Ozzy Osbourne – The Essential

Sony Music | Nacional | 2003

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Ozzy Osbourne – The Essential

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Ozzy Osbourne virou uma celebridade além das fronteiras do heavy metal. Apesar de o reality show “The Osbournes” já não ser mais tão engraçado – afinal, é hilário ou deprimente ver Kelly Osbourne ter ataque de estrelismo e humilhar o pai em frente às câmeras? –, o vocalista está a todo o momento nas manchetes. Jantar com George W. Bush na Casa Branca; convite ao príncipe William para se hospedar na casa da família em Los Angeles, quando o herdeiro do trono inglês estiver nos EUA; a troca de baixistas (Robert Trujillo indo para o Metallica e deixando o posto para Jason Newsted, ex-Metallica); regravação de um clássico do Black Sabbath, Changes, em dueto com a filha mais nova, que aproveitou para pegar uma carona e fazer a abertura das apresentações no Reino Unido; a nova edição do Ozzfest, incluindo alguns shows no festival cancelados por causa de uma laringite; e, finalmente, a razão principal desta linhas: a coletânea dupla The Essential Ozzy Osbourne.


O CD nada mais é do que um registro do fim da festa no relacionamento com a Sony Music, gravadora com a qual Ozzy estava há 20 anos. A rescisão do contrato, em maio, encontrou razão na saída do presidente Tommy Mottola no início do ano, mas para muitos o real motivo foi outro: a decisão única e exclusiva da esposa de Ozzy, Sharon, muito puta da vida com a demissão de Kelly por causa da baixa vendagem (menos de 150 mil cópias) de seu disco de estréia, Shut Up (2002), lançado pela subsidiária Epic Records. Verdade ou mentira, a impressão que dá é que The Essential Ozzy Osbourne foi a resposta da Sony, já que só serve mesmo para quem conhece pouco ou nada da carreira solo do vocalista. Bom, talvez para algum colecionador extremado.

Você conhece algum best of ou greatest hits que tenha agradado aos fãs? Sim, é a velha história, mas aqui a coisa é pior, e o dedo tem de ir direto na ferida: não há uma música sequer de The Ultimate Sin (1986). Nada, nem a canção que dá nome ao disco, nem o hit Shot in the Dark ou mesmo Killer of Giants e a brilhante performance de Jake E. Lee (tudo bem, Bark at the Moon é presença obrigatória, e nela Lee fez um dos solos mais bonitos da história do rock pesado). Nem mesmo na discografia apresentada no encarte o trabalho foi incluído. Por quê? Perguntas para Sharon, Michael Guarracino e Bruce Dickinson (não, não é o vocalista do Iron Maiden), responsáveis pela compilação.


Necessário também questionar por que o irregular No Rest for the Wicked (1988) cedeu quatro canções. Foi o trabalho de estréia de Zakk Wylde, mas apenas Miracle Man (uma “homenagem” ao então pastor Jimmy Swegart, flagrado com uma prostituta num motel americano barato) e Crazy Babies se justificam. A partir daí, no entanto, a coisa até melhora um pouco. De No More Tears (1991) temos Mama, I’m Coming Home, Desire, I Don’t Want to Change the World (ao vivo, versão do Live & Loud, 1993), a espetacular faixa-título e mais um pouco; e Bark at the Moon (1984), Ozzmosis (1995) e Down to Earth (2001) ficam devendo apenas uma música cada: as ótimas Centre of the Eternity, My Jekyll Doesn’t Hide e That I Never Had, respectivamente. Todas deveriam estar na compilação.

Por último e mais importante, o início de tudo. A obra-prima Blizzard of Ozz (1980) e Diary Madman (1981), os dois primeiros discos de Ozzy, sofreram um bom trabalho arqueológico e são responsáveis por um dos clichês mais deliciosos da música: falar do saudoso Randy Rhoads, gênio das seis cordas e uma das maiores perdas do rock. Crazy Train, Flying High Again, Over the Mountain e I Don’t Know – versão ao vivo retirada de Tribute, lançado em 1987 e de onde saiu também Paranoid, a única do Sabbath na coletânea – são de arrepiar, mas a balada Goodbye to Romance e Mr. Crowley vão além. Duas décadas se passaram, mas é impossível não se emocionar com o feeling contido na primeira e os dois solos da segunda, gravados de improviso e no primeiro take. No fim das contas, o mérito de The Essential Ozzy Osbourne é fazer com que a garotada transforme a curiosidade em mais dois CDs na estante, a dobradinha do início de carreira do Madman. Se for assim, intencionalmente ou não, o dever estará cumprido.


Resenha publicada na edição 95 do International Magazine, em agosto de 2003.