Accept

Teatro Rival – Rio de Janeiro/RJ – 11/11/2017

Foto: Daniel Croce

Accept

Texto: Daniel Dutra | Fotos: Daniel Croce

Quem é heavy curte Accept, disse uma vez o sábio. E quem é heavy não vai encontrar em lugar algum do planeta um show de metal melhor que o da banda alemã. Entra ano e sai ano – foi a terceira apresentação do quinteto no Rio de Janeiro desde 2015 –, Mark Tornillo (vocal), Wolf Hoffmann e Uwe Lulis (guitarras), Peter Baltes (baixo) e Christopher Williams (bateria) não deixam espaço para qualquer dúvida. Felizes daqueles que foram ao Teatro Rival numa chuvosa noite de sábado para assistir a mais uma aula de heavy metal – e vergonha de quem preferiu ficar em casa porque já viu ou porque poderá ver de novo. Ajoelhe no milho, clame por uma surra de cipó de goiaba e arrependa-se de seu pecado.

Exatamente às 21h30, a poderosa Die By the Sword deu início aos trabalhos e mostrou que nem mesmo o pequeno palco da casa, cujo espaço ficou ainda mais reduzido graças ao belo cenário (ponto para a banda), atrapalharia a energética movimentação dos músicos e suas coreografias em momentos estratégicos (mais um ponto para a banda) – e vamos deixar registrado: é simplesmente sensacional a interação entre Hoffman e Baltes. Faixa de abertura do novo álbum, The Rise of Chaos (2017), a canção tinha o refrão na ponta da língua dos fãs, que em seguida encheram o teatro com o empolgante coro para acompanhar a melodia da excelente Stalingrad.

Duas músicas dos quatro álbuns com Tornillo – foram dez num set de 21 – para mostrar que basta continuar lançando ótimos discos para que eventualmente algumas se tornem clássicas. Então, novo ponto para a banda, porque desde o retorno com a obra-prima Blood of the Nations (2010) o Accept vem soltando uma pérola atrás da outra. Uma lição para muito grupo que fez fama e deitou na cama, e Restless and Wild (de tirar o fôlego), London Leatherboys (que som sensacional Baltes tira do seu baixo) e Living for Tonite (até agora com o refrão na cabeça) mostraram na prática a beleza da convivência do novo com o antigo.

E o novo voltou a fazer bonito numa sequência de seis canções, sendo as quatro primeiras do trabalho mais recente. Beneficiadas pela divulgação prévia ao lançamento do álbum, The Rise of Chaos e Koolaid foram recebidas com entusiasmo; No Regrets ajudou a machucar pescoços; e a maravilhosa Analog Man aos poucos colocou os fãs para cantar, por ser pura e simplesmente irresistível. Por outro lado, Final Journey, de Blind Rage (2014), e Shadow Soldiers, de Stalingrad (2012), comprovaram o status de velhas-novas conhecidas.

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O curto solo de Hoffman serviu para o guitarrista mostrar sua paixão por música erudita ao tocar trechos de algumas peças, com destaque para a centenária In the Hall of the Mountain King, de Edvard Grieg, acompanhada em uníssono por centenas de vozes. Uma abertura de luxo para Neon Nights, cujo encerramento com pinta de jam muito bem ensaiada foi de tirar o fôlego. Princess of the Dawn (até os garçons da casa cantaram), Midnight Mover (o Accept mostrando também como se faz hard rock) e Up to the Limit deixaram o local em ebulição para o rolo-compressor Objection Overruled, uma agradável e muito bem-vinda adição ao repertório, enriquecida pelo duelo entre Baltes e Hoffman. Lembra-se da interação entre os dois? É isso, meu amigo.

Clássico instantâneo da nova fase da banda – com espírito captado perfeitamente por Lulis, que interage a todo instante com os fãs, e Williams, que toca com estilo e elegância de dar gosto –, Pandemic só não foi um arregaço maior porque o que estava por vir foi covardia. A começar pela destruidora Fast as a Shark… Preciso falar da reação dos fãs? De como cantaram a musiquinha da introdução? Creio que não. Mas o bis, aquele bis que vai do protocolar à catarse… Sim, foi isso mesmo o que aconteceu.

Faltou apenas Tornillo soltar um “tirem os pés do chão”, mas, a bem da verdade, não precisaria. O pula-pula foi garantido em Metal Heart, Teutonic Terror e Balls to the Wall, uma trinca matadora para fechar em altíssimo nível uma apresentação de duas horas com, vale ressaltar, um som impecável. E, mais uma vez, com o novo e o antigo de mãos dadas no caminho que descamba no clássico, porque Teutonic Terror causou a comoção de músicas decanas e foi o recheio perfeito para dois hinos do heavy metal (e seus coros para deixar o fã rouco). Porque, meu amigo, quem é heavy curte Accept. Simples assim, de verdade.

Clique aqui para acessar a resenha no site da Roadie Crew.

Set list
1. Die By the Sword
2. Stalingrad
3. Restless and Wild
4. London Leatherboys
5. Living for Tonite
6. The Rise of Chaos
7. Koolaid
8. No Regrets
9. Analog Man
10. Final Journey
11. Shadow Soldiers
12. Neon Nights
13. Princess of the Dawn
14. Midnight Mover
15. Up to the Limit
16. Objection Overruled
17. Pandemic
18. Fast as a Shark
Bis
19. Metal Heart
20. Teutonic Terror
21. Balls to the Wall