Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
Os superprojetos reunindo músicos de grandes nomes do rock progressivo e do rock pesado tornaram-se uma constante nos últimos anos. Attention Deficit, Explorer’s Club, Platypus, The Jelly Jam, Jughead, Transatlantic e Liquid Tension Experiment são exemplos de como a mistura dá certo. Mesmo com um ótimo leque de opções, ainda há como gerar enorme expectativa nos fãs. Não foi diferente quando, no fim de 2002, Jim Matheos (guitarrista do Fates Warning), Kevin Moore (tecladista do Chroma Key e ex-Dream Theater) e Mike Portnoy (baterista do Dream Theater) anunciaram que haviam juntado forças no estúdio. O time ainda ganhou o talento do ótimo baixista Sean Malone (Gordian Knot) e a participação especial do vocalista Steve Wilson (Porcupine Tree). O nome da seleção? OSI.
Músicos de talento inquestionável, certeza de encontrar um público cativo nos fãs das bandas envolvidas. Mas o álbum de estréia, Office of Strategic Influence, muito provavelmente deve ter deixado muitos deles falando “nossa, que disco esquisito!”. Quem esperava um crossover entre Transatlantic e Liquid Tension Experience deu com os burros n’água. Em comum, apenas a veia progressiva, mas não espere encontrar solos de guitarra e teclado. São tão raros que você nem lembra que ouviu. Também não há passagens de virtuosismo explícito, pois o negócio são as viagens e os pequenos detalhes em todas as músicas. Ah, sim! As influências de Pink Floyd estão sempre presentes… E também por isso Office of Strategic Influence é genial!
Com Matheos e Moore assinando todas as faixas – à exceção, claro, dos covers presentes no CD bônus –, não dava para esperar menos que isso. Hello, Helicopter!, Memory Daydreams Lapses, Horseshoes and B-52’s e a belíssima Dirt from a Holy Place trazem todos os elementos mencionados, com melodias esquisitas, simples ou complexas. Só elas já valeriam o álbum, mas tudo fica mais bonito com o que está por vir. The New Math (What He Said), a faixa que abre o disco, lembra One e Pieces of Me, do último trabalho do Fates Warning, o excepcional Disconnected (2000); When You’re Ready é puro Floyd da época Waters/Gilmour; e ShutDOWN, com Wilson nos vocais, é uma prova da incrível parede de riffs criada pelo guitarrista, que aqui não escondeu ter decorado a cartilha de Tony Iommi.
Fora ShutDOWN, Moore faz as vezes de vocalista e consegue um ótimo resultado, sempre com interpretações calmas que encaixaram perfeitamente nas músicas. As provas estão em OSI, na excelente Head e em Standby (Looks Like Rain), na qual se ratifica o perfeito entrosamento com Matheos. Como compositor, este é o responsável direto pelo posto do Fates Warning: o de melhor grupo de progressive metal da atualidade. Office of Strategic Influence acaba sendo uma continuação de seu trabalho com Ray Alder (vocal), Mark Zonder (bateria), Joey Vera (baixo) e o próprio Moore, que desde 1997 participa da banda como músico de estúdio. Presente na edição dupla e limitada do álbum, The Thing That Never Was é uma obra-prima de quase 14 minutos, ofuscando até mesmo as versões para Set the Controls for the Heart of the Sun (Pink Floyd) e New Mama (Neil Young).
Bom, eu não me esqueci de Mike Portnoy, ainda mais porque há o que falar além do chavão “talento diretamente proporcional ao tamanho do ego”. Em sua performance mais contida em muito anos, consegue resultados melhores que no último trabalho do Dream Theater, o irregular Six Degrees of Inner Turbulence (2002). Não existem presepadas de quem escreve “lead drums” na ficha técnica de um encarte de CD, mas uma atuação detalhista, precisa e, consequentemente, impressionante. Mais um ponto para Moore e Matheos, que sabem se comportar quando são os donos da bola.
Resenha publicada na edição 92 do International Magazine, em abril de 2003.