Helloween

Canecão – Rio de Janeiro/RJ – 16/09/2003

Foto: Cortesia/Century Media Brasil

Helloween

Por Daniel Dutra | Fotos: Cortesia/Century Media Brasil

Se você leu até o fim a resenha do novo CD do Helloween, Rabbit Don’t Come Easy, e a entrevista com o vocalista Andi Deris, eu diria que elas talvez não tenham sido decisivas para que alguém comparecesse ao Canecão no último dia 16 de setembro. Afinal, não apenas era uma chuvosa terça-feira, mas na mesma noite o Deep Purple se apresentava no ATL Hall, na Barra da Tijuca. Não dá para medir a divisão, mas existe um óbvio ponto de interseção entre os dois públicos. No entanto, quem é fã da banda alemã tinha a obrigação de estar em Botafogo.

Se as duas primeiras passagens do grupo pelo Brasil – em 1996, no Monsters of Rock, e em 1998, abrindo para o Iron Maiden – serviram apenas o aperitivo para os shows como headliner em 2001, ainda assim ficou faltando algo. Nada como uma mexida, portanto, para gerar expectativa. Com Sascha Gerstner (guitarra) e Stefan Schwarzmann (bateria) nos lugares de Roland Grapow e Uli Kusch, respectivamente, e um excelente CD nas lojas, o Helloween começou sua turnê mundial no Brasil e deu aos fãs um presente melhor que o esperado.

Não faltaram surpresas num Canecão que recebeu um bom público – 1.600 pessoas, segundo a produção. O início da apresentação foi uma viagem no túnel do tempo, rumo ao passado de onde a banda garimpou Starlight e Murderer, músicas do primeiro trabalho dos alemães, o miniálbum intitulado simplesmente Helloween (1985). Enquanto os fãs mais novos, muitos deles que conheceram o grupo já com Deris, não entendiam o que estava acontecendo, os mais antigos eram uma mistura de felicidade e incredulidade.

O que veio a seguir, então, foi uma tremenda covardia. Quando Deris anunciou “uma música do Keepers parte dois”, quem poderia imaginar que seria Keeper of the Seven Keys? Houve quem falasse “eu pensei que iria morrer sem assistir à banda tocá-la ao vivo”, e talvez seja esta a melhor maneira de definir o que foi a obra-prima de 13 minutos de duração, uma das canções clássicas e mais bonitas do heavy metal em todos os tempos. Sem tempo para recuperar o fôlego, as obrigatórias Future World e Eagle Fly Free colocaram a casa abaixo. Pronto, o primeiro tempo nem tinha chegado ao fim e a partida já estava vencida por goleada.

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O material mais recente veio na forma de Hey Lord!, I Can e a balada Forever and One, provando definitivamente que o set list havia sofrido uma reformulação e tanto. Claro, Dr. Stein não poderia ficar fora, mas daí para frente continuava uma surpresa atrás da outra. O novo álbum cedeu Open Your Life, Back Against the Wall e Sun 4 the World – todas ótimas, principalmente a primeira –, mas Just a Little Sign (retirada do repertório na última hora) e Listen to the Flies fizeram falta. Como nem tudo são flores, a decepção ficou por conta Schwarzmann, inegavelmente um bom batera, mas que passou longe de muitos licks dos excepcionais Uli Kusch e Mikkey Dee (que gravou Rabbit Don’t Come Easy como músico convidado).

Apesar das espetaculares Sole Survivor e Where the Rain Grows, em que o trabalho primoroso de Kusch ficou no CD, ficou a impressão de que foram escolhidas as músicas mais fáceis da época do ex-baterista (obviamente, nenhuma composição de Grapow foi apresentada). Rabugice à parte, nada que tenha atrapalhado, afinal, mesmo Michael Weikath (guitarrista e líder) estava bem mais solto, e o baixista Markus Grosskopf continua se divertindo como nunca no palco, espaço comandado com maestria por Deris, ótimo vocalista (sim, senhor!) e um frontman como poucos no heavy metal. E como reclamar de uma apresentação dos inventores de um estilo (o restante do metal melódico é conversa para boi dormir) que teve a apoteose de Power e fechou com How Many Tears? Sorte de quem presenciou.

Resenha publicada na edição 98 do International Magazine, em novembro de 2003.