registro de um show gravado na tradicional casa londrina, com repertório apenas dos três últimos discos. Em pouco mais de duas horas, Mikael Åkerfeldt (vocal e guitarra), Martin Lopez (bateria), Peter Lindgren (guitarra) e Martin Mendez (baixo), acompanhados do convidado especial Per Wiberg (teclados, Spiritual Beggars), fazem uma apresentação primorosa.
A primeira parte tem a íntegra de Damnation – além de Harvest, canção de Blackwater Park que se encaixa no conceito progressista. É uma maravilha conferir ao vivo músicas como as excelentes Widowpane (linda), Death Whispered a Lullaby (ótimas linhas de baixo, quebradas precisas de bateria e grandes passagens acústicas), Hope Leaves (com solos à la David Gilmour), In My Time of Need, Weakness (um misto de No Quarter, do Led Zeppelin, com Angelo Badalamenti da trilha sonora de “Twin Peaks”) e a espetacular instrumental Ending Credits, que Åkerfeldt confessa ser um “rip off” do Camel.
Aliás, faça-se o devido registro: o líder Åkerfeldt é mesmo um gênio. Ótimo guitarrista e vocalista (tem uma voz belíssima e vai do gutural ao suave com uma facilidade inacreditável), o cara é um compositor e tanto. A segunda metade do show é a prova definitiva disso, afinal, o cara que escreve a maravilhosa Master’s Apprentices merece mesmo ser aplaudido. Ela é uma das músicas de Deliverance, que aparece ainda com a espetacular faixa-título e A Fair Judgement, que encerra a apresentação mostrando exatamente como a mistura feita pelo quarteto é sensacional.
Blackwater Park cedeu The Drapery Falls e The Lepper Affinity, e faltam adjetivos para descrevê-las. Assim como as três de Deliverance – sim, apenas cinco músicas na última hora de apresentação, uma vez que todas ultrapassam a casa dos dez minutos –, elas são recheadas de belos temas de guitarra, passagens intrincadas que passam ao largo da autoindulgência e momentos de uma beleza singular convivendo em perfeita harmonia com partes mais pesadas e repletas de riffs inspirados.
“A banda mais brilhante do metal” (Guitar World) e “Música estupidamente impressionante, inventiva, inspirada e não menos que incrível” (Kerrang!) são duas das definições dadas ao Opeth pela imprensa especializada. Não fogem da verdade. O DVD ainda traz o documentário “The Making of Deliverance & Damnation”, com uma hora de entrevistas e cenas do grupo gravando os dois trabalhos. Lamentations: Live at Sheperd’s Bush Empire 2003 é mesmo imperdível.
Resenha publicada na edição 103 do International Magazine, em junho de 2004.