Queensrÿche – Tribe

Sanctuary | Importado | 2003

Foto: Divulgação

Queensrÿche – Tribe

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação e Queensrÿche Online Campaign (2003)

Não é de hoje que o Queensrÿche carrega a frase “previsivelmente imprevisível”. Independentemente da repercussão de um álbum, o trabalho seguinte nunca seguia a mesma fórmula. Foi assim que a banda conquistou o respeito de críticos e a admiração dos fãs, mas foi assim também que sua imagem ficou arranhada. A saída do guitarrista Chris DeGarmo, no início de 1998, fez com que o quinteto lançasse no ano seguinte seu disco mais aguardado, Q2k (1999). Pela curiosidade. Com Kelly Gray nas seis cordas, o resultado não foi muito diferente de Hear in the Now Frontier (1997), que tinha uma sonoridade mais simples em vez da sofisticação habitual. Ou seja, muitos fãs e boa parte da imprensa especializada continuaram insatisfeitos.

A história, no entanto, deve começar a mudar com Tribe, nono álbum de estúdio e o melhor desde Promised Land (1994). “Nós precisamos descobrir novamente como fazer um disco do Queensrÿche. Tivemos alguns momentos difíceis, problemas de comunicação que são naturais depois de 20 anos juntos”, diz Geoff Tate no press release. A mensagem do vocalista é simples: o clima interno não era bom. Gray havia sido demitido, e o relacionamento de Tate com os outros integrantes – Scott Rockenfield (bateria), Michael Wilton (guitarra) e Eddie Jackson (baixo) – não era mais o mesmo. A volta de DeGarmo era o pedaço do quebra-cabeça que estava faltando: principal compositor durante os 15 anos em que esteve na banda – principalmente depois de Empire (1990), para o qual Wilton já havia escrito menos –, no novo álbum ele escreveu três músicas (Falling Behind, The Art of Life e Doin’ Fine) e participou de outras duas (Open e Desert Dance).

Sim, a formação original compôs e gravou um disco para fazer as pazes com os mais turrões. Obviamente, o Queensrÿche não fez um novo Empire (1990) ou a segunda parte de Operation: Mindcrime (1988), mas Tribe só não é um disco para levantar e aplaudir por causa de Losing Myself, composta por Tate e o guitarrista Mike Stone, que está excursionando com o grupo – DeGarmo desistiu na última hora de cair na estrada para a turnê europeia e a bem-sucedida excursão com Fates Warning e Dream Theater nos EUA. As outras nove músicas são no mínimo suficientes para estampar no rosto um sorriso de felicidade.

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Press release
Press release
Foto de divulgação sem Chris DeGarmo (a imagem foi manipulada para apagar o guitarrista)
Anúncio oficial de Tribe
Contracapa de Open, primeiro single
Contracapa de Losing Myself, segundo single
Arte conceitual descartada
Arte conceitual descartada
Arte conceitual descartada
Arte conceitual descartada
Arte conceitual descartada
Arte conceitual descartada
Arte conceitual descartada
Arte conceitual descartada
Arte conceitual descartada
Wallpaper de divulgação
Wallpaper de divulgação
Wallpaper de divulgação
Wallpaper de divulgação
Wallpaper de divulgação
Wallpaper de divulgação
Wallpaper de divulgação
Pôster da turnê, mas com foto de 2001 (com Kelly Gray, cortado da imagem)

Open abre o disco (sem trocadilho, por favor) com riffs e refrão ótimos e uma aula vocal de Tate. A má impressão causada por Losing Myself vai por água abaixo com Desert Dance, uma das melhores do CD, com uma discreta e eficiente melodia árabe nas guitarras e um ótimo groove, cortesia dos mestres Rockenfield e Wilton. As excelentes Falling Behind e The Great Divide se dividem em momentos acústicos e arranjos muito bem cuidados, enquanto Rhythm of Hope é um momento de extremo bom gosto, espetacular com seu belíssimo arranjo de orquestra.

A ótima faixa-título traz o conceito lírico idealizado por Tate, que passou a questionar o mundo depois dos atentados de 11 de setembro, mas sem esbarrar no americanismo piegas. “Vejo os Estados Unidos se tornarem uma nação de ovelhas lideradas por uma mídia em forma de pastor. Culturalmente, estamos fechados dentro de uma caixa. Não temos ideia do que nos dizem para fazer, do que pensar, comprar, vestir, amar ou odiar. Tudo em nossas vidas está sujeito à manipulação, e o medo é a ferramenta mais poderosa que vem sendo usada”, afirma o vocalista, que nasceu na Alemanha e se mudou para os EUA aos três anos. “A maneira como o país respondeu ao que acontece ao redor do mundo me deixou frustrado. Talvez a evolução esteja além de nossa compreensão. Através de conflitos podemos adquirir experiência, mas também perder nossa autoestima e o que nos faz sentir bem. São aspectos da vida e da cultura que influenciaram as canções em Tribe.”

À exceção de Losing Myself e Desert Dance, todas as músicas versam sobre o assunto – “So are we standing at the great divide? Is there hope for America?”, canta Tate em The Great Divide – e apontam outro aspecto positivo de Tribe, já que as letras inteligentes deram lugar a temas vazios e decepcionantes em Q2k. Musicalmente, o disco encerra com uma trinca de respeito: Blood tem um trabalho impecável de Rockenfield; The Art of Life possui todo o clima de Promised Land, incluindo até mesmo um solo de sax; e a excelente Doin’ Fine nos brinda com uma melodia cativante e mensagem positiva – “We could all use a little sunshine, take the day off and smile (…) We’re looking at life from a different side, and I know that we’ll all be fine”. Mais do que um grande disco, Tribe é a prova de que o Queensrÿche ainda tem muito a oferecer.

Resenha publicada na edição 96 do International Magazine, em setembro de 2003.