Foo Fighters

Maracanã – Rio de Janeiro/RJ – 25/02/2018

Foto: Alessandra Tolc

Foo Fighters

Por Daniel Dutra | Fotos: Alessandra Tolc

Setenta e duas horas depois de ser tomado por Phil Collins e The Pretenders, o Maracanã voltou a receber um grande evento de música – e o estádio voltará a ser o principal palco carioca de jogos de futebol quando os clubes não tiverem de pagar para jogar lá, mas essa é outra história. O fato é que o gramado virou pista de dança e de pula-pula em dois dias para agradar a quase todos. E o “quase” exatamente fica por conta da noite de domingo, cujo anfitrião, Foo Fighters, mostrou por que é a maior das últimas bandas de rock de arena.

A entrada coube ao Ego Kill Talent, banda paulista que já havia feito bonito no Palco Sunset da edição 2017 do Rock in Rio. E Jonathan Correa (vocal), Niper Boaventura e Theo van der Loo (guitarra e baixo), Raphael Miranda (baixo e bateria) e Jean Dolabella (bateria e guitarra) confirmaram o que havia ficado claro pouco mais de cinco meses atrás: fosse um grupo gringo, a caminhada seria mais fácil e rápida. O rock do quinteto transita com fluência entre o peso, o pop e o moderno, e nem mesmo a constante troca de instrumentos entre os integrantes durante o show é capaz de quebrar a dinâmica.

Just to Call You Mine abriu o set de 30 minutos, e a boa recepção da plateia acabou sendo o melhor presente que a banda poderia receber – ainda mais para quem, como lembrou Correa, há três anos estava naquela mesma pista para assistir ao Foo Fighters. Belo exemplo de heavy metal moderno, a ótima Sublimated acabou sendo ofuscada pela canção que mostra definitivamente a eficiência do Ego Kill Talent em compor música boa para tocar em rádio: We All. Sem querer desmerecer Heroes, Kings and Gods e, última da apresentação, Last Ride, duas peças tipo exportação.

Ego Kill TalentEgo Kill TalentEgo Kill TalentEgo Kill TalentEgo Kill Talent

E veio o Queens of the Stone Age… Bom, não há outra maneira de resumir – e resumir educadamente – o show da banda liderada pelo vocalista e guitarrista Josh Homme: para ficar chato ainda tem de melhorar muito. If I Had a Tail foi apenas o prenúncio de um sofrimento que só teve fim depois de uma hora e 15 minutos. O sentimento de déjà vu na música do quinteto – completado por Troy Van Leeuwen (guitarra), Michael Shuman (baixo), Dean Fertita (guitarra) e Jon Theodore (bateria) – não ajudou em nada, assim como também não ajudou pensar em The White Stripes em canções como Smooth Sailing. É fato: não há remédio para chatice.

Feet Don’t Fail Me, Make it Wit Chu, Domesticated Animals, Villains of Circumstance e The Lost Art of Keeping a Secret… Estivesse você no trabalho, seria caso de receber adicional de insalubridade. E You Think I Ain’t Worth a Dollar, But I Feel Like a Millionaire? Sabe aquele seu amigo que diz que tal banda de thrash, death ou black metal é barulho mal feito? Ele deveria ouvir a canção presente no álbum Songs for the Deaf (2002) – título autoexplicativo, diga-se. No entanto, e para não dizer que foi sempre um martírio, The Way You Used to Do e Little Sister soaram razoavelmente bem ao vivo, assim como o hit No One Knows não foi de todo ruim, apesar do desnecessário solo de bateria – e levantou o público, obviamente. Havia mesmo um bom número de fãs do QOTSA, afinal, poucas coisas são tão democráticas como a música.

Sim, foi um show muito chato o do grupo americano, mas felizmente o compatriota Foo Fighters colocou a coisa no seu devido lugar. E foi diferente desde os primeiros acordes de Run, do mais recente disco da banda, Concrete and Gold (2017), porque foi uma música nova na ponta de língua das 30 mil pessoas presentes no Maracanã – e foram mais três recém-saídas do forno: a excelente The Sky is a Neighborhood, Sunday Rain (cantada pelo batera Taylor Hawkins) e Make it Right. Apesar de a reação a elas não ter sido tão calorosa, também não foi o caso de deixar a peteca cair.

Queens of the Stone AgeQueens of the Stone AgeQueens of the Stone AgeQueens of the Stone AgeQueens of the Stone Age

Mas a levada contagiante de Run, como se tivesse saído de um estudo de ritmos brasileiros, foi o aquecimento ideal para All My Life e Learn to Fly, que obviamente acirraram para o bem o ânimo dos fãs. E com um baita sorriso no rosto, lá estava Dave Grohl, correndo de um lado para o outro, batendo cabeça, em vários momentos se esgoelando ao cantar… É preciso tirar o chapéu para esse cara. Não apenas por ser, sejamos sinceros, o único talento que havia naquele negócio chamado Nirvana, mas também por não esquecer o que o motivou a chegar ao status que hoje ostenta: o de um autêntico rock star.

E se serve para refrescar a memória, lembre-se do Probot. Apesar de o álbum homônimo do projeto lançado em 2004 não ter ficado à altura das expectativas, foi ele quem, num período de baixa para o heavy metal, juntou gente como Lemmy, King Diamond, Cronos, Lee Dorrian e Tom Warrior, entre outros, num projeto que chamou a atenção do mainstream. Grohl é o sujeito que, no próprio show de aniversário, chama Paul Stanley, David Lee Roth e Zakk Wylde ao palco para tocar músicas do KISS, Van Halen e Black Sabbath. Tem que respeitar. Simples assim.

Tão simples como The Pretender, Rope, My Hero e These Days são funcionais e, melhor ainda, têm mais pegada ao vivo. Mas Grohl não é o único a brilhar, até porque cede muito espaço a Chris Shiflett e Pat Smear (guitarras), Nate Mendel (baixo), Rami Jaffee (teclados) e Taylor Hawkins, seu fiel escudeiro. Depois da catarse em Breakout, com uma participação do público que foi de arrepiar, a apresentação da banda se transformou numa festa. Se Jaffee tocou umas melodias progressivas – “Isso é algo que vocês nunca vão ouvir num álbum do Foo Fighters”, brincou o chefe –, o restante foi na base do rock’n’roll.

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Shiflett, que várias vezes usou uma Gibson amarela com um adesivo do rosto de Ace Frehley, assumiu o microfone numa boa versão de Under My Wheels, de Alice Cooper – falta aos fãs, no entanto, fazer o dever de casa e descobrir as raízes da banda que tanto adora. Mendel puxou Another One Bites the Dust, do Queen, e também no improviso rolou Blitzkrieg Bop, do Ramones, pelas mãos do ovacionado Smear. Ao brincar com Love of My Life – afinal, segundo Grohl, estávamos todos num Rock in Rio –, Hawkins entregou o que muitos já esperavam: uma versão de Under Pressure com ele no vocal e Grohl na bateria. Ah, sim: durante o solo de Hawkins, em Sunday Rain, o praticável virou um elevador no melhor estilo Peter Criss, Eric Carr e Eric Singer. Ou seja, qualquer semelhança com o KISS não é mera coincidência.

Encerradas as homenagens, a trinca Monkey Wrench, Times Like These e Best of You colocou mais uma vez o Maracanã abaixo. É impressionante a quantidade de hits – e hits de qualidade indiscutível – que tem o Foo Fighters, mas o melhor ainda estava por vir. Coube a velharias a abertura do bis – This is a Call, do primeiro e autointitulado disco, lançado em 2005 – o encerramento da noite – Everlong, do segundo álbum, The Colour and the Shape (1997) –, mas foi o recheio que valeu o ingresso.

Em uma sincera e emocionante ode a Malcom Young, com direito a imagem do saudoso guitarrista no telão de fundo, a banda mandou ver numa arrasadora versão de Let There Be Rock. Da mesma forma que havia feito no México em 18 de novembro de 2017, mesmo dia em que a alma e o coração do AC/DC morreu. “Deus o abençoe, Malcom”, disse Grohl olhando para o telão e mandando um beijo para a imagem do maior guitarrista base da história do rock. Porque Grohl sabe que sem as raízes fincadas por bandas como o AC/DC ele não estaria fazendo o que faz muito bem: rock’n’roll.

Set list Foo Fighters
1. Run
2. All My Life
3. Learn to Fly
4. The Pretender
5. The Sky is a Neighborhood
6. Rope
7. Sunday Rain
8. My Hero
9. These Days
10. Walk
11. Breakout
12. Make it Right
13. Under My Wheels
14. Another One Bites the Dust / Blitzkrieg Bop / Love of My Life
15. Under Pressure
16. Monkey Wrench
17. Times Like These
18. Best of You
Bis
19. This is a Call
20. Let There Be Rock
21. Everlong

Set list Queens of the Stone Age
1. If I Had a Tail
2. Smooth Sailing
3. My God is the Sun
4. Feet Don’t Fail Me
5. The Way You Used to Do
6. You Think I Ain’t Worth a Dollar, But I Feel Like a Millionaire
7. No One Knows
8. The Evil Has Landed
9. I Sat By the Ocean
10. Make it Wit Chu
11. Domesticated Animals
12. Villains of Circumstance
13. Little Sister
14. The Lost Art of Keeping a Secret
15. Go With the Flow
16. A Song for the Dead

Set list Ego Kill Talent
1. Just to Call You Mine
2. Sublimated
3. We All
4. The Searcher
5. Heroes, Kings and Gods
6. Still Here
7. Last Ride

Clique aqui para acessar a resenha no site da Roadie Crew.