Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
Primeiro, a apresentação no Maracanã, no dia 23 de novembro, no encerramento da turnê do último disco de estúdio do trio canadense, Vapor Trails (2002). Um ano depois, chega às lojas o DVD duplo e o CD triplo Rush in Rio, com a íntegra do memorável show realizado para os fãs cariocas. O lançamento do novo trabalho ao vivo do Rush ganhou até mesmo um site para divulgação. Coisa fina.
Para não dizer que o DVD é a nata, a versão apenas em áudio traz duas músicas gravadas no início da turnê: Between Sun & Moon e Vital Signs, que no Brasil foram substituídas por The Trees e Freewill. O acréscimo não deixa de ser interessante, por dois motivos bem simples: Between Sun & Moon, do álbum Counterparts (1993), nunca havia sido tocada ao vivo até então, enquanto Vital Signs, do clássico Moving Pictures (1981), aparece pela primeira vez num registro ao vivo da banda.
Apresentadas as razões para o fã comprar também o CD, vamos ao indispensável DVD. A versão nacional não é digipack como a importada, mas é tão luxuosa quanto: tem sobrecapa e inclui um pôster de quatro dobras, com a capa do vídeo na frente e uma foto lateral do estádio pegando a pista completamente tomada. Claro, vale ressaltar que o capricho na edição brasileira inclui o livreto de 16 páginas com ficha técnica, fotos e um texto escrito por Neil Peart, no qual o batera esmiúça os seis meses de turnê, obviamente destacando os três shows no Brasil – além do Rio, o Rush tocou em Porto Alegre (20) e São Paulo (22).
Peart não esconde a surpresa com a popularidade da banda no país, onde o trio teve o maior público de sua carreira como headliner – 60.000 pessoas em São Paulo, além de 25.000 em Porto Alegre e 40.000 no Rio –, e fala aquilo que todos sabemos: quando quer, o público brasileiro faz parte do show como poucos. “Apenas escute os fãs cantarem nota por nota de YYZ, uma música instrumental, e você perceberá que não é uma audiência qualquer. Eles foram extraordinários, e nós dedicamos nosso show, antes e agora, a eles.” Nós também agradecemos, mas é mesmo emocionante ver tanta gente pulando em YYZ ou todos batendo palmas em The Spirit of Radio.
Independentemente da preferência por material mais antigo ou mais recente, foi assim em todo o show. Particularmente, foi realmente um sonho assistir a Lee, Lifeson e Peart desfilarem Tom Sawyer, The Trees, Free Will, Closer to the Heart, Limelight, La Villa Strangiato e The Spirit of Radio, entre outras, mas nada foi tão espetacular quanto 2112. Àquela altura a compostura já havia ido para o espaço, mas foi impossível segurar as lágrimas – sim, a compostura há muito já havia ido para o espaço, mesmo.
Os extras no segundo DVD não são apenas inevitáveis ao formato, mas aqui um grande complemento. A começar pelo recurso multiângulo em YYZ, La Villa Strangiato e O Baterista, o solo de Peart que ratifica o porquê de o batera ser hors-concours nas principais revistas especializadas em todo o mundo. Além de poder optar pela mesma edição do primeiro disco, você pode assistir às músicas acompanhando apenas um dos músicos – à exceção, claro, de O Baterista, em que há quatro ângulos diferentes de Peart.
O documentário “The Boys in Brazil”, dirigido por Andrew MacNaughtan, apresenta em 55 minutos o humor de Lifeson, a seriedade e o profissionalismo do trio, vários trechos dos shows e ainda abre espaço para os fãs realmente enaltecerem o Rush. Dos anônimos aos famosos, como Andreas Kisser, Paulo Jr. e Derrick Green – guitarrista, baixista e vocalista do Sepultura, respectivamente. Falar demais acaba estragando, então assista a “The Boys in Brazil” com prazer.
Em tempo: vale a pena dar uma força e mostrar como se faz para liberar os “easter eggs”. Para ver a animação “By Tour”, de pouco mais de dois minutos, pressione [enter] ou [OK] no controle remoto aos 26 minutos e 40 segundos do documentário, quando Lifeson fala que o grupo parou de tocar By-Tor and the Snow Dog no fim da década de 70. Para ter acesso ao vídeo do grupo tocando Anthem em 1975, volte ao menu do segundo DVD e digite no controle a sequência [2]+[enter]+[1]+[enter]+[1]+[enter]+[2]+[enter], podendo trocar [enter] por [OK]. Bom divertimento.
Resenha publicada na edição 99 do International Magazine, em dezembro de 2003.