KISS – KISS Symphony: Alive IV

Sanctuary | Importado | 2003

Foto: Divulgação/Reprodução

KISS – KISS Symphony: Alive IV

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação e Reprodução

“Quando a Orquestra Sinfônica de Melbourne se juntar ao KISS, prometo que o resultado não será menor que uma explosão sônica. Beethoven e Mozart levantarão dançando e com seus punhos erguidos enquanto nós estivermos oferecendo um espetáculo que será clássico e erudito ao mesmo tempo. É hora de black tie e couro preto”, disse o guitarrista e vocalista Paul Stanley na coletiva de imprensa para anunciar o show realizado em 28 de fevereiro deste ano, na Austrália. Se as palavras são exageradas ou não, você pode conferir em KISS Symphony: Alive IV, CD duplo que chegou às lojas no dia 22 de julho (o DVD será lançado em 9 de setembro).

Coletâneas de todos os tipos, box set incluindo material inédito, outros três discos ao vivo, acústico para a MTV, tributo organizado pelo próprio grupo… Agora só falta um álbum de covers. No ano em que o KISS comemora 30 anos, nada é impossível. A apresentação no Telstra Dome, junto à orquestra regida por David Campbell, é um prato cheio para os fãs, sejam os que podem comprar apenas os discos ou aqueles que têm grana para colocar a mão em todo e qualquer badulaque idealizado por Stanley e o baixista e vocalista Gene Simmons. KISS Symphony: Alive IV é mesmo um ótimo álbum, mas tem alguns detalhes que incomodam – daí a necessidade de colocar um freio no entusiasmo dos mais fanáticos.

O “Primeiro Ato” conta apenas com a banda – completada por Peter Criss (bateria e vocal) e Tommy Thayer (guitarra), que substituiu Ace Frehley e fez um belíssimo trabalho – no palco. Seria interessante dizer que as seis músicas apresentadas são clássicos, mas seria forçar a barra. Deuce, Strutter, Let Me Go Rock & Roll e Calling Dr. Love se encaixam na definição, mas estão sozinhas. Psycho Circus é uma boa canção, só que Lick it Up é um insistente balde de água fria. Ao menos Heaven’s of Fire, outra favorita de Stanley, ficou fora da festa. Seria um tremendo desperdício de tempo.

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Com a Melbourne Symphony Ensemble, formada por 12 dos 60 integrantes da orquestra, o KISS fez do “Segundo Ato” um pequeno set acústico. A indefectível Beth é o ponto de partida, mas a balada cantada por Criss ficou realmente legal na nova roupagem, com os arranjos de corda enriquecidos de novas partes. Goin’ Blind e Sure Know Something poderiam ter dado lugar a outras músicas não apresentadas no já antológico KISS Unplugged (1996), mas não chegam a ser uma pisada na bola como Forever e Shandi. Na verdade, duas ótimas canções descaracterizadas pelo baterista. É claro que Criss não reproduz os licks originais do saudoso Eric Carr em Forever, até porque ele não tem condições técnicas para tanto, mas também não precisava fazer uma introdução tão ridícula para Shandi.

Contando com todos os membros da Melbourne Symphony Orchestra – devidamente maquiados como o grupo, diga-se de passagem –, o KISS fez do “Terceiro Ato” o grande momento de KISS Symphony: Alive IV. Dez músicas e o reconhecimento ao álbum Destroyer, apontado por muitos como a obra-prima do KISS e discoteca básica do rock. Lançado em 1976, quando a banda era ridicularizada pela crítica, o disco cedeu mais seis canções ao show (além de Beth) e é responsável por um dos momentos mais emocionantes: Great Expectations, que nunca havia sido tocada ao vivo. Para ficar ainda mais bonito, as 24 crianças do Australian Children’s Choir não deixaram faltar nada da versão de estúdio.

Detroit Rock City incendeia o público – composto até por brasileiros, saudados por Stanley durante a apresentação – e mostra uma orquestra que trabalhou em cima das músicas, sem muita invenção. Ponto para ela. Apesar de um único deslize – em King of the Night Time World –, o resultado ficou muito, muito bom. Do You Love Me, God of Thunder, Shout it Out Loud e Love Gun dispensam apresentações, mas os grandes destaques são mesmo I Was Made For Lovin’ You (nunca ficou tão bem ao vivo), Black Diamond (simplesmente emocionante) e o hino Rock and Roll All Nite. Apesar de algumas bolas na trave, o saldo de KISS Symphony: Alive IV é positivo. Para os fãs da banda, para os fãs de rock.

Resenha publicada na edição 96 do International Magazine, em setembro de 2003.