Por Daniel Dutra | Fotos: Dirk Behlau/Divulgação
Lembro-me de ter tirado, em cima da hora, Forged in Fury da minha lista de melhores de 2015 enviada para Roadie Crew. Por quê? O disco é excelente, mas usei como critério me ater aos estilos dos quais sou mais fã – apesar de acompanhar o Krisiun desde sempre, e com muito mais afinco a partir de Works of Carnage (2003), o death metal nunca foi uma das minhas prioridades musicais. Três anos depois, o novo álbum não apenas é um dos meus cinco nacionais favoritos de 2018, como também entrou no Top 10 enviado para a revista. Ironicamente, porque o 11º disco do grupo é absurdamente brutal. E não chega nem mesmo a ser um mea-culpa, porque Scourge of the Enthroned virou a trilha sonora ideal do momento que vivemos (e isso basta para bons entendedores).
A intenção de Alex Camargo (baixo e vocal), Moyses Kolesne (guitarra) e Max Kolesne (bateria) era um retorno às raízes do próprio death metal, e o groove que marcou o álbum anterior deu lugar à velocidade tradicional do gênero. Muito mais velocidade, é bom dizer, porque o Krisiun sempre buscou, sem perder a essência, novos elementos para não fazer o mesmo disco de death metal lançamento sim, lançamento também . E aqui está a beleza de nunca ter se acomodado: a cada trabalho, respeito e admiração de toda a comunidade metal. Scourge of the Enthroned é assim já com a sua faixa-título, cujos primeiros 56 segundos são uma introdução ao massacre que vem a seguir, com o riff servindo de derradeiro convite.
Há partes mais thrash convivendo perfeitamente com a fúria do death, uma que harmonia que ganha ainda mais vida em Demonic III. As partes cadenciadas são tão espetaculares quanto a seção instrumental na segunda metade da música, cortada por solos matadores de Moyses, mesmo os mais curtos, e as viradas insanas de bateria de Max – o Krisiun se encaminha para os 30 anos de vida, e vamos continuar nos surpreendendo por muito mais tempo com esse cara comandando as baquetas. Com blast beats fazendo um contraste sensacional na parte do primeiro solo, e mais uma sequência cadenciada que é heavy metal puro, Devouring Faith fecha os primeiros 15 minutos do CD deixando o ouvinte sem fôlego.
Mais diretas, Slay the Prophet e A Thousand Graves (que riff absurdo o da abertura) fazem, depois do início avassalador, você perceber como a velocidade e a brutalidade do Krisiun soam orgânicas. O ouvido e a técnica de Andy Classen parecem ter sido feitos sob medida para a banda, com a qual ele, como produtor, já havia trabalhado em Works of Carnage, AssassiNation (2006), Southern Storm (2008) e The Great Execution (2011) – quatro discos que dizem muito sobre essa união. Impecável, a produção engrandece as rápidas mudanças de andamento, capitaneadas pela guitarra (tema e solo fantásticos), em Electricide.
A variação se faz presente também em Abysmal Misery (Foretold Destiny), cujo instrumental, que também passeia entre o cadenciado e a velocidade com a precisão de Max, é igualmente cortado por solos de tirar o fôlego de Moyses. E num disco mais curto que Forged in Fury – 38 minutos contra 51 do trabalho anterior, mais uma amostra do retorno ao passado –, a maravilhosa Whirlwind of Immortality ganha contornos de épico com seus quase seis minutos, dando de presente outro riff cavalar e mais uma grande e furiosa performance vocal de Alex. Ainda é possível se orgulhar de algumas coisas originadas no Brasil, e o Krisiun continua sendo uma delas.
Faixas
1. Scourge of the Enthroned
2. Demonic III
3. Devouring Faith
4. Slay the Prophet
5. A Thousand Graves
6. Electricide
7. Abysmal Misery (Foretold Destiny)
8. Whirlwind of Immortality
Banda
Alex Camargo – baixo e vocal
Moyses Kolesne – guitarra
Max Kolesne – bateria
Lançamento: 07/09/2018
Produção e mixagem: Andy Classen