Dr. Sin – 10 Anos ao Vivo

Paradoxx | Nacional | 2003

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Dr. Sin – 10 Anos ao Vivo

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Quando o Dr. Sin anunciou, em 2000, que estava virando um quarteto com a entrada do vocalista Michael Vescera (ex-Loudness e Yngwie Malmsteen), a sensação era de que o respeito e a admiração de fãs e imprensa especializada enfim se transformariam num merecido sucesso internacional. No mesmo ano, o excelente Dr. Sin II foi lançado com distribuição em bancas de jornal ― esquema que ainda engatinha no Brasil ― e lojas especializadas, mas o quinto disco do grupo não vingou da maneira que todos gostariam.

Sem Vescera ― que hoje acompanha o guitarrista Joe Stump no Reign of Terror e ainda reformou o Obsession ―, os irmãos Andria (baixo e voz) e Ivan Busic (bateria e vocal) e Eduardo Ardanuy (guitarra) seguiram em frente realizando shows pelo país. Para comemorar dez anos de carreira, o trio realizou dois shows especiais no Sesc Ipiranga, em São Paulo, nos dias 23 e 24 de maio de 2002, e ambos resultaram em 10 Anos ao Vivo, CD duplo e DVD lançados no fim do ano pela Paradoxx Music.

Os quatro anos sem gravar material inédito foram devidamente compensados com um trabalho tecnicamente perfeito. Afinal, Andria, Ivan e Ardanuy não apenas são três dos melhores músicos do Brasil, mas contribuíram de maneira fundamental para o desenvolvimento e crescimento do rock pesado feito em terras tupiniquins. De metade dos anos 80 para cá, fizeram parte de grupos seminais ― Platina, Cherokee e A Chave do Sol ― e emprestaram talento para Wander Taffo, Ultraje a Rigor e Supla, por exemplo.


Assim, 10 Anos ao Vivo é um pedaço da história do metal nacional, um verdadeiro presente para os fãs. Claro, álbuns ao vivo têm o mesmo defeito de coletâneas, ou seja, sempre falta alguma coisa ― particularmente, quatro das músicas favoritas deste que vos escreve ficaram fora: Miracles, Gates of Madness, Hey You e Scream and Shout. No entanto, as 18 canções do set list fazem jus à carreira do trio e cobrem com louvor os quatro trabalhos de estúdio.

Do primeiro CD, Dr. Sin (1993), não poderia faltar Emotional Catastrophe, primeiro grande clássico do trio, mas os destaques são Stone Cold Dead, que ganhou uma dose extra de peso, e The Fire Burns Cold, com trechos de Wild Thing e Voodoo Chile (Slight Return), do mestre Jimi Hendrix, e uma aula de Ardanuy (é impressionante o que esse cara toca!). Indo de um extremo ao outro, Dr. Sin II cede quatro músicas, e todas são um arregaço. Peso, riffs poderosos, refrãos contagiantes e instrumental preciso são encontrados em Time After Time, Fly Away, Eternity e Danger. E se Andria não atinge as notas mais altas de Vescera ― que canta uma barbaridade, diga-se ―, também não faz feio. Justiça seja feita, é um vocalista bem acima da média.


Com mais representatividade, Insinity (1997) tem seis canções no repertório. Sometimes ficou ainda melhor ao vivo; No Rules é anunciada com algumas notas de Lazy, do Deep Purple; e Leaving and Learnig e Zero provam a excelência do Dr. Sin para criar refrãos deliciosos. Ainda assim, impossível não dar maior destaque a Futebol, Mulher & Rock n’ Roll, que já nasceu com o rótulo de clássico, e para a maravilhosa Revolution, uma das melhores músicas da banda ― no show com a participação do percussionista Marcus Cesar e um emocionante coro do público.

Brutal (1995) traz outra surpresa: a belíssima Years Gone cantada também por Ivan e com as participações de Marcus Cesar e de Marcos Sérgio, este tocando xarango. Além disso, Isolated (que solo espetacular!), Karma e Down in the Trenches ficaram perfeitas ― principalmente a última, com Ardanuy mudando o solo, fato raro, e os irmãos Busic brilhando (Ivan com um trabalho de caixa impecável e quebradas e viradas precisas; Andria com uma aula de slaps e two hands). Em Fire, que encerra o show de maneira apoteótica, Andre Matos, vocalista do Shaman, sobe ao palco para uma participação especial e no fim se junta aos fãs para aplaudir o trio. Nada mais justo. Apesar de o DVD possuir extras bem tímidos ― todos os videoclipes poderiam ter sido incluídos ―, 10 Anos ao Vivo nasceu indispensável.

Resenha publicada na edição 102 do International Magazine, em maio de 2004.