Ozzy Osbourne – Black Rain

Epic | Importado | 2007

Foto: Divulgação

Ozzy Osbourne – Black Rain

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Seis anos separam Black Rain do disco anterior de inéditas de Ozzy Osbourne, Down to Earth (2001). Mas o Madman se manteve na ativa durante este hiato não apenas com o reality show “The Osbournes”, que começou com episódios de chorar de rir e terminou de maneira patética, muito graças ao modo como a filha Kelly, desprovida de talento, se relacionava com o pai. Musicalmente, o ao vivo Live at Budokan (2002), a caixa com quatro CDs Prince of Darkness (2005) e o álbum de regravações Under Cover (2005) mantiveram o nome de Ozzy nas manchetes. No entanto, nada muito significante.

O novo disco, então, deveria ser o que os fãs estavam esperando há tanto tempo, principalmente porque Zakk Wylde, que ficou fora do processo criativo no trabalho anterior, acumulou as seis cordas com o posto de compositor. Mas é o produtor Kevin Churko quem assina todas as faixas ao lado do veterano vocalista, uma vez que Wylde não tem participação em duas canções, The Almighty Dollar e Trap Door Nada que fizesse o guitarrista soltar o verbo, como fez publicamente ao dizer que não entendia por que o chefão havia trabalhado com o líder do Foo Fighters, Dave Grohl, no processo de composição do disco anterior – e ele não foi necessariamente diplomático em suas declarações. Enfim, Black Rain não apresenta nada diferente do que vem sendo feito por Ozzy nos últimos anos. Pior: a única mudança assustou os fãs.


Black Rain é um disco moderno. Não que chegue a ser uma tentativa de soar igual a bandas como Korn e Linkin Park, ainda mais agora que, felizmente, o tnew metal não tem metade da força de alguns anos atrás. Só que a sensação de estranheza toma conta do ouvinte em músicas como Not Going Away, I Don’t Wanna Stop, The Almighty Dollar e Civilize the Universe. As duas primeiras, sejamos sinceros, empolgam em seus refrãos e numa atuação soberba de Wylde – sim, o cara ainda reina como o melhor guitarrista de heavy metal da atualidade. Riffs poderosos e solos espetaculares (no caso de I Don’t Wanna Stop, com uma pitada de Eddie Van Halen) estão espelhados em (quase) todo o CD. Só que, guitarras à parte, as canções trazem nas letras aquele papo chato de vocês-não-podem-me-julgar e ainda-vou-ficar-por-aqui-durante-muito-tempo. Já deu.

E também não é toda hora que Ozzy acerta nas baladas. Revelation (Mother Earth), Goodbye to Romance e Mama, I’m Coming Home se tornaram clássicos, mas lá se vai pelo menos uma década e meia desde que foram compostas. Lay Your World on Me e Here for You – no fim das contas, as duas são uma ode à esposa, Sharon – não convencem. Na verdade, são bregas até dizer chega. Mas é claro que nem tudo é de se jogar fora, como a faixa-título (com um fim meio Children of the Grave) e, principalmente, as duas canções que encerram o CD. Countdown’s Begun e Trap Door lembram o velho Ozzy, com a segunda chegando a remeter ao excelente The Ultimate Sin (1986).

As duas músicas, na verdade, encerram Black Rain no Brasil, Estados Unidos e Europa. O Japão, obviamente, ganhou duas faixas bônus, e elas são espetaculares. I Can’t Save You é rock pesado de primeira, empolgante e levada pela guitarra, enquanto Nightmare caberia muito bem em Diary of a Madman (1981). Sem exageros, uma das melhores composições de Ozzy nos últimos 25 anos. Para quem tem um graninha sobrando, vale o investimento.


Resenha publicada na edição 135 do International Magazine, em agosto de 2007