Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
Chris Robertson (vocal e guitarra), Ben Wells (guitarra), Jon Lawhon (baixo) e John Fred Young (bateria) ainda carregavam as espinhas da adolescência quando formaram o Black Stone Cherry em 2001, sem esconder as raízes do que, nas palavras de Young, forma a sua “singular sonoridade americana de rock’n’roll” – sim, tem um detalhe importante aí: a banda nunca mudou de formação. A referência é ao acento sulista que sempre rondou o quarteto, mas Familly Tree não esconde a influência resgatada por Black to Blues (2017), um EP que completou o caminho que o quarteto havia voltado a trilhar em Kentucky (2016).
Não à toa esse mesmo caminho começou com a volta ao Barrick Recording Studio, em Glasgow, no estado de Kentucky, onde o grupo deu vida ao primeiro álbum, autointitulado, em 2006. Obviamente, nada disso quer dizer que Between the Devil & the Deep Blue Sea (2011) e Magic Mountain (2014) são trabalhos ruins – pelo contrário, até porque estão neles algumas das melhores canções do Black Stone Cherry, como Blame it on the Boom Boom e Me and Mary Jane, para citar apenas duas –, mas as nuances mais modernas foram definitivamente deixadas de lado no sexto álbum, que forjou 13 músicas muito agradáveis para quem curte rock movido a grandes riffs, solos (com slide, muito slide, mas também de gaita…) e refrãos (e como tem refrão bom no disco…).
Daria para resumir o CD em Dancin’ in the Rain, que tem como convidado o guitarrista e vocalista Warren Haynes (Gov’t Mule e ex-The Allman Brothers Band). Uma das melhores faixas, com um casamento entre as vozes de Robertson e Haynes que alcança a perfeição no refrão – fora os solos de guitarra, obviamente. Mas Family Tree é muito mais que isso. Há canções que escancaram a identidade construída pelo quarteto ao longo dos anos. Se Bad Habit é o típico arrasa-quarteirão que funciona como cartão de visitas, outras na mesma linha apresentam singularidades que as tornam únicas.
Enquanto Burnin’ acrescenta um toque mais pop, principalmente no refrão, e tem um solo dobrado simples e bonito, Carry Me on Down the Road traz um sotaque sulista mais forte. You Got the Blues, por sua vez, engana ao ser mais rock’n’roll do que o blues que o título faz imaginar, e I Need a Woman é cheia de groove e abusa da guitarra slide, mas destaca também um solo cheio de feeling e wah-wah e os backings do filho do Robertson, de 5 anos. Family Tree mesmo é um disco de rock cheio de detalhes, alguns escancarados como o ótimo piano em New Kinda Feelin’, que esconde uma leve menção a Third Stone from the Sun, de Jimi Hendrix; ou a percussão em Get Me Over You que pode remeter ao Mardi Grass, a tradicional festa carnavalesca de Nova Orleans.
Ou o trabalho de guitarra na contagiante Southern Fried Friday Night, com talk box e um solo curto e virtuoso – raridade, uma vez que os solos seguem um caminho de poucas notas e muito feeling. Como o com slide na faixa-título, uma música belíssima sem precisar ser balada, e o Hammond ajuda muito no resultado final. E são esses detalhes que deixam o álbum musicalmente mais rico. My Last Breath, por exemplo, tem um Wurlitzer caprichado, cortesia de Kevin McKendree – responsável por toda sorte de teclados, diga-se – e os lindos backings de Bianca Byrd e Sandra Dye.
As meninas, aliás, são um toque mais que especial. Elas brilham também em James Brown – com esse título, imagine se não é uma baita canção –, mas é em Ain’t Nobody que o bicho pega. Canção formidável e apontando para o gospel, com o qual o Black Stone Cherry já havia flertado antes, seu refrão é tão sensacional que ganhou uma versão 2.0 no fim, com Bianca e Sandra brilhando de mãos dadas com os solos matadores de Robertson e Wells.
Faixas
1. Bad Habit
2. Burnin’
3. New Kinda Feelin’
4. Carry Me on Down the Road
5. My Last Breath
6. Southern Fried Friday Night
7. Dancin’ in the Rain
8. Ain’t Nobody
9. James Brown
10. You Got the Blues
11. I Need a Woman
12. Get Me Over You
13. Family Tree
Banda
Chris Robertson – guitarra e vocal
Ben Wells – guitarra
Jonathan Lawhon – baixo
John Fred Young – bateria
Lançamento: 20/04/2018
Produção: Black Stone Cherry
Mixagem: Chris Robertson