Halford – Crucible

Sanctuary | Importado | 2002

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Halford – Crucible

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Se alguém ainda tinha dúvidas de que Rob Halford se arrependeu de seu projeto tecnoindustrial Two – levado a cabo com Trent Reznor, do Nine Inch Nails –, o novo trabalho do Halford, Crucible, acaba com todas elas. O disco é heavy metal puro, mesclando anos 80 com uma sonoridade moderna (nada de alterna metal, por favor) e com tudo para agradar em cheio aos fãs mais puristas do estilo.

Como em time que está ganhando não se mexe, o vocalista manteve o ótimo time de músicos dos dois últimos trabalhos – Resurrection (2000) e o duplo ao vivo Live Insurrection (2001). Além dos guitarristas Pat Lachman e Mike Chlasciak, do baterista Bobby Jarzombek e do baixista Ray Riendeau, à frente da produção continua Roy Z, e a qualidade fica 100% garantida. A gravação de Crucible não deixa buracos para críticas.

Curiosamente, para delírio dos fãs, Halford mais uma vez se mantém fiel ao som do Judas Priest, mais ainda que sua própria ex-banda. One Will e Betrayal (com vocais um tanto quanto cansativos) são bons exemplos de como o grupo inglês soava na década de 80 e hoje, com o excelente Tim “Ripper” Owens nos vocais, se descaracterizou com os apenas bons Jugulator (1997) e Demolition (2001).


Mas Halford não se prende totalmente ao passado com o Judas, porque lembra seus momentos com o Fight em Handing Out Bullets e Hearts of Darkness. Apesar do visual mezzo heavy metal, mezzo Village People, Crucible traz algumas pérolas do rock pesado: Golgotha, Weaving Sorrow, Heretic, Trail of Tears e a faixa que dá nome ao disco são grandes composições, com riffs espertos e uma cozinha dominada por Jarzombek, que rouba a cena em vários momentos.

Acabou? Claro que não. A pesadíssima Wrath of God, Crystal e Sun mostram que Halford ainda tem muito pano para manga e continua sendo um vocalista de primeiro escalão (mais ainda quando não se esgoela). Esperto, aposta no tradicionalismo ao mesmo tempo em que incorpora mais peso às músicas. Ainda que felizmente não tenha sofrido com o preconceito por ter assumido ser homossexual, Halford recebeu pesadas críticas por causa do Two e soube dar a volta por cima.

Fazendo aquilo que sabe fazer melhor, precisava apenas acertar o primeiro tiro. Conseguiu com Ressurrection (2000) graças à reputação de “Metal God” adquirida por escrever um capítulo à parte na história do metal. Assim vieram a participação de Bruce Dickinson – mais do que nunca em alta por causa da volta ao Iron Maiden – na excelente The One You Love to Hate e, merecido reconhecimento, a ajuda providencial de Roy Z. Guitarrista, compositor e produtor de mão cheia, foi ele um dos responsáveis por também levantar a carreira solo de Dickinson depois do fracasso com Skunkworks (1996). No Halford, assinou várias músicas do primeiro disco e algumas de Crucible. Só faltou mesmo ser músico efetivo.


Felizmente para uns, infelizmente para outros, Rob Halford e sua banda podem ter sua vida encurtada. A dedicação full time do vocalista acabou sendo um dos empecilhos para que o aguardado projeto com Dickinson e Geoff Tate (Queensrÿche) não saísse do papel. Muito gente sonhou com o dia em que seria lançado o CD Three Tremors – ou Trinity, como queiram –, a união de três das maiores vozes do rock em todos os tempos.

Agora é a vez de os boatos dando conta de uma possível volta do vocalista ao Judas Priest tomarem conta do cenário. Tudo bem, é assunto antigo, mas a fonte vem do grupo Halford. Em entrevista à revista Roadie Crew, o líder do Riot, Mark Reale, comentou a possibilidade de Jarzombek retornar ao seu posto no grupo. O motivo? O batera teria dito que não há muito mais o que fazer na banda de Rob Halford, já que o mesmo não estaria escondendo seu desejo de ser parte integrante de mais uma reunião no metal. Enquanto isso, fique com Crucible. É muito mais seguro.

Resenha publicada na edição 88 do International Magazine, em outubro de 2002.