Gene Simmons – Asshole

Sanctuary | Importado | 2004

Foto: Reprodução

Gene Simmons – Asshole

Por Daniel Dutra | Fotos: Reprodução

Quando Peter Criss anunciou em 1978 seu desejo de sair do KISS para gravar um disco solo, os outros três integrantes resolveram fazer o mesmo, evitando temporariamente a primeira mudança de formação de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos. Assim, Paul Stanley (vocal e guitarra), Gene Simmons (vocal e baixo), Ace Frehley (guitarra e vocal) e o batera não abandonaram as famosas maquiagens e lançaram seus trabalhos dando vazão a influências particulares e diversas. O álbum de Criss foi um fiasco de crítica e público, enquanto os de Stanley e Frehley foram aclamados e bem-sucedidos. Quanto a Simmons… Bem, o disco tinha ao mesmo tempo Cher (Living in Sin) e o guitarrista do Aerosmith Joe Perry (Radioactive e Tunnel of Love); Donna Summer dando um ataque histérico ao telefone em Burning Up With Fever; e uma regravação da música favorita do baixista, When You Wish Upon a Star, tema do desenho “Pinóquio”, da Disney.

Vinte seis anos depois, Tommy Thayer e Eric Singer estão encarnando os personagens de Frehley e Criss, respectivamente, e o KISS encontra-se numa turnê de despedida que não acaba nunca. Ao mesmo tempo, Simmons resolveu gravar seu segundo álbum solo, que chamar-se-ia “Firestarter”, depois mudou para “Dog” e, no fim das contas, chegou às lojas como Asshole. Não dá mesmo para levar o linguarudo a sério. Independentemente das jogadas de marketing – diga-se de passagem, a capa traz Simmons rodeado de mulheres de todos os tipos: louras, morenas, ruivas, feias, bonitas, ninfetas, magras, gordas, modelos com corpo escultural… –, na hora de avaliar o conteúdo (leia-se música) o resultado é decepcionante. Asshole tem pouca coisa boa e acaba não escapando do carimbo de um dos piores discos do ano, isso, claro, levando em consideração a turma de convidados sob a batuta de um sujeito que já compôs verdadeiros hinos do rock.


Independentemente das jogadas de marketing – diga-se de passagem, a capa traz Simmons rodeado de mulheres de todos os tipos: louras, morenas, ruivas, feias, bonitas, ninfetas, magras, gordas, modelos com corpo escultural… –, na hora de avaliar o conteúdo (leia-se música) o resultado é decepcionante. Asshole tem pouca coisa boa e acaba não escapando do carimbo de um dos piores discos do ano, isso, claro, levando em consideração a turma de convidados sob a batuta de um sujeito que já compôs verdadeiros hinos do rock.

O CD abre bem com Sweet & Dirty Love, que conta com a participação de Singer na bateria e não esconde a veia rock’n’roll de Simmons, que caprichou num riff empolgante. Não à toa, foi escrita em 1977, época em que o KISS estava no auge, mas inexplicavelmente ficou fora dos discos da banda. É a melhor das 13 músicas e, por isso mesmo, merecia uma sequência à altura. Firestarter, cover do Prodigy com Dave Navarro (ex-Jane’s Addiction e Red Hot Chili Peppers) na guitarra, nem ficou tão ruim se comparada às outras faixas, mas é desnecessária.

A pesada Weapons of Mass Destruction – “escrita antes de os Estados Unidos invadirem o Iraque e a discussão virar clichê”, garante Simmons – faz parte do grupo das mais interessantes, além de trazer um ótimo solo do ex-guitarrista do KISS Bruce Kulick, que mostrar ter um quesito fundamental a qualquer músico: identidade própria. Você ouve e sabe que é ele tocando. O mesmo acontece na igualmente pesada Carnival of Souls, sobra de Carnival of Souls (1997), registro derradeiro do Kiss com Simmons, Stanley, Singer e Kulick. Nela, o show é do extraordinário Richie Kotzen.


Pronto, temos apenas três músicas realmente relevantes. Até dá para aturar a descompromissada Whatever Turns You on, que conta nos backing vocals com Shannon Tweed, ex-playmate que vive com Simmons e é mãe de seus dois filhos; e Now That You’re Gone, com a herdeira Sophie Tweed Simmons nos backings – o outro rebento, Nick, participa em Carnival of Souls. Pronto, pois o resto é sofrível, a começar pela horrorosa Waiting for the Morning Light, cuja letra foi escrita em parceria com Bob Dylan anos atrás, e pela ridícula 1,000 Dreams e seu ritmo havaiano.

A faixa-título, composta pelo Shirleys Temple, banda norueguesa que enviou uma fita demo a Simmons Records, nada mais é do que trilha sonora para filmes do tipo “American Pie”. Por outro lado, Beautiful, Dog e If I Had a Gun são pop rock da pior qualidade. Para completar, o baixista aproveitou algumas ideias trabalhadas com Frank Zappa e gravou Black Tongue. A música conta com trechos da voz de Zappa e solos até então inéditos do saudoso músico ao lado de alguns novos feitos por seu filho Dweezil. Black Tongue nem é de todo ruim, mas fico imaginando se Zappa liberaria parte de sua obra, mesmo que ínfima, para figurar num disco como Asshole.

Resenha publicada na edição 104 do International Magazine, em juho de 2004.