Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
Depois de 14 anos de bons serviços prestados à música e 15 discos lançados – três deles exclusivamente no Japão –, o Mr. Big acabou. Ao lado do Badlands de Jake E. Lee (ex- Ozzy Osbourne) e do Blue Murder de John Sykes (ex-Whitesnake), a banda formada por Billy Sheehan (baixo), Paul Gilbert (guitarra), Pat Torpey (bateria) e Eric Martin (vocal) surgiu no fim dos anos 80 com merecido status de supergrupo. E foi mais longe do que os outros dois, que não duraram mais que três álbuns (no caso do Badlands, uma pena).
Ironicamente, ao mesmo tempo em que conhecia o sucesso comercial, o Mr. Big acabou subestimado por suas baladas, principalmente depois do estrondoso sucesso mundial de To Be With You (1991). Uma coisa levou à outra, e muita gente não fez questão de conhecer o lado hard rock do grupo. Mas se isso não aconteceu antes, provavelmente não será agora. Depois de um período de três anos de férias, iniciadas em 1996, a banda retornou com Richie Kotzen no lugar de Gilbert, lançou dois trabalhos de estúdio – incluindo um dos melhores de toda a carreira, Get Over it – e sucumbiu por causa dos problemas internos.
Depois do excelente Actual Size, de 2001, o relacionamento entre Martin e Sheehan chegou ao limite. O baixista foi despedido depois de criticar publicamente o direcionamento mais pop do trabalho, e o Mr. Big perdeu o rumo dos negócios. As turnês japonesa e asiática foram canceladas pelos promotores, que exigiam a presença de Sheehan, não à toa um dos melhores – senão o melhor – baixista de rock das últimas duas décadas. Para honrar os compromissos, o acordo foi simples: os quatro voltariam aos palcos, mas pela última vez – uma imposição de Sheehan, diga-se de passagem.
Dito e feito. Como resultado, o lançamento do CD In Japan e do DVD Farewell Live in Japan, capturando o derradeiro show do Mr. Big, no dia 5 de fevereiro de 2002, no Tokyo International Forum. O resultado, como todo registro ao vivo do grupo, tem produção cristalina e performance impecável. O DVD, claro, tem seus extras: solos de Sheehan e Kotzen, entrevistas individuais com cada integrante e três músicas a mais que o disquinho de áudio – Where Are They Now?, Take a Walk e Mr. Big (canção do Free que deu nome à banda). Pena que seis músicas do set list não estejam presentes em nenhum formato. São elas Wild World (Cat Stevens), 30 Days in the Hole (Humble Pie), Green-Tinted Sixties Mind, My New Religion, Colorado Bulldog e Take Cover (as duas últimas certamente entre as melhores do grupo).
Mesmo assim, há um bom apanhado da carreira da banda, obviamente incluindo To Be With You. Representando a primeira fase, músicas arrasa-quarteirão como Addicted to That Rush e Daddy,Brother, Lover, Little Boy se juntam às empolgantes Alive and Kickin’, Blame it on My Youth e Price You Gotta Pay. A segunda era tem sua indefectível balada, Superfantastic, mas Lost in America, Dancin’ With My Devils, Electrified e Suffocation mostram todo o poder de fogo do Mr. Big.
E Suffocation, aliás, é a prova de que Sheehan, Torpey e Kotzen poderiam formar um power trio espetacular. Os dois primeiros são uma cozinha perfeita, com o batera dando aula num kit básico, assim como Ian Paice (Deep Purple) fazia nos anos 70. Já Kotzen prova mais uma vez ser um dos melhores guitarristas da atualidade. Além de extraordinário em seu instrumento – passeando pelo rock, funk, soul e jazz com extrema facilidade –, é um ótimo vocalista, obscurecendo Eric Martin na própria Suffocation e nas excelentes Static e Shine. Nada que faça Martin deixar de ser um dos melhores do estilo, de timbre único e agradável. Se o CD e o DVD são mais dois motivos para lamentar o fim do Mr. Big, serve de consolo que a banda tenha se despedido em grande estilo.
Resenha publicada na edição 87 do International Magazine, em setembro de 2002.