Nightwish

ATL Hall – Rio de Janeiro/RJ – 28/07/2002

Foto: Mario Alberto

Nightwish

Por Daniel Dutra | Fotos: Mario Alberto

Noite de domingo, fim de mês e o ATL Hall abria suas portas para o Nightwish, banda finlandesa da nova geração do heavy metal. Ingredientes mais do que suficientes para um fracasso de público. Ledo engano. Sem querer descobrir de onde os pais tiraram dinheiro para bancar os ingressos da grande quantidade de adolescentes, 4.500 pessoas compareceram à principal casa de espetáculos do Rio de Janeiro, que, diga-se de passagem, reduziu sua capacidade para sete mil.

Como explicar? Simples. Uma semana antes, 2.500 fãs pagaram para assistir ao show do Angra no “longínquo” Campo Grande, bairro da Zona Oeste da cidade. Um mês depois, um Canecão lotado para o Blind Guardian, banda alemã que já fizera uma turnê bem-sucedida no Brasil anos atrás. Há gosto para tudo, e a história se repete no restante do país.

Antes de o Nightwish subir ao palco, o público teve a oportunidade de conhecer mais um representante do metal nacional, o Glory Opera, oriundo de Manaus. Músicos competentes e música sem inspiração e identidade própria. Não bastasse o vocalista Humberto Sobrinho dar as boas-vindas e se despedir com um daqueles agudinhos em busca do nota mais alta possível, o grupo ainda tem muito o que amadurecer, deixando de soar como um pastiche das bandas do metal melódico contemporâneo. Méritos apenas por fugir do lugar-comum dos covers, escolhendo um do Angra e outro do Symphony X, enquanto todos esperavam Helloween ou Iron Maiden.

E vamos ao Nightwish, ou melhor, à vocalista Tarja Turunen, pois o show foi dela. Da primeira, Bless the Child, à última música do bis, Wishmaster, não houve nada que pudesse ofuscá-la. Simpática, comandando o público com o gesto mais simples, Tarja ainda se sobressai por ser uma vocalista excepcional. Melhor ainda que, assim como fez no último álbum da banda, o bom Century Child, seus vocais líricos tenham dado lugar a interpretações mais diretas.

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Com a banda sendo absolutamente dependente de Tarja, que os fãs torçam para que sejam mesmo apenas boatos as histórias de que ela sairá do Nightwish ao fim da turnê. É por causa da vocalista que músicas como Come Cover Me, Dead to the World, a ótima Slaying the Dreamer (a melhor de Century Child), Over the Hill and Far Away (cover de Gary Moore) e a bela Sleeping Sun ficam bem interessantes ao vivo. A bem da verdade, o grupo ganhou muito com a entrada do baixista Marco Hietala (ex-Synergy), que tem boa presença de palco e deu vida às partes vocais masculinas, e o restante ainda fica atrás da dupla.

Nem mesmo Crazy Train, música de Ozzy Osbourne que costuma levantar até defunto, funcionou bem. Apesar do esforço de Hietala nos vocais, não deu para se entusiasmar com o guitarrista Emppu Vuorinem. Sem falar em Jukka Nevalainen, baterista que sofre de uma irritante falta de criatividade, e de Tuomas Holopainen, tecladista e principal compositor. Ao descobrir a fórmula sinfônico + lírico, Holopainen passou a aproveitar o momento: ganha algum dinheiro e nem se preocupa em mostrar que sabe tocar. Passa o show inteiro balançando os cabelos, usando sequenciadores e, pasmem!, samplers nas partes em que há os (raros) solos.

Apesar do show apenas correto e que não chegou a empolgar – para os fãs, claro, um pouco mais que isso –, a apresentação do Nightwish provou mesmo que o heavy metal tem um sem número de vidas. Sendo óbvio, caso não tenha sido bem explicado parágrafos acima, o rock pesado não morre enquanto houver adolescentes no mundo. Assim sendo, preconceitos injustificados à parte, difícil encontrar um estilo em que o público não apenas cresça com regularidade, mas se renove com tanta facilidade.

Resenha publicada na edição 87 do International Magazine, em setembro de 2002.