Richie Kotzen – Change

Yamaha Music | Importado | 2003

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Richie Kotzen – Change

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Há algum tempo e em algum lugar perdido na Internet, um fã disse que a música está errada a partir do momento em que Richie Kotzen não é um sucesso em todo o mundo. Tem razão. Guitarrista brilhante, excelente vocalista, ótimo produtor e engenheiro de som e grande compositor, Kotzen passeia pelo pop rock, jazz, fusion, soul e funk com a mesma desenvoltura e elegância. Mais do que isso, mostra autenticidade no que faz, e seu trabalhado tem uma embalagem extremamente acessível.

Resumindo, é música para quem gosta de música bem tocada e também para aqueles que se preocupam apenas com o que toca nas rádios. De uma maneira ou de outra, um produto de qualidade para chegar ao ouvido de todos em vez de estilos sazonais ou de artistas que se mostram um engodo. Para acabar com qualquer dúvida, pela primeira vez chega ao Brasil um disco do guitarrista. Change, seu 12º trabalho solo, é um verdadeiro presente e mais uma chance de ouro para mostrar que existe inteligência na música pop.

Forever One, que abre o disco e tem um solo maravilhoso, Get a Life e Don’t Ask são exemplos de como é possível fazer rock de maneira acessível sem abrir mão da qualidade. Instrumental primoroso sem ser autoindulgente, cuidado com os arranjos, ritmos empolgantes e refrãos marcantes, na verdade, sobram em todo o CD. Mostre Good for Me para aquele seu amigo que gosta da trilha sonora de “Malhação” e você verá o resultado – a diferença, repito, está no alto nível do produto que chega ao grande público.


Ele também pode não entender a classe que há por trás de Deeper (Into You) e da excepcional Am I Dreamin, esta um primor com loops e um groove contagiante levado pelo trabalho ímpar ao violão. No entanto, não irá duvidar que todas estão entre o que de melhor é feito no pop que ouvimos nos dias de hoje. Sem esquecer que a qualidade está acima de tudo, é bom ressaltar sempre, por isso as baladas High (com Pat Torpey, ex-batera do Mr. Big) e a belíssima faixa-título são destaques em vez de alvo para críticas negativas.

Kotzen aproveitou também para regravar Shine, uma de suas melhores contribuições para o Mr. Big, no qual substituiu Paul Gilbert antes de o grupo sucumbir aos problemas de relacionamento entre o baixista Billy Sheehan e o vocalista Eric Martin. Aqui, a música aparece com arranjo totalmente acústico e ficou não menos que ótima. O guitarrista, diga-se, não fugiu do direcionamento adotado no álbum anterior, Slow – e não precisa perguntar, é outro trabalho maravilhoso. Assim, os fãs que esperam por novos discos de fusion/jazz rock ou mesmo de soul/funk ao menos não ficam decepcionados.

Fast Money Fast Cars é funk dos bons e conta com a participação do vocalista Charlie Sarti, que acrescenta suingue a uma música simplesmente irresistível. Para aqueles que anseiam por virtuosismo – ah, sim! Kotzen é um dos melhores guitarristas do mundo –, há a faixa Unity (jazz bee bop instrumental). O título entrega tudo: um jazz rock simplesmente fantástico que não esconde a influência de Allan Holdsworth. Uma verdadeira aula de técnica e bom gosto sem, repito, cair no exibicionismo barato.

A versão brasileira ainda vem com a versão acústica de Don’t Ask, bônus exclusivo para o país – no Japão, a faixa extra é Out Take, que traz a cozinha do Mr. Big, Billy Sheehan (baixo) e, mais uma vez, Torpey; e o restante do CD foi todo gravado por Kotzen. Enfim, mais um motivo para Change fazer parte de sua discografia e, quem sabe um dia, mostrar que as rádios locais não precisam viver de Rouge, KLB, Felipe Dylon e afins. Obrigatório.


Resenha publicada na edição 104 do International Magazine, em julho de 2004