Megadeth – Rude Awakening

Sanctuary | Nacional | 2002

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Megadeth – Rude Awakening

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Dave Mustaine terá muito tempo para descobrir (ou não) o porquê da falta de sorte. Líder do Megadeth, o guitarrista levou o ano de 2001 para resgatar o crédito da banda, que quase foi para o espaço depois do lançamento do fraquíssimo Risk em 1999. Para a outra guitarra, conseguiu em Al Pitrelli um substituto tecnicamente à altura de Marty Friedman; assinou com a Sanctuary Records e com o lançamento de The World Needs a Hero levou seu grupo de volta ao peso. Apesar de não ter tido o êxito comercial de outrora, o álbum devolveu o sorriso de satisfação e esperança aos fãs.

Para a nova gravadora, o que é importava mesmo era recolocar a banda cada vez mais forte no cenário mundial do heavy metal. O trabalho seguiu com o DVD Behind the Music, contendo a íntegra do ótimo documentário realizado pelo canal a cabo VH1, além dos tradicionais extras (o clip de Moto Psycho, galeria de fotos et cetera). E não foi surpresa o anúncio do primeiro trabalho ao vivo do grupo (descontando o EP Live Traxx, apenas para o mercado japonês), o duplo Rude Awakening, lançado em 19 de março, com o respectivo DVD saindo em 9 de abril. Mas…

No dia 3 de abril, ou seja, ironicamente num período entre os lançamentos, Mustaine anunciou o fim do Megadeth em comunicado oficial à imprensa e no site oficial do grupo. No início do ano, em sua fazenda, no Texas, o músico sofrera um acidente em que um dos nervos de seu braço esquerdo foi afetado, comprometendo os movimentos da mão. Os médicos diagnosticaram uma neuropatia radial (compressão do nervo), e a recuperação não levará menos de um ano – pior, não há certeza se o tratamento terá um resultado 100% positivo. Mustaine agradeceu a todos os fãs pelos “ótimos momentos”, mas afirmou que o problema fez com que ele decidisse se dedicar à família. Uma história de quase 20 anos de bons serviços prestados ao rock pesado chegava ao fim.

Com isso, Rude Awakening ganha status de obra indispensável. Na verdade, nem precisava de uma situação, digamos, dramática. A obrigatoriedade se dá pela qualidade do trabalho. São 24 músicas que passam a limpo a carreira da banda disco a disco, à exceção de Risk (sem bem que valeria a inclusão de Prince of Darkness, apenas e tão somente). Não faltam clássicos – como Wake Up Dead, In My Darkest Hour, Hangar 18, Symphony of Destruction, Peace Sells e Holy Wars – como também algumas boas surpresas – Devil’s Island, Mechanix (se alguém ainda não sabe: The Four Horsemen, do Metallica, mas com outra letra), Tornado of Souls e Ashes in Your Mouth.

Apenas Hook in Mouth soa deslocada, mas não faz com que Rude Awakening soe menos excelente. Composta em 1987, a música foi uma resposta ao PMRC, entidade criada por Tiper Gore (esposa de Al Gore, vice-presidente dos EUA no governo Bill Clinton) para fiscalizar (leia-se tentar proibir) o lançamento de álbuns nos anos 80. À época, a atitude só fez chamar mais atenção paras as bandas de heavy metal, e o resultado prático do policiamento foi apenas o selo “parental advisory: explicit lyrics”, que não impede ninguém em sã consciência de comprar um CD.

Prato principal, por razões óbvias, o DVD faz lamentar o fim do Megadeth ao mesmo tempo em que prende a atenção do primeiro ao último minuto. É nele que percebe-se quão bom era um show da banda, sempre com um repertório de importantes capítulos do heavy metal. Méritos absolutos para Mustaine – guitarrista extremamente competente, vocalista nem tanto, mas um dos melhores compositores do estilo em todos os tempos.

A espera pelos inevitáveis lançamentos caça-níqueis (ou não) ficou mais certa quando Mustaine colocou todo seu equipamento à venda no mês passado. Sintomático? Talvez, mas para muitos ainda resta a esperança de que a carreira de um excelente músico não tenha mesmo chegado ao fim. Do outro lado, Al Pitrelli retornou ao Savatage, e o baixista David Ellefson, fiel escudeiro de Mustaine durante todos esses anos, fundou a Ellefson Music Production, companhia que irá gerenciar bandas novas. Quanto ao exímio Jimmy DeGrasso, um dos bateras mais técnicos e precisos do heavy metal, Alice Cooper o espera.

Resenha publicada na edição 84 do International Magazine, em junho de 2002.