Aina – Days of Rising Doom

Hellion | Nacional | 2004

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Aina – Days of Rising Doom

Por Daniel Dutra | Foto: Divulgação

Óperas rock são sempre um projeto ambicioso, da mesma maneira que também não são mais nenhuma novidade. Jesus Christ Superstar e Tommy (The Who), claro, são referência no gênero, mas de uns anos para cá o heavy metal foi tomado de assalto por vários exemplares. Os guitarristas Nikolo Kotzev (Nostradamus), Arjen Lucassen (Star One e Ayreon) e Daniele Liverani (Genius) fizeram os seus, e o vocalista do Edguy, Tobias Sammet, não ficou atrás com o bem-sucedido Avantasia. No entanto, quando se pensava que já estava bom, eis que surge o Aina com ótimo Days of Rising Doom – The Metal Opera.

Com o time envolvido na história, era mesmo difícil imaginar que não desse certo. O núcleo central do Aina é formado por Sascha Paeth (guitarra, produção e arranjos), Robert Hunecke-Rizzo (bateria, guitarra, baixo, produção e arranjos), Miro (teclados, arranjos de orquestras e efeitos) e Amanda Somerville (vocal e concepção artística e lírica). Além de um instrumental de primeira linha composto basicamente pelos três primeiros, o conceito da obra é um trabalho primoroso de Amanda, que criou um país (Aina), sua língua (Aindahaj) e a história da guerra causada por um grande amor.

Musicalmente, o negócio é tão bom que dá até para esquecer alguns lampejos de metal melódico. Aliás, dois nomes se sobressaem de tal maneira que tornam Days of Rising Doom – The Metal Opera irresistível: Michael Kiske e Glenn Hughes. O ex-vocalista do Helloween está brilhante como sempre em Revelations, na bela Silver Maiden, em Restoration e na maravilhosa Serendipity. Hughes, por sua vez, dá aula na parte de lenta de Flight of Torek, mas também em The Siege of Aina (com a companhia de Candice Night, a senhora Ritchie Blackmore), Rebellion e Talon’s Last Hope, esta num ótimo dueto com Andre Matos (Shaman).


É claro que há outros destaques, a começar por Thomas Rettke, vocalista do finado Heaven’s Gate. Seria um desperdício deixá-lo mais uma vez fora dos vários projetos que pipocam no rock pesado, prova disso é a excelente The Beast Within, música de trabalho com um ótimo riff escrito por Paeth. Mas Rettke manda muito bem também em Naschtok is Born e Son of Sorvahr, esta uma das melhores do disco. Simone Simons (Epica) cumpre muito bem o papel de voz soprano em Restoration, enquanto Tobias Sammet mostra que está cada vez mais Andre Matos nas músicas em que participa, principalmente Flight of Torek.

No campo instrumental, é impossível não ressaltar os arranjos de orquestra da primeira à última faixa, a participação do Trinity School Boy Choir (formado por oito crianças) e os detalhes instrumentais muito bem sacados, como a influência de música árabe em Lalae Amêr. As participações especiais também não ficam apenas nos vocalistas, já que uma turma respeitável enriquece o trabalho, a destacar o baixista T.M. Stevens (Son of Sorvahr) e os tecladistas Derek Sherinian (The Siege of Aina), Erik Norlander (Rebellion) e Jens Johansson (Revelations, provando que é muito melhor quando não está no Stratovarius).

Para completar, Days of Rising Doom – The Metal Opera é acompanhado de um CD e um DVD bônus, ambos com farto material. O primeiro traz o épico The Story of Aina em duas versões (instrumental e com vocal); as edições de The Beast Within, Flight of Thorek e The Siege of Aina; a demo de Talon’s Last Hope (a cargo de Hunecke-Rizzo); e o mais bacana: versões alternativas para Rape of Oria e Silver Maiden, ambas na bela voz de Amanda. A primeira, inclusive, chama-se Ve Toúra Sol, nada menos que a canção cantada em Aindahaj. O belo trabalho termina com o DVD, que contém a indefectível galeria de fotos, o (ótimo) “making of” e o videoclipe de The Beast Within, todo feito em animação 3D. Um belo presente para os fãs de metal.


Resenha publicada na edição 103 do International Magazine, em junho de 2004.