Por Daniel Dutra | Fotos: Vitor Marcel/Divulgação
Inverno Mineiro mostra outro lado de Khadhu Capanema, que mergulhou na própria história e em suas raízes musicais para criar uma sonoridade mais distante daquela feita pelo Cartoon. O fato de as músicas terem sido compostas entre 2016 e 2017 até mostra uma proximidade estrutural com V (2017), álbum mais recente da banda, mas o primeiro disco solo do músico multi-instrumentista vai além ao ser um trabalho realmente acústico. Em uma rica mistura de estilos – que faz do próprio Cartoon uma banda rotulada de rock progressivo por falta de um novo termo –, as 12 músicas passeiam muito mais pelo folk e pela Música Popular Brasileira. E é uma pena que provavelmente não vá chegar ao grande público de MPB, diga-se (ao menos, não no próprio país).
Com letras em português, algo que Khapanema não fazia desde o álbum de estreia do Cartoon, Martelo (1999), Inverno Mineiro tem um alto astral que pode ser traduzido na faixa que abre o CD, Cinco Sorvetes, que chama a atenção pelo casamento do violão como piano, além de ser boa de cantar; em Deixa Brilhar, cuja letra é suficientemente inteligente para evitar o clima de pregação; e Valerá, enriquecida pelo Hammond do convidado Raphael Rocha. Esse mesmo clima positivo não desaparece em canções mais introspectivas, como Já Não Me Importo e Mais Claro Que o Sol, que cresce em emoção em determinados momentos e tem novo destaque para a dobradinha violão/piano.
Todas cinco apresentam outro aspecto do disco: beleza, e uma beleza que se destaca ainda mais no violão e voz (que baita melodia vocal) na infelizmente curta 20 Anos; na relaxante faixa-título; e em Por Uma Noite, que acerta em cheia numa combinação perfeita de instrumental – com solo de saxofone e uso de Wurlitzer – com vocal. No caso, o coral formado pelas vozes de Guilherme Castro, André Godoy, Raphael Rocha, André Marquez, Lorena Amaral e Marcelo Cioglia. Os seis também brilham em Num Canto do Quarto, que fica sensacional de vez com os arranjos de corda, uma levada quase tribal da bateria com a percussão e outro solo de sax.
Com uma bonita orquestração de fundo, Lâmina apresenta um toque de blues, que pediu por um solo bem legal de violão e foi atendido. Ouro Branco, por sua vez, tem um quê de Beatles – e isso sempre faz bem, principalmente quando executado à altura – que deixa a letra autobiográfica ainda mais agradável, porque pode trazer à tona boas lembranças da infância de qualquer um. E tem Chaves do Universo, que se torna a favorita em Inverno Mineiro com arranjo de metais, melodia vocal perfeita e linha de baixo se juntando a todos os outros predicados sonoros. É o resumo de um trabalho muito bonito e agradável.
Faixas
1. Cinco Sorvetes
2. Já Não Me Importo
3. Deixa Brilhar
4. Inverno Mineiro
5. Lâmina
6. Por Uma Noite
7. Ouro Branco
8. Chaves do Universo
9. 20 Anos
10. Mais Claro Que o Sol
11. Valerá
12. Num Canto do Quarto
Músicos
Khadhu Capanema – vocal, violões, baixo, gaita e esraj
Marcelo Ricardo – bateria e vocais
Christiano Caldas – piano e teclados
Paulo Santos – percussão
Fractal Orquestra:
Thiago Rocha Mello – violino
Samuel Gomide – violino
Rômulo Salobreña – viola
Rodrigo Garcia – violoncelo
Renato Savassi – saxofone e flauta
Renison Oliveira – trompete
Pedro Aristides – trombone
Lançamento: 23/08/2018
Produção: Khadhu Capanema
Mixagem: Guilherme Rancanti e Khadhu Capanema