After Forever – After Forever

Nuclear Blast | Importado | 2007

Foto: Divulgação

After Forever – After Forever

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Quando lançou seu primeiro trabalho, Prison of Desire (2000), o After Forever nada mais era do que uma entre as várias bandas com vocais femininos. A febre de grupos com vocal soprano, no que se convencionou chamar de gothic metal, foi uma das mais fortes dentro do rock pesado dos anos 90 para cá. Muita gente tentando um lugar ao sol, mas poucos com talento suficiente para tanto. E apesar de os dois primeiros álbuns (o segundo, Decipher, chegou às lojas no ano seguinte) terem feito a banda conquistar uma base razoável de fãs, é difícil acreditar que os holandeses não estariam fadados ao esquecimento não fosse a saída do guitarrista Mark Jansen, ironicamente um dos principais compositores.

O miniálbum Exordium (2003), já com o ex-roadie Bas Maas no lugar de Jansen, começou a apontar o caminho para o futuro do After Forever. Com menos pompa e soando mais pesado e direto, o grupo foi crescendo a cada CD – os ótimos Invisible Circles (2004) e Remagine (2005) vieram na sequência – até atingir seu ponto mais maduro. O novo álbum, autointitulado, é um primor dentro do metal contemporâneo, e o sexteto – completado por Sander Gommans (guitarra e vocais guturais), Joost van den Broek (teclados), Luuk van Gerven (baixo), Andre Borgman (bateria) e a excepcional Floor Jansen (vocais) – prova que soube renovar seu som sem atingir sua integridade. Um feito, sem dúvida, pois bandas infinitamente maiores, como o Metallica, estão num mar de lama há bastante tempo por conta da tal evolução musical.


Os espaços para os vocais sopranos estão cada vez menores, e assim Floor pode mostrar uma faceta diferente de sua voz. De uma maneira ou de outra, está cantando que é uma barbaridade. Mas a linha mais direta, na verdade, nada tem a ver com a simplicidade. O instrumental está mais intrincado, muitas vezes próximo do prog metal (cortesia de Broek, que se tornou o parceiro definitivo de Gommans nas composições), vide os pouco mais de 11 minutos da ótima Dreamflight. Não à toa a banda contou com a participação da Orquestra Filarmônica de Praga, que contribuiu para enriquecer ainda mais a sua música. Uma decorrência natural da maturidade apresentada em faixas como Discord, a pesada e rápida Transitory, Envision e a excelente Equaly Destructive, todas com quebras certeiras de andamento, melodias vocais impecáveis e bons riffs de guitarra.

Apesar da ausência de solos, Gommans e Maas fizeram um ótimo trabalho, mas em De-Energized abrem a guarda para Jeff Waters, o líder do Annihilator, brilhar em solos que se encaixaram muito bem – e os vocais de Gommans dão o contraponto perfeito para a beleza da voz de Floor. A vocalista, aliás, também divide os holofotes com outra participação especial. Na ótima Who I Am, alterna as frases da letra com Doro Pesch. E não dá mesmo para deixar de voltar ao assunto. Só mesmo uma atuação de gala para se destacar num trabalho tão coeso e homogêneo, mas Floor consegue com tranquilidade, principalmente nas baladas Cry With a Smile e Empty Memories, em que sua atuação chega a ser covardia. E ela ainda carrega nas costas a excelente Energize Me, primeiro single do disco e, potencial radiofônico lá no alto da escala, hit certo.


Resenha publicada na edição 135 do International Magazine, em agosto de 2007