Iron Maiden – Visions of the Beast

EMI | Nacional | 2003

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Iron Maiden – Visions of the Beast

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

O novo álbum do Iron Maiden, Dance of Death, chega às lojas no dia 9 de setembro, mas os fãs ganharam um belo aperitivo enquanto aguardam o segundo trabalho da banda inglesa em forma de sexteto – Bruce Dickinson (vocal), Steve Harris (baixo), Nicko McBrain (bateria) e os guitarristas Dave Murray, Adrian Smith e Janick Gers. O DVD duplo Visions of the Beast passa a limpo todos os clipes gravados pela Donzela, a discografia e os inevitáveis extras (lá fora saiu também em VHS, apenas com os 31 vídeos promocionais). Tudo dentro de uma embalagem de dar gosto de tão bonita e bem elaborada, incluindo um ótimo menu interativo (destacando sempre o mascote Eddie).

O primeiro disco é quase perfeito, musicalmente falando. Women in Uniform, do single homônimo, mostra o Iron Maiden ainda com Dennis Stratton, guitarrista presente no primeiro e autointitulado disco do grupo, lançado em 1980, e que mais tarde seria substituído por Smith. Infelizmente, a fase Paul Di’Anno só é representada por mais um clipe, Wrathchild, tirado do vídeo Live at the Rainbow (1981), único registro oficial da turnê da obra-prima Killers, do mesmo ano. Uma pena, pois do mesmo show poderia ter sido aproveitada a versão de Remember Tomorrow. Na verdade, bem que Live at the Rainbow poderia sair em DVD.


A banda passaria a gravar mais clipes depois da entrada de Dickinson, em 1982. Absolutamente toscos e divertidos nos primeiros anos, diga-se. A estreia de Air Raid Siren – nome dado às sirenes antiaéreas e que virou o apelido do vocalista em seus anos no Samson – foi de gala, com o fabuloso The Number of the Beast. Dele saíram a faixa-título e o hilário Run to the Hills. Lançado em 1983, Piece of Mind marcou a estréia de McBrain, em substituição a Clive Burr, e os dois clipes recaíram justamente sobre as duas melhores músicas: Flight of Icarus e The Trooper.

Para muitos o disco definitivo do Iron Maiden, Powerslave (1984) cedeu Aces High e 2 Minutes to Midnight (cujo riff de guitarra é uma releitura de Burn, do Deep Purple). O disco continuaria sendo excepcional se lançado hoje, mas poderia ter mais um ponto a favor: um videoclipe bem feito e produzido para o épico Rime of the Ancient Mariner. Wasted Years (com cenas da banda tocando no estúdio, intercaladas com várias imagens de sua história) e Stranger in a Strange Land (pegando todo mundo no palco), de Somewhere in Time (1987), são dois dos melhores trabalhos de toda a videografia do grupo, enquanto o conceitual Seventh Son of a Seventh Son só peca por Can I Play With Madness (a música, não o clipe, que é muito legal).


The Evil That Men Do e Infinite Dreams, retirados do home video Made in England (1989), e The Clairvoyant, ao vivo no Donington ’88, encerram o período criativamente fértil e diferenciado do Iron Maiden. Daí para frente, bons e maus momentos, mas nada genial como o passado. Fechando o primeiro DVD, Holy Smoke e a intragável Tailgunner são exemplos de como No Prayer for the Dying (1990) é um disco fraquinho, fraquinho – o primeiro com Gers no lugar de Smith. O mesmo álbum abre o segundo disco, com Bring Your Daughter… To the Slaughter, originalmente gravada pela banda solo de Dickinson para a trilha sonora de um dos filmes da série “A Hora do Pesadelo”.

Um pouco melhor, Fear of the Dark (1992) tem os clipes da ótima Be Quick or Be Dead, From Here to Eternity (quase autoplágio de Holy Smoke), Wasting Love (aquela que é ou não é plágio descarado da balada Die For Love, composta por Marc Ferr nos anos 80?), Afraid to Shoot Strangers e a versão ao vivo da faixa-título no Donington ’92 (do mesmo show ainda temos Hallowed Be Thy Name). A fase da banda com Blaze Bayley tem seis vídeos para algumas músicas bem chatinhas – Virus e The Angel and the Gambler – e outras nem tanto – Man on the Edge, Lord of the Flies e Futureal.


Apesar de The X Factor (1995) e Virtual XI (1998), os dois álbuns controversos da banda, e Bayley, um vocalista que não encaixou bem, Visions of the Beast é indispensável. Afinal, se é para contar a história, o retorno de Dickinson e Smith à banda fecha muito bem o DVD. Brave New World não é nenhuma obra-prima, realmente, mas é o melhor álbum da Donzela em 13 anos. The Wicker Man e Out of the Silent Planet são a prova, sem contar a música que dá nome ao trabalho, tirada do DVD Rock in Rio (2002), que teve uma edição de imagens tão ágil, mas tão ágil, que fica difícil acompanhar o show.

Agora que você já sabe o que Visions of the Beast tem a oferecer – isso se já não correu à loja mais próxima para comprá-lo –, fique de olhos nos ótimos extras. A “versão futebol” de Futureal, com cenas da seleção Iron Maiden em amistosos (leia-se “peladas”) ao redor do mundo, liderada pelo camisa 11 Steve Harris (que coincidência…); Fear of the Dark ao vivo no Rock in Rio (com a sacanagem de Harris na mixagem, colocando a voz de Dickinson quando só deveria ter o público cantando); e Aces High, The Number of the Beast, The Wicker Man, Flight of Icarus e Run to the Hills na versão Camp Chaos, ou seja, os clipes com desenhos animados da banda referentes ao tema das músicas. São simplesmente impagáveis!


Resenha publicada na edição 96 do International Magazine, em setembro de 2003.