Richie Kotzen – Slow

Yamaha Music | Importado | 2002

Foto: Divulgação

Richie Kotzen – Slow

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Richie Kotzen é um privilegiado. A afirmação pode parecer exagerada, mas isso apenas para quem não conhece o trabalho do guitarrista americano. Descoberto por Mike Varney (hoje um dos donos da Shrapnel Records) no fim dos anos 80, Kotzen era mais um entre os vários guitar heroes da época. Seu primeiro trabalho, homônimo e lançado em 1989, quando tinha 17 anos, não negava o caminho que todos trilhavam: música instrumental com doses maciças de virtuosismo.

Mas a escolha durou pouco. Não demorou para Kotzen assumir também o microfone e buscar outros caminhos, ou seja, desenvolveu um horizonte maior que seus contemporâneos e tornou-se um músico além das várias notas por segundo. Não foi por acaso que Stanley Clarke o convidou para integrar o Vertu – a versão 2000 do Return to Forever – e substituir ninguém menos que Al Di Meola.

Depois de um hiato de quase três anos, período em que esteve no Mr. Big, Kotzen lança seu 12º disco solo, Slow, e mais uma vez dá uma aula de bom gosto. E desta vez o guitarrista resolveu agradar a todos os fãs, mesclando o pop dos dois últimos e ótimos trabalhos – What Is… (1998) e Break it All Down (1999) – com a trinca rock/funk/soul de seus dois CDs mais aclamados – Mother Head’s Family Reunion (1994) e Wave of Emotion (1996).

Mesmo os mais turrões, aqueles que criticam a maior preocupação com as composições em vez do exibicionismo técnico, não terão do que reclamar. Para estes, Kotzen prova na autoexplicativa The Answer e no jazz rock Conflicted que é um dos guitarristas mais inspirados da atualidade. Mas não estão aí os grandes momentos do trabalho.

A bela balada Let’s Say Goodbye, o hit em potencial Don’t Wanna Lie e a sofisticação pop de Come Back (Swear to God) têm tudo para cair no gosto daqueles que adoram Lenny Kravitz, por exemplo. Irresistíveis também são os acentos funk rock das excelentes Scared of You, Gold Digger, Got it Bad, I Can Make You Happy e Rely on Me – notadamente na onda dos anos 70, de Jimi Hendrix (principalmente da fase Band of Gypsys) a Stevie Wonder (de Songs in the Key of Life), mas com sonoridade atual.

Totalmente tocado, composto e produzido por Kotzen, Slow chega no momento certo para comprovar a maturidade musical de um guitarrista de técnica apurada. Com o fim anunciado do Mr. Big, agora só falta que Kotzen consiga maior êxito comercial como artista solo fora do Japão e dos Estados Unidos, principalmente sendo reconhecido também como excelente vocalista e compositor. Talento para isso não falta, mesmo que este primordial fator nem sempre seja o suficiente.

Resenha publicada na edição 84 do International Magazine, em junho de 2002.