Por Daniel Dutra | Fotos: Jim Wright/Divulgação
De cover de luxo do DIO à identidade própria. Formado pelos integrantes originais da banda de Ronnie James Dio – Vivian Campbell (guitarra), Jimmy Bain (baixo) e Vinny Appice (bateria) – ao lado do vocalista Andrew Freeman, o Last in Line tem uma linha do tempo não linear, e é isso que pode explicar a diferença entre Heavy Crown (2016) e II. Agora com Phil Soussan (ex-Ozzy Osbourne) no lugar deixado pelo saudoso Bain, falecido em 2016, o quarteto se afastou da proposta inicial também musicalmente, uma vez que o novo material pouco ou nada remete aos clássicos Holy Diver (1983), The Last in Line (1984) e Sacred Heart (1985).
O início com Black Out the Sun, depois da introdução preguiçosamente chamada de Intro, até engana. Lembra aquele lado mais pesado e melódico do DIO, assim como Give Up the Ghost também resgata o peso da primeira metade dos anos 80. A rigor, é isso, porque Sword from the Stone ameaça seguir pelo mesmo caminho, mas seu refrão não tem nenhuma remissão. Pelo contrário, combina com a levada arrastada e ‘bluesy’ da canção. Ou seja, fazendo força, temos três canções respirando o passado. Pouco entre as 12 do CD, menos ainda se considerarmos que o disco de estreia tinha nada menos que seis entre as suas 11 faixas – as mid-tempo The Devil in Me, Burn This House Down e Blame it on Me; e as up-tempo Already Dead, Martyr e I Am the Revolution.
Ponto para o Last in Line, que não reinventou a roda, mas criou um disco agradável ao buscar um rumo só seu. Rumo, aliás, que acerta ao parar para abastecer a sonoridade com um pouco de hard rock. Ouça The Unknown, por exemplo. Ou Landslide, que faz uma bela fusão do hard com o heavy rock e apresenta um dos destaques do álbum: Campbell. Na verdade, o grande mérito do grupo e fazê-lo tocar de verdade, uma vez que no Def Leppard o guitarrista é basicamente peça decorativa. Claro, é por causa da banda britânica que ele paga as contas, mas é bom demais ouvir solos como o de Landslide. Quer mais? Fique com as ótimas Gods and Tyrants, que tem um toque sulista à la Lynyrd Skynyrd, e Love and War, bonita e ligeiramente psicodélica.
Nesse quesito, daria até para destacar Year of the Gun, mas esta peca pelo refrão repetido exaustivamente – algo até comum em II, mas exagerado aqui. Seria uma pena ainda maior se ela fosse a maior performance de Appice, mas o sempre excelente batera brilha também em False Flag, um bom exemplo de como o Last in Line acerta ao pisar no acelerador. Isso vale também para a empolgante Electrified, na qual Freeman é quem brilha mais. O desfecho com The Light mistura todos esses elementos, com o refrão mais cadenciando quebrando o ritmo do instrumental mais rápido. E ainda tem o solo…
II pode ser a prova definitiva de que o Last in Line quer vencer por seus méritos. Por razões óbvias, a banda nunca vai se desvencilhar da sombra de Ronnie James Dio, mas buscar o próprio caminho é tão elogiável quanto a iniciativa de lançar material autoral. Apesar de ainda ser estranho olhar para (e ouvir) Campbell revisitando o passado, justamente por causa das rusgas públicas com Dio – e de o Last in Line ter acontecido não muito depois da morte do maior vocalista da história do heavy metal –, criar é exatamente o que deveria ser um dos pontos de interseção com o Dio Disciples. E talvez seja essa uma das razões das rusgas entre os dois grupos.
Faixas
1. Intro
2. Black Out the Sun
3. Landslide
4. Gods and Tyrants
5. Year of the Gun
6. Give Up the Ghost
7. The Unknown
8. Sword from the Stone
9. Electrified
10. Love and War
11. False Flag
12. The Light
Banda
Andrew Freeman – vocal e piano
Vivian Campbell – guitarra
Phil Soussan – baixo e teclados
Vinny Appice – bateria
Lançamento: 22/02/2019
Produção: Jeff Pilson
Mixagem: Andrew Freeman, Chris Collier e Phil Soussan