Bon Jovi – This Left Feels Right

Universal | Nacional | 2003

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Bon Jovi – This Left Feels Right

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Há 15 anos ninguém poderia imaginar que os shows acústicos seriam um filão bastante rentável, gerando CDs e DVDs invariavelmente muito bem-sucedidos e que, segundo as más línguas, servem até mesmo para levantar artistas com a carreira capengando. Hoje, o formato “unplugged” é uma mina de ouro levada à frente principalmente pela MTV, mas curiosamente quem plantou a primeira semente não apenas levou mais de uma década gravar algo do tipo, mas o fez sem precisar estampar a marca da emissora.

Foi em 1988, durante o American Music Awards, que Jon Bon Jovi e Richie Sambora apresentaram versões de Wanted Dead or Alive e Livin’ on a Prayer embaladas apenas por dois violões – dois anos depois, também sem a chancela da MTV, o Tesla deu rumo definitivo ao formato com Five Man Acoustical Jam. Em 2003 chegou a vez de This Left Feels Right, o aguardado álbum acústico do Bon Jovi, que deu nova roupagem a clássicos e hits angariados em quase 20 anos de estrada. E o mais bacana de tudo reside justamente no fato de as músicas terem sofrido mudanças nos arranjos originais, a grande maioria ficando com um instrumental irreconhecível.

Se as canções não foram inteiramente “desplugadas”, já que há uma guitarra ou um baixo elétrico aqui e ali, pouco importa. A essência do disco está nos violões e na percussão que substitui a bateria em momentos oportunos. Assim, nem chega a ser surpreendente que sucessos como You Give Love a Bad Name e Born to Be My Baby tenham perdido o pique dos refrãos que grudam mais que chiclete em cabelo. Os marmanjos que torciam o nariz agora podem curtir sem medo a levada blues da primeira e o ritmo cadenciado da segunda.

O trabalho em This Left Feels Right foi tão cuidadoso que até mesmo as baladas ficaram melhores. Isso não quer dizer muita coisa, afinal, a maioria delas beira o insuportável, como Always. No entanto, vá lá que o arranjo de cordas enriqueceu Bed of Roses, e um quê de Beatles fez com que I’ll Be There for You ficasse menos soporífera. Todas estão superiores às versões originais, o que já não aconteceu com a originalmente excelente Wanted Dead or Alive, que, no mínimo, perdeu (e muito) sem os sempre ótimos backing vocals de Sambora.


Os bons resultados reaparecem nas cadenciadas Lay Your Hands on Me, Livin’ on a Prayer (com a participação de Olivia d’Abo nos vocais e outro bom arranjo de cordas) e Bad Medicine, mas os grandes destaques ficaram mesmo por conta de três das melhores músicas que o Bon Jovi compôs. Basicamente apenas com piano e voz, It’s My Life virou uma belíssima e melancólica balada; Everyday ganhou alguns loops interessantes e um clima bem intimista; e Keep the Faith manteve seu groove ao mesmo tempo em que recebeu uma aura gospel.

As versões ao vivo de The Distance e acústica de All About Lovin’ You vêm como bônus, mas o filé no quesito é mesmo o DVD que acompanha This Left Feels Right. São seis músicas gravadas no NRG Studios, numa sessão “unplugged” do Bon Jovi para o provedor AOL, realizada em dezembro de 2002. Bom, Hugh McDonald não larga o baixo elétrico, mas Sambora e o tecladista David Bryan comandam a festa. O primeiro não tem mais o que provar – tem um imenso bom gosto nos solos, harmonias e timbres –, mas Bryan acabou privilegiado pelo formato. É só conferir Someday I’ll Be Saturday Night, Diamond Ring e Blood on Blood, todas ótimas.

Em tempo: Last Man Standing e Thief of Hearts, as duas músicas inéditas que estariam no CD e ficaram fora de última hora, estarão no DVD que a banda pretende lançar neste início de ano. O vídeo trará os melhores momentos de dois shows realizados em novembro último, em Nova Jersey, com a participação de três convidados: Everett Bradley (percussão e backing vocals), Bobby Bandiera (segunda guitarra) e Jeff Kazee (segundo tecladista).

Resenha publicada na edição 100 do International Magazine, em janeiro de 2004.